terça-feira, 28 de novembro de 2023

Jesus aprendeu a perdoar os homens por ser como eles, Manuela Cantuária, FSP

 O livro que atualmente jaz sobre minha mesa de cabeceira, pasmem, é uma Bíblia Sagrada. Aos desavisados que entram em meus aposentos, me justifico dizendo que estudo personagens complexos de narrativas, mitologias e textos religiosos.

Nesse sentido, Jesus sempre me intrigou bastante. Antes da ascensão do cristianismo, as divindades costumavam ser representações extremamente humanas, contraditórias, que perdiam o controle, sentiam raiva e rancor, vacilavam e aprendiam com seus vacilos.

Em um tempo em que não existia terapia, essas narrativas ofereciam lições emocionais pela identificação com protagonistas humanos como nós. Jesus, no entanto, com sua fama de evoluído, pacífico e galeroso, me parecia uma espécie de contraponto. E eu me perguntava por que essa representação é tão poderosa, sendo a exceção de uma regra tão básica.

Por isso, às vésperas do aniversário dele, estou lendo o maior best-seller de todos os tempos, a Bíblia Sagrada. Só assim consegui entrar em contato com o lado mais humano de Jesus e, surpreendentemente, identificar um complexo arco de transformação relacionado ao perdão.

Desenho de Jesus Cristo voando entre as nuvens
Ilustração de Silvis para coluna de Manuela Cantuária de 27 de novembro de 2023 - Silvis/Folhapress

É Jesus que ensina aos homens o conceito de inferno, pouco explorado no Antigo Testamento. O Deus do Antigo Testamento aplicava punições extremas aos homens, como o dilúvio e as pragas do Egito, mas todas essas punições tinham um fim, que era a morte.

PUBLICIDADE

O castigo eterno é sempre desproporcional, não importa o tamanho da dor e o sofrimento que tenha sido causado por esses pecadores. Até porque esses pecadores não têm consciência das consequências de suas ações, ou pensariam duas vezes antes de cometer tais pecados.

Ao longo de sua trajetória, Jesus condena inúmeras pessoas, populações de cidades inteiras, ao castigo eterno, por motivos variados. Amaldiçoa até uma figueira por estar sem frutos. É só após ser apedrejado, chicoteado, pregado vivo em uma cruz, que ele suplica a Deus para que perdoe os homens, porque "eles não sabem o que fazem".

Jesus não aprende a perdoar os homens por ser mais evoluído, mas por ser como eles, por sentir na carne a dor da experiência humana. Exatamente da mesma forma, aprendi a amá-lo: não quando conheci suas virtudes, mas quando conheci seu pior lado.

Nenhum comentário: