Não sei qual foi sua reação ao ver os torcedores brasileiros hostilizando e ofendendo o cantor e compositor Gilberto Gil, que entrava no estádio com sua mulher Flora Gil para assistir ao jogo de estreia da seleção brasileira no Qatar. Só sei que, assim que André Janones postou o vídeo, fiquei enfurecida.
E, na força da raiva, resolvi pesquisar para descobrir a identidade dos ofensores, começando pelo homem com a camisa verde e amarela da CBF onde se lia "Papito Rani", que gritava o nome do candidato derrotado e provocava o artista dizendo "Vamos, Lei Rouanet".
Imaginando que ele fosse empresário, procurei por nomes de sócios contendo "Rani" em sites de busca por CNPJ. Porém, como o trabalho coletivo é sempre melhor, antes que eu terminasse a lista de possibilidades, já tinham encontrado o nome de Ranier Felipe dos Santos Lemache, suas empresas, fotos da família e tudo mais.
Assim que foi exposto, talvez orientado por um advogado, o empresário emitiu uma "nota", admitindo ter feito provocações ao artista por divergências políticas, mas afirmando não ter sido ele quem proferiu a ofensa de "filho da p***". E, num texto cínico, disse se "solidarizar com o sr. Gilberto Gil".
Então, quem foi o covarde que insultou Gilberto Gil, cuja voz ouvimos claramente no vídeo? Por que ele não vem a público e assume o que fez? Porque fez o vídeo só para "lacrar" com os seus amiguinhos e não imaginava que viralizaria? Ou porque tem medo que a repercussão negativa atrapalhe seus negócios?
Provavelmente, por todas essas razões. O importante é que Gil, em sua sabedoria, não se deixou abalar pelas agressões estúpidas que sofreu e agradeceu a corrente de afeto e apoio que recebeu de todos os fãs e amigos da classe artística: porque esse ofensor é só um representante dos inconformados do "terceiro turno", pessoas que não sabem perder e que querem manter o ódio, a agressividade, que eles tanto gostam de praticar.
Mesmo sendo a vítima, a pessoa injustamente atacada, Gil mais uma vez deixa claro o ser humano iluminado que é, digno de todos os títulos e honrarias recebidas nessa vida dedicada à cultura. De que adiantaria agora encontrar esse eleitor de extrema-direita, o agressor que cometeu o crime de ofensa sobre o artista? Nada. Só alimentaria ainda mais nosso ódio. E é o ódio que precisamos combater.
Cometemos, como sociedade, o erro de normalizar agressões, ofensas, comportamentos absurdos como o enaltecimento de torturadores. E, ao banalizarmos o que sempre deveria ser percebido como inaceitável, desembocamos nessa desumanidade toda, em que pessoas se sentem no direito de gravar vídeos grosseiros para constranger publicamente pessoas que nada nos fizeram e que apenas desfrutam de sua liberdade de viver, de viajar, de realizar o sonho de torcer junto com a família pela seleção do nosso país.
Não sei se vamos ganhar a Copa, mas nesse jogo lamentável de perdedores que ofenderam um ídolo nacional apenas para botar seu ódio em campo, o bolsonarista ofensor, sai de campo não apenas derrotado, mas com o título de covarde. E, enquanto essas pessoas nefastas latem, a caravana da paz passa. Gil foi o craque do jogo. Marcou mais um golaço de civilidade em nome da paz.
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