quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Ambientalistas brasileiros propõem cronograma para eliminar combustíveis fósseis, Nayara Machado ,EPBR

 

Mais de 60 organizações da sociedade civil brasileira divulgaram hoje (16/11) um pedido para que os negociadores da próxima Conferência do Clima da ONU (COP28) estabeleçam datas para eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
 
Principal conferência climática global, o encontro está marcado para 30 de novembro a 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos – 7º maior produtor de petróleo, com uma extração diária de cerca de 3,6 milhões de barris.
 
Os ambientalistas propõem um cronograma para que a exploração de petróleo, gás e carvão seja reduzida em 43% até 2030 e 60% até 2035, considerando os volumes de 2019 e liderada pelos países ricos e petroleiros.
 
Além de cobrar o fim de subsídios e financiamento concedidos a petroleiras e ao setor de carvão, junto com a criação de um imposto global sobre lucros inesperados da indústria de O&G – para impedir que essas empresas sejam beneficiadas por crises geopolíticas, argumentam.
 
“Os maiores produtores de petróleo do mundo – dos Estados Unidos à Noruega, passando por China e Brasil – seguem investindo no aumento da produção de petróleo, gás e carvão, cada um achando que será o último vendedor de combustíveis fósseis do planeta. A sede da COP, os Emirados Árabes Unidos, e o presidente da Conferência, o CEO da companhia petroleira estatal daquele país, colocam um desafio adicional a essa entrega”, observa o documento (.pdf).
 
Segundo o grupo, um acordo para o phase-out dos fósseis não precisa significar o empobrecimento de países emergentes ou de baixa renda.
 
“Ao contrário, ele deve considerar as responsabilidades históricas e impulsionar o desenvolvimento econômico sustentável dos países mais pobres, que até hoje não colheram os supostos benefícios da exploração de carvão, petróleo e gás”.

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O pedido é por metas e ações concretas. Historicamente, as COPs têm tido dificuldades de chegar a um acordo sobre combustíveis fósseis e, mesmo diante de uma intensificação dos prejuízos causados pelo aumento da temperatura do planeta, observadores das negociações avaliam que o encontro deste ano está pouco propenso a avanços neste sentido.
 
Há, até agora, uma concordância sobre a necessidade de triplicar a participação de renováveis na matriz até 2030. A ambição proposta pela presidência da COP28 conquistou o apoio do G20 em setembro.
 
Na última terça (15/11), os presidentes da China, Xi Jinping, e dos Estados Unidos, Joe Biden, divulgaram uma declaração conjunta em que prometem adotar medidas de combate às mudanças climáticas, incluindo triplicar a geração de energia renovável no mundo até 2030.
 
A sinalização dos dois países é importante porque são os maiores emissores do mundo. No entanto, ambos resistem a um compromisso mais firme em relação ao phase-out dos fósseis.
Pressão sobre o governo brasileiro. “Estamos testemunhando consequências climáticas sem precedentes no mundo, e os impactos insuportáveis dessa ebulição global são um claro sinal de que não podemos mais adiar a aposentadoria dos combustíveis fósseis”, disse em coletiva de imprensa a diretora-executiva do Instituto Arayara, Nicole de Oliveira.
 
A ambientalista critica decisões do governo brasileiro de disponibilizar áreas próximas a Fenando de Noronha e na Amazônia para exploração de petróleo.
 
“O Brasil está tomando medidas que contradizem essa necessidade urgente [de eliminar novos investimentos em fósseis]. É absolutamente inaceitável diante da crise climática que enfrentamos”, comentou.
 
Por aqui, o governo Lula (PT) tem defendido que deve continuar explorando fósseis como fonte de recursos para financiar, inclusive, a transição energética. 
Lobby contraditório. Também nesta quinta (16), um relatório do think tank InfluenceMap mostra que grandes empresas estão fazendo lobby por políticas que contrariam suas próprias promessas de emissões líquidas zero.
 
A análise de 293 empresas da lista Forbes 2000 com metas climáticas descobriu que quase 60% correm o risco de “net zero greenwashing” devido ao seu lobby.
 
Chevron, Delta Air Lines, Duke Energy, ExxonMobil, Glencore International, Nippon Steel Corporation, Repsol, Stellantis, Southern Company e Woodside Energy Group estão entre os 21,5% de empresas avaliadas como estando em risco significativo de greenwashing devido ao seu envolvimento político.
 
De acordo com o think tank, todos eles anunciaram uma meta líquida zero ou semelhante, mas os dados obtidos pelo InfluenceMap mostram que não estão apoiando suficientemente políticas que são necessárias para cumprir o Acordo de Paris
 
Essas empresas receberam destaque no estudo pelo nível “altamente ativo” de envolvimento com políticas relacionadas ao clima e “utilização acima da média” de termos “líquidos zero” nas suas páginas corporativas.
 
“Estas descobertas devem servir de alerta para as empresas em todo o mundo. É claro que, embora as empresas sejam rápidas em demonstrar os seus compromissos climáticos, muitas delas não demonstram isso com apoio a políticas governamentais positivas em matéria de clima”, comenta Catherine McKenna, CEO da Climate and Nature Solutions e ex-Ministra do Meio Ambiente do Canadá.
 
“Não só muitas empresas optam por minar os seus próprios compromissos climáticos fazendo lobby contra a ação climática, como os seus compromissos de zero emissões líquidas simplesmente não são credíveis. Precisamos que as empresas criem um ciclo de ambição climática onde a liderança do setor privado incentive e reforce a ação governamental ambiciosa”, completa.

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