Quando o PT foi às cordas no auge da Lava Jato, um conselheiro de Lula lamentou que o partido tivesse negligenciado o Ministério Público Federal. Para esse petista, os quadros e a cúpula do órgão haviam sido preenchidos com procuradores que estavam muito mais distantes da sigla do que seus dirigentes gostariam.
Aquele era um aliado de Lula que, além de denunciar abusos nas investigações, reconhecia a existência de esquemas de corrupção em governos do partido. Ainda assim, ele apontava que os petistas haviam ficado no prejuízo por não terem conseguido estabelecer uma boa rede de interlocução no MPF após 14 anos no poder.
O cenário se reflete na longa novela protagonizada por Lula para escolher o novo chefe da Procuradoria-Geral da República. A desconfiança particular do presidente após a Lava Jato fez com que ele abandonasse a tradição de nomear o primeiro colocado da lista tríplice elaborada por integrantes do órgão. Mas a decisão não resolveu o problema.
Lula nunca teve um candidato natural para o posto e encontrou dificuldade até para formar uma lista de nomes que se alinhassem às bandeiras do partido. O vácuo permitiu que Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes emplacassem Paulo Gonet com um favoritismo que enfrentou a hesitação do presidente.
Para preencher a vaga de Rosa Weber no STF, não faltam candidatos, mas Lula mantém a cadeira no tribunal vazia há quase dois meses. Em seus primeiros mandatos, o petista terceirizava a escolha de ministros do tribunal. Auxiliares com bom trânsito no meio jurídico tocavam o processo, e o presidente praticamente só assinava a indicação.
Os anos da Lava Jato também deixaram marcas que ajudam a explicar parte da demora. Lula já manifestou o que considera uma decepção com ministros nomeados pelo PT (sendo Dias Toffoli o mais simbólico) e passou a tratar a indicação como uma questão de vida ou morte. Foi o que levou Cristiano Zanin ao tribunal e agora aproxima Flávio Dino ou Jorge Messias de uma cadeira.
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