Nas eleições presidenciais, é comum que um candidato saia vitorioso muito mais pela fraqueza do adversário do que pelo vigor de sua proposta. Em 2022 e em 2018, as vitórias de Lula e de Bolsonaro deveram-se mais à vulnerabilidade do derrotado. Em 2022 houve mais votos contra Bolsonaro do que a favor de Lula. Em 2018, com Bolsonaro havia acontecido o contrário. Ele prevaleceu, ajudado muito mais por um sentimento antipetista do que por suas ideias, que eram poucas e confusas.
O primeiro ano de mandato de Lula está para terminar, com um desempenho que cultiva a agenda negativa. A situação da economia e as amarras políticas dificultam-lhe a agenda positiva, mas uma certa autoconfiança típica de quem está no poder mostra-se como fonte alimentadora do voto contra.
Dois episódios recentes:
Primeiro, a classificação dos crimes de guerra de Israel em Gaza como atos "terroristas". Para um presidente que assumiu com áulicos sonhando em levá-lo ao Prêmio Nobel da Paz, da Venezuela à Ucrânia, Lula atravessou continentes para escorregar em cascas de bananas. Na guerra de Israel contra o Hamas, uma frase palanqueira desperdiçou o prestígio adquirido pela diplomacia brasileira no Conselho de Segurança da ONU.
Num segundo caso, o governo transformou uma limonada em limão com o episódio dos acessos de Madame Tio Patinhas aos escalões do Ministério da Justiça.
Indo-se aos fatos: em março passado a senhora, mulher de um chefe do Comando Vermelho, visitou hierarcas e, na manhã de segunda-feira (13), ela foi exposta. À tarde, o Ministério da Justiça mudou o seu protocolo de acesso a autoridades.
Houve um erro e foi corrigido. Seria o prenúncio de uma agenda positiva. Desde então, contudo, marchou-se heroicamente em busca de uma agenda negativa. Quem reclama é fascista, a madame tinha o direito de apresentar seus pleitos humanitários, inclusive com passagens pagas pela Viúva.
A segurança pública tornou-se um assunto relevante na agenda nacional e as mazelas da Bahia tisnam o desempenho dos governos petistas do estado. Até agora o Planalto respondeu com planos ambiciosos e notoriamente fracassados. Talvez possam dar certo, mas chamar de fascista quem critica a ida de Madame Tio Patinhas aos gabinetes do Ministério da Justiça serve apenas para levar água ao monjolo da agenda negativa que já serviu de semente para o bolsonarismo.
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