"Sem uma forma de nomear a nossa dor, nós também ficamos sem as palavras para articular o nosso prazer."
Há algumas semanas li essa frase, escrita por bell hooks em 1992, e sinto que tem algo de sussurrado, para além do contraste mais óbvio, que eu ainda não consegui escutar.
Estou morando nos Estados Unidos há quatro meses. É muito fácil apontar meu dedinho latino-americano para tudo o que acho errado aqui: as bananas não têm gosto, a transferência bancária, tarifada, ainda demora mais de um dia, e a cerveja no bar custa US$ 9, mais gorjeta e taxas –são R$ 50 em um copinho, faço questão de converter para você, leitor.
Talvez a moral da história seja que o álcool é barato demais no Brasil (não me cancelem), e que o Pix precisa ser exportado (Venmo não chega aos pés), mas não é bem disso que quero falar.
É que tenho me dado conta das coisas bonitas. Da menina na praça que, diante de uma estátua terrível de Lincoln ao lado de um homem negro ajoelhado a seus pés, não quis saber do presidente, mas sim o nome do homem.
Da entonação cantarolante do maquinista do trem entre Washington e Nova York ao anunciar a próxima estação, fazendo quase todo mundo no vagão cair na risada.
Do jeito quase infantil de conversar, não porque bobo, mas algo ingênuo e muito sincero.
Volto para bell hooks. A frase estava uma das salas do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York. Nela, havia também uma instalação curiosa: três portas brancas, desgastadas.
O que mais chamava atenção é que, apoiada em cada uma, havia um taco de beisebol. Segundo a artista, Diamond Stingily, era assim na casa de sua avó, em Chicago.
Há algo sobre esse emaranhado de violência e ternura, sedução e desencaixe, saudade e curiosidade que diz muito sobre a experiência de viver neste país enquanto estrangeiro. Perceber que a porta que abre para fora também abre dentro —só precisa deixar o taco para trás (mas não a peixeira).
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