Comento hoje "Pathogenesis", de Jonathan Kennedy. Embora o título evoque um aborrecido compêndio médico, trata-se de um fascinante livro de história. A tese de Kennedy é simples. Diferentemente do que sugeriu Carlyle, não são as ações de "grandes homens", como Maomé e Napoleão, que melhor explicam os rumos da história, mas as intervenções de agentes bem mais modestos, os germes patogênicos.
Ao longo de oito capítulos, o autor recorre às doenças transmissíveis para iluminar grandes transições. Ele começa no começo, isto é, no Paleolítico. Para Kennedy, é provável que sejam os patógenos que o Homo sapiens levou da África, cujo clima mais quente favorecia a proliferação de vírus e bactérias, para a Europa os responsáveis pela extinção do homem de Neanderthal e outros hominínios. É especulativo, mas faz sentido, especialmente quando se considera que os neandertais também dispunham de pensamento simbólico, característica que já julgamos exclusiva de nossa espécie.
Segundo o autor, não foram as formidáveis legiões as principais linhas de defesa de Roma contra os invasores bárbaros. Quem desempenhou esse papel foram diarreias variadas e a malária. A cidade mais prodigiosa do Universo estava tomada por essas pragas. Qualquer romano que tivesse sobrevivido à infância tinha defesas pelo menos parciais contra elas, mas os bárbaros, não. É nessa toada que Kennedy visita fenômenos como a expansão do islamismo, a passagem do feudalismo para o capitalismo, a escravização dos africanos e o colonialismo.
Sempre que autores trazem uma nova ordem de explicação para fenômenos tão díspares, correm o risco de superestimar a força de suas premissas. Não penso que Kennedy esteja imune a esse efeito. Mas ele traz, com graus variados de apoio fático, hipóteses que merecem reflexão e, ainda que com algum desconto, podem ser incorporadas a nosso entendimento de grandes eventos da história.
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