domingo, 8 de março de 2020

O Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago nos dias de hoje: o pior cego é aquele que não quer ver, Greenme


Que José Saramago é um dos maiores escritores da língua portuguesa não há dúvida: um inovador em estilo, forma e conteúdo, razão pela qual ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1998.
Seus livros – como qualquer clássico – seguem sendo atuais, contemporâneos. Um deles é “Ensaio sobre a Cegueira”, que acabou ganhando uma adaptação para as telas de cinema pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles, sendo estrelado por Julianne Moore.
Escrito em 1995, trata-se de um romance que narra uma epidemia de cegueira que se espalha entre os habitantes de uma cidade, provocando um colapso social.
Segundo o autor:
“Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso”.
Há quem diga que Saramago é um pessimista. Pode ser que ele tenha sido mesmo. Ou, então, ele apenas colocou de forma crua algo que é evidente, mas que todos se negam a ver. Ou, como disse Woody Allen em uma recente entrevista a El Pais:
O pessimismo e o realismo são a mesma coisa. Sou muito pessimista, sobre o mundo, sobre o futuro, sobre a sociedade, sobre a existência…, mas de verdade acho que é assim que o mundo é, então creio que sou realista. Não há outro remédio a não ser fazer uma avaliação pessimista do mundo. Não posso fazer nada a respeito. Honestamente, não resta outro remédio além de sermos pessimistas”.

Por que estamos cegos?

Em “Ensaio sobre a cegueira” uma história aparentemente banal ganha corpo: a de um homem em sua rotina, dentro de seu carro, que tem um ataque de cegueira. Várias pessoas o socorrem e uma “contaminação” de cegueira se espalha – uma cegueira de aspecto leitoso, branca, desconhecida.
Já instalado o pânico, o governo age colocando os infectados pela epidemia em uma quarentena, isolados do convívio social. Entretanto, a epidemia é forte demais e segue alastrando-se.
Mas uma mulher consegue salvar-se dela. Sozinha, ela testemunha os horrores que os seus olhos veem e os sentimentos que tocam aqueles que estão contaminados: desejo, vergonha, ganância, obediência, etc.
As reações advindas desses sentimentos se materializam entre aqueles que estão na quarentena, como disputas por comida, compaixão pelos enfermos, crianças e idosos, atos violentos de toda sorte.
A obra mostra como as pessoas podem reagir ante o caos, o desespero, o abandono, a impotência, levando-nos a refletir sobre qual é o fio invisível que tece o manto da civilidade e dos valores morais que nos une.
Saramago nos instiga a recuperar a luz, a lucidez, como analogia à nossa (in) capacidade de desenvolver o afeto e a empatia.

Alguma semelhança com o mundo atual?

Alguém está comovido pela morte de milhares de jovens negros no Brasil, com o extermínio dos povos indígenas, com o assassinato de Ághata e Marielle, das mulheres vítimas de feminicídio, da vendedora ambulante Josefa Severina de Souza, que, como tantos outros brasileiros, (sobre) vive com R$ 413 por mês?
Quais são as ações reais que tornam invisíveis essas vidas, suas histórias, seus laços e rastros, deixando-nos cegos diante delas? Como a cegueira nos tomou a ponto de defendermos atitudes e crenças que nos retiram o manto da civilidade? Ou será que ele jamais chegou a nos cobrir?
Em uma entrevista ao Congresso em Foco, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) foi questionado sobre o debate que ele teve com a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP), o que provocou uma chuva de críticas sobre ambos. Freixo respondeu:
“O que me estranhou não foi ter feito um debate com uma pessoa que pensa diferente. Mas muita gente ter criticado essa disposição para debater. Me parece óbvio que eu consiga sentar com uma pessoa que pensa diferente e conversar. Janaína Paschoal é uma deputada estadual. Aliás, muito bem votada. Ela tem legitimidade. Eu não concordo com muita coisa que ela pensa. Quase tudo. Mas eu preciso ser capaz de conversar com ela, de dialogar. Eu tenho um respeito muito profundo pela democracia. E respeito pela democracia não pode ser a reafirmação apenas do que eu penso”.
Freixo ainda arremata: “A gente está inaugurando um tempo muito perigoso, meio areia movediça. A verdade que podia ser é o que você quer que seja verdade”.
Ser cego não significa que você não possa ver. Dizem, aliás, que os cegos ampliam outas capacidades de perceber o mundo, vendo-o com outros olhos, às vezes, até melhor do que com os olhos apenas.
Já a cegueira seria de outra ordem, como um tipo de perturbação ou desvario que nos anestesia.
“Por que cegamos, não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que vêem, cegos que vendo, não vêem”.
(José Saramago)

05.03.20 | Artigo: Fome de energia, OESP


Fonte: Estadão.com - 05.03.2020

Por Guy Perelmuter

São Paulo - De acordo com dados da International Energy Agency (IEA, ou Agência Internacional de Energia), em 2014, todos os data centers do mundo consumiram cerca de 194 terawatts-hora (TWh), ou aproximadamente 0,9% do consumo global (para se ter uma ideia da magnitude deste número, países como a Turquia ou a África do Sul consomem cerca de 200 TWh por ano). Já as redes de dados consumiram 185 TWh (cerca de 65% pelas redes sem fio), e seu consumo pode explodir para 320 TWh até 2021 ou cair para 160 TWh no mesmo período, dependendo da implementação nos processos de transmissão e recepção de dados. Em geral, a comunicação sem fio é mais cara em termos elétricos que a comunicação com fio (mas cada geração tem reduzido essa diferença).

