País com mais de 1 milhão de pessoas vivendo com HIV, o Brasil voltou a registrar boas notícias na luta contra a Aids.
Neste ano houve maior investimento do governo federal, novos medicamentos para o HIV foram incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e pacientes poderão diminuir de dois para um a quantidade de comprimidos tomados diariamente, reduzindo efeitos adversos.
O Ministério da Saúde reconheceu enfaticamente que, se a carga viral de uma pessoa em tratamento se mantém indetectável, o vírus não é transmitido nas relações sexuais.
A recomendação agora é iniciar o uso de antirretrovirais no mesmo dia ou, no máximo, uma semana depois do teste positivo.
Interrompida em 2019, foi retomada na rede pública a distribuição de gel lubrificante, que evita o rompimento do preservativo. A profilaxia pré-exposição (PrEP) está disponível às pessoas em situações de risco aumentado para a infecção, incluindo adolescentes acima de 15 anos. Também foi recriada a comissão nacional sobre a Aids, com participação de representantes de ONGs e dos mais afetados pela epidemia.
Há muito tempo o Brasil combina camisinha, testagem rápida, indicação de medicamentos antes ou depois do sexo inseguro, prevenção da transmissão durante a gravidez, redução de danos para usuários de drogas e maior atenção a hepatites e sífilis, além do tratamento universal assegurado pelo SUS.
Por que, então, o país dificilmente cumprirá a meta da ONU de eliminar a Aids como problema de saúde pública até o ano de 2030?
Enquanto prevaleciam o discurso da epidemia controlada, a negligência de governos e o desinteresse da mídia, o HIV não dava trégua e interagia com questões geracionais, de identidade sexual e de gênero, classe social e cor da pele.
Ao estigma que alimentou a epidemia nos seus anos mais sombrios somou-se a discriminação contra pessoas e comunidades, que são também aquelas desproporcionalmente atingidas pela Aids.
A descoberta do vírus ainda gera espanto e sofrimento, e o que chamamos de história passada é para muitos uma jornada de sobrevivência.
A atual ofensiva conservadora no Congresso Nacional, assim como foi a pauta moralista durante o governo Jair Bolsonaro (PL), representa ameaça adicional às medidas necessárias para o país dar um salto no controle do HIV.
Das infecções recentes no Brasil, 42% ocorreram em jovens entre 15 e 29 anos, mas as ações de prevenção continuam totalmente inadequadas às tecnologias digitais e aos valores, comportamentos e sexualidade das novas gerações.
Dentre os casos de HIV na gestação, 68% são de mulheres pretas e pardas, flagrante exemplo das falhas de acesso aos serviços de saúde.
O horizonte de acabar com a Aids somente será alcançável quando o Brasil superar as desigualdades que continuam a violar os direitos humanos e minar as oportunidades de vencer o HIV.
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