Não há sequer um amigo brasileiro que chegue em Buenos Aires e não me faça a pergunta: cadê a crise? Tentando fazer um paralelo, comparo que buscar o colapso nos bairros turísticos da capital argentina é como fazer o mesmo nos Jardins em São Paulo. E dou a clássica explicação de que a inflação faz acelerar o consumo nos cafés e restaurantes, por isso estão sempre lotados.
Mas dentro de mim há uma resposta que me parece mais plausível, sabendo de onde viemos. Não enxergamos a crise na Argentina simplesmente porque vivemos imersos nela no Brasil. Os olhos já estão acostumados demais ao corpo magro que vaga pela rua, à criança descalça, à lona e pau feita de casa e ao barraco que se apilha numa engenharia improvável em qualquer outro lugar do mundo.
Não que as mesmas cenas não existam na Argentina —existem e são cada vez mais comuns. Porém, se tudo na vida é referência, a nossa não é das melhores no quesito qualidade de vida em grandes cidades. E o sinal mais latente disso é o espanto do brasileiro ao ver que as calçadas e os ônibus podem estar cheios tanto de dia quanto de madrugada, logo no país ao lado.
Quem desembarca pela primeira vez buscando a decadência econômica do noticiário que levou à ascensão de Javier Milei se depara com um país mais funcional, seguro e menos desigual que o seu. O mesmo com outros cantos da América Latina, onde a pergunta que mais escuto é: mas não é perigoso?, ainda que o sujeito viva num lugar onde assalto à mão armada é a regra.
No meio do nosso complexo de vira-lata com o norte global e do alto da nossa arrogância por enfim achar um lugar onde nosso dinheiro compra mais (pelo menos enquanto o peso não for transformado em dólar), mal olhamos para os vizinhos e o que eles têm para ensinar. É curioso o caso do brasileiro que se acha rico na Argentina.
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