Ao assumir o cargo pela primeira vez em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava cercado por gente que o acompanhava há um bom tempo. No Planalto ou perto dele, o petista tinha próximo vozes experientes e que ele ouvia. Em momentos de crise, algumas deram a ele conselhos de temperança. Alguns Lula ouviu. Nesta terceira gestão, o entorno do presidente está mudado.
As crises que batem à porta do gabinete presidencial têm encontrado uma tropa mais interessada no belicismo, e em elevar a têmpera do chefe ao invés de contê-la, considerando que o importante é governar o País todo e não brigar com a outra metade.
Lá no Lula 1, quando se aventou no Planalto expulsar do País um jornalista estrangeiro por texto considerado ofensivo, sabe-se que veio do Ministério da Justiça, mais precisamente do titular da Pasta, do advogado Márcio Thomaz Bastos, palavras na linha do “melhor não, presidente”. A crise passou e o jornalista não foi mandado para fora do território nacional.
Já na mais recente crise, a das visitas da dona de ONG ligada ao Comando Vermelho do Amazonas ao Ministério da Justiça, revelada pelo Estadão, o que se viu foi a direção do PT e ministros em peso fazendo coro na defesa da honra do ministro Flávio Dino. Não se escutaram vozes a alertar o presidente de que houve um problema ali na Pasta e que o ajuste precisa ser feito.
Dino segue convencido de que, mesmo não tendo se reunido com a senhora do CV, o encontro de seus subordinados com ela só veio a público porque é candidato a uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). Em Brasília não é incomum acreditar-se em teorias de conspiração porque é terra em que ora se estendem tapetes, ora os puxam.
O caso das visitas é, entretanto, motivo de constrangimento para a gestão que atua contra o crime. Ainda que não houvesse dolo, a imagem abalada só se recompõe com demonstrações de correção que ainda não vieram.
O ministro tem indicado que amolda-se mais ao estilo de quem gosta do combate. Aliás, mostrou ter todas as armas para enfrentar um ou outro da oposição que rosnou em sua direção. Nesses embates transmitidos pelas TVs do Congresso, o ministro ou afugentou com tacape na mão quem ladrava contra si, ou zombou de quem deu sinais de carecer de habilidade para confrontá-lo. Os episódios se repetiram e Dino parece ter gostado do personagem que assumiu.
No mesmo espírito, recusou-se a entregar vídeos do prédio do ministério no 8 de janeiro. As imagens foram requisitadas por oposicionistas na CPMI dos ataques golpistas. Dino não entregou. Alegou sigilo. Apresentou argumentos de ex-juiz. Peitou a comissão quando Planalto, Congresso e o próprio STF já tinham entregue à mesma CPI todas as imagens de que dispunham. O ministro saiu do episódio como quem passou por um desgaste desnecessário.
Esta semana, ele volta à cena com mesmo ânimo. E vocaliza o discurso da perseguição, agora reverberado por todo o exército de tuiteiros dispostos a inflar discussão sobre tudo menos o erro de o ministério receber pessoa ligada ao crime.
Como um dos principais auxiliares de Lula, Dino alinha-se, assim, entre os que preferem ver o governo no front. Como ex-juiz, o hoje ministro talvez pudesse ressuscitar o espírito da toga que já usou e até pode voltar a vestir. Dos magistrados espera-se sempre que sobrepesem os elementos e sigam a medida mais equilibrada e justa ainda mais em tempos de depor armas.
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