Uma aproximação razoável do consumo global de energia elétrica no final da década de 2010 é de algo como 20.000 TWh, sendo que de uma lista de mais de duzentos países, os dois primeiros – China e Estados Unidos, respectivamente – são responsáveis por quase metade desse valor. Tecnologias de informação e comunicação ficam com cerca de 10% desta conta, ou 2.000 TWh, e, como já vimos, os data centers, por sua vez, ficam com 1% do total, ou 200 TWh. Estima-se que 0,1% fique com a estrutura de mineração de criptomoedas, embora esse número provavelmente seja bastante volátil, flutuando com o interesse (e o preço) dessas moedas.

Uma das características mais interessantes da tecnologia de forma geral é que, salvo exceções ocasionais, a “próxima versão” – seja ela uma simples melhoria ou um upgrade de grandes proporções – costuma trazer avanços em relação à versão anterior, enquanto, simultaneamente, traz problemas antes inexistentes. A substituição do transporte animal pelos automóveis, por exemplo, permitiu que chegássemos mais rapidamente de um lugar até outro, mas criou problemas importantes de poluição devido ao uso de combustíveis fósseis.

Da mesma maneira, o uso de carros autônomos pode, teoricamente, reduzir de forma expressiva as emissões poluentes das frotas de veículos: isso porque não apenas é provável que carros, caminhões e ônibus (autônomos ou não) sejam eletrificados, como seu uso compartilhado e coordenado por algoritmos pode tornar os engarrafamentos uma coisa do passado. Em contrapartida, trabalho publicado em abril de 2016 pelos pesquisadores Zia Waduda (Universidade de Leeds, no Reino Unido), Don MacKenzie (Universidade de Washington, nos EUA) e Paul Leiby (Oak Ridge National Laboratory, Tennessee, Estados Unidos) prevê que existe o risco do aumento das viagens anularem os benefícios obtidos com a automação.

Outra área onde a tecnologia pode ajudar a aumentar significativamente a eficiência, reduzindo desperdícios e emissões nocivas ao meio ambiente, é na gestão de edifícios. Responsáveis por cerca de 60% do aumento da demanda global por eletricidade desde o final do século XX, sistemas de aquecimento e resfriamento inteligentes bem como o uso de sensores para monitoramento e controle podem gerar uma importante redução na demanda energética.

Mas o fato é que o crescimento do número de computadores, telefones, sensores e televisores não deve desacelerar por muito tempo. Um relatório publicado em 2015 por dois pesquisadores da multinacional chinesa de equipamentos e serviços de telecomunicações Huawei procurou estimar o impacto deste crescimento. No trabalho On Global Electricity Usage of Communication Technology: Trends to 2030 (algo como “Sobre o uso global de eletricidade na tecnologia de comunicação: tendências para 2030”), Anders Andrae e Tomas Edler estimaram não apenas o consumo dos data centers, mas também o custo energético da produção de equipamentos de comunicação, das redes de dados (com e sem fio) e dos dispositivos utilizados em nosso dia a dia (vamos chamar todos estes elementos de TIC - Tecnologia de Informação e Comunicação).

Segundo Andrae e Tomas, caso não ocorram melhorias de eficiência nas redes de dados e nos dispositivos (algo extremamente improvável), a TIC poderia consumir cerca de metade da eletricidade global em 2030. Sua expectativa é que esse número ficará em torno de 21%, sendo que, no melhor cenário, não deve passar dos 8%. Conscientes de seu impacto em relação ao meio ambiente pelo elevado consumo energético de suas atividades, quase metade das cinquenta maiores empresas de tecnologia por receita estabeleceram metas de utilização de energia renovável, sendo responsáveis por mais da metade do total de acordos de compra de energia renovável nos últimos três anos. É justamente do dramático impacto ambiental que nosso estilo de vida atual tem sobre o planeta que iremos falar na próxima coluna. Até lá.

Esta notícia não é de autoria do Procel Info, sendo assim, os créditos e responsabilidades sobre o seu conteúdo sã

PSDB avança sobre movimentos de renovação e o partido Novo em SP, OESP

Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo
08 de março de 2020 | 05h00


Com a decisão do partido Novo de lançar apenas 35 candidatos a prefeito em todo Brasil nas eleições de 2020, o PSDB paulista promoveu uma ofensiva para atrair lideranças da sigla que ficaram sem legenda para disputar prefeituras no interior de São Paulo
Pelos cálculos de dirigentes tucanos, o PSDB vai lançar pelo menos 20 candidaturas de nomes que ficaram sem legenda devido ao rigoroso processo de seleção da legenda fundada pelo ex-presidenciável João Amoedo. A estratégia desenhada pelo entorno do governador João Doria visa ainda a criar programas de formação política para rivalizar com grupos de renovação como o RenovaBR, que é ligado ao apresentador Luciano Huck
Marco Vinholi
O presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi, que é também secretário de Desenvolvimento Regional em SP  Foto: Felipe Rau/Estadão
“Apostamos em candidaturas de renovação, sem extremismo ideológico para exercer mandato”, disse o presidente estadual do PSDB e secretário de Desenvolvimento Regional do Estado, Marco Vinholi
Pelos cálculos da sigla, pelo menos mais dez pré-candidatos a prefeito do interior paulista que eram ligados a outros movimentos de renovação migraram para o PSDB para disputar as eleições municipais. 
“São quadros que já chegam com a alta qualificação técnica, justamente por já terem a experiência de ter atuado em grupos de renovação e que concordam com programa do PSDB”, disse o dirigente tucano.
O Novo cobra uma taxa de R$ 300 para os postulantes ao cargo de vereador e promove um processo seletivo.