Fonte: Estadão.com - 05.03.2020
|
Por Guy Perelmuter
São Paulo - De acordo com dados da International Energy Agency (IEA, ou Agência Internacional de Energia), em 2014, todos os data centers do mundo consumiram cerca de 194 terawatts-hora (TWh), ou aproximadamente 0,9% do consumo global (para se ter uma ideia da magnitude deste número, países como a Turquia ou a África do Sul consomem cerca de 200 TWh por ano). Já as redes de dados consumiram 185 TWh (cerca de 65% pelas redes sem fio), e seu consumo pode explodir para 320 TWh até 2021 ou cair para 160 TWh no mesmo período, dependendo da implementação nos processos de transmissão e recepção de dados. Em geral, a comunicação sem fio é mais cara em termos elétricos que a comunicação com fio (mas cada geração tem reduzido essa diferença). Uma aproximação razoável do consumo global de energia elétrica no final da década de 2010 é de algo como 20.000 TWh, sendo que de uma lista de mais de duzentos países, os dois primeiros – China e Estados Unidos, respectivamente – são responsáveis por quase metade desse valor. Tecnologias de informação e comunicação ficam com cerca de 10% desta conta, ou 2.000 TWh, e, como já vimos, os data centers, por sua vez, ficam com 1% do total, ou 200 TWh. Estima-se que 0,1% fique com a estrutura de mineração de criptomoedas, embora esse número provavelmente seja bastante volátil, flutuando com o interesse (e o preço) dessas moedas. Uma das características mais interessantes da tecnologia de forma geral é que, salvo exceções ocasionais, a “próxima versão” – seja ela uma simples melhoria ou um upgrade de grandes proporções – costuma trazer avanços em relação à versão anterior, enquanto, simultaneamente, traz problemas antes inexistentes. A substituição do transporte animal pelos automóveis, por exemplo, permitiu que chegássemos mais rapidamente de um lugar até outro, mas criou problemas importantes de poluição devido ao uso de combustíveis fósseis. Da mesma maneira, o uso de carros autônomos pode, teoricamente, reduzir de forma expressiva as emissões poluentes das frotas de veículos: isso porque não apenas é provável que carros, caminhões e ônibus (autônomos ou não) sejam eletrificados, como seu uso compartilhado e coordenado por algoritmos pode tornar os engarrafamentos uma coisa do passado. Em contrapartida, trabalho publicado em abril de 2016 pelos pesquisadores Zia Waduda (Universidade de Leeds, no Reino Unido), Don MacKenzie (Universidade de Washington, nos EUA) e Paul Leiby (Oak Ridge National Laboratory, Tennessee, Estados Unidos) prevê que existe o risco do aumento das viagens anularem os benefícios obtidos com a automação. Outra área onde a tecnologia pode ajudar a aumentar significativamente a eficiência, reduzindo desperdícios e emissões nocivas ao meio ambiente, é na gestão de edifícios. Responsáveis por cerca de 60% do aumento da demanda global por eletricidade desde o final do século XX, sistemas de aquecimento e resfriamento inteligentes bem como o uso de sensores para monitoramento e controle podem gerar uma importante redução na demanda energética. Mas o fato é que o crescimento do número de computadores, telefones, sensores e televisores não deve desacelerar por muito tempo. Um relatório publicado em 2015 por dois pesquisadores da multinacional chinesa de equipamentos e serviços de telecomunicações Huawei procurou estimar o impacto deste crescimento. No trabalho On Global Electricity Usage of Communication Technology: Trends to 2030 (algo como “Sobre o uso global de eletricidade na tecnologia de comunicação: tendências para 2030”), Anders Andrae e Tomas Edler estimaram não apenas o consumo dos data centers, mas também o custo energético da produção de equipamentos de comunicação, das redes de dados (com e sem fio) e dos dispositivos utilizados em nosso dia a dia (vamos chamar todos estes elementos de TIC - Tecnologia de Informação e Comunicação). Segundo Andrae e Tomas, caso não ocorram melhorias de eficiência nas redes de dados e nos dispositivos (algo extremamente improvável), a TIC poderia consumir cerca de metade da eletricidade global em 2030. Sua expectativa é que esse número ficará em torno de 21%, sendo que, no melhor cenário, não deve passar dos 8%. Conscientes de seu impacto em relação ao meio ambiente pelo elevado consumo energético de suas atividades, quase metade das cinquenta maiores empresas de tecnologia por receita estabeleceram metas de utilização de energia renovável, sendo responsáveis por mais da metade do total de acordos de compra de energia renovável nos últimos três anos. É justamente do dramático impacto ambiental que nosso estilo de vida atual tem sobre o planeta que iremos falar na próxima coluna. Até lá. |
domingo, 8 de março de 2020
05.03.20 | Artigo: Fome de energia, OESP
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário