Fidel Castro, Yuri Gagarin, Albert Einstein e Marilyn Monroe foram alguns dos nomes internacionais que viram a vista do Rio de Janeiro pelas janelas