No domingo (5), meti-me numa discussão sobre o rótulo "MPB", criado pelas gravadoras nos anos 1960 para classificar um tipo de música que estava surgindo, difícil de definir, que não era bossa nova, samba, sertanejo ou rock. Se "MPB" tivesse se limitado a isso, tudo bem. O problema é que o rótulo logo passou a se aplicar a toda a música popular brasileira, analfabetizando o público quanto à riqueza rítmica dessa música. E com isso deixamos de notar que:
"A Banda", "Alegria, Alegria" e "Pra Frente, Brasil" não eram "MPB", eram marchas. "Máscara Negra" e "Bandeira Branca", marchas-rancho. "Atrás do Trio Elétrico", marcha-frevo. "Ponteio" e "Domingo no Parque", baiões. "Louvação", samba-baião. "Travessia", "Viola Enluarada", "Andança" e "Sabiá", toadas. "Disparada", moda de viola. "Caminhando", guarânia.
Os sucessos do iê-iê-iê —perdão, da Jovem Guarda—, como "Festa de Arromba", "O Calhambeque", "Vem Quente Que Eu Estou Fervendo" e "Mamãe Passou Açúcar em Mim", se tocados em versão apenas instrumental, sem aquelas letras debiloides e com arranjos vibrantes de Erlon Chaves, soariam como temas do swing, o ritmo das big bands americanas dos anos 1940, acredita? Falando nisso, "Rua Augusta" era um twist.
Já houve tempo em que balada era um ritmo, não sinônimo de farra, vide "Eu e a Brisa". "Roda Viva" era uma ciranda. "...das Rosas", uma valsa. "Ronda", "Carolina", "Ligia", "Até Quem Sabe", "Beijo Partido", "Folhas Secas", "As Rosas Não Falam" e dezenas de outros, sambas-canção.
E o que eram "Diz Que Fui Por Aí", "Quem Te Viu, Quem Te Vê", "Aquele Abraço", "Mudando de Conversa", "Pressentimento", "Sei Lá, Mangueira", "Você Abusou", "Tarde em Itapoã", "Apesar de Você", "País Tropical", "Foi um Rio que Passou em Minha Vida", "Águas de Março" e muitos e muitos mais? Sambas, grandes sambas.
Nenhum deles, "MPB".
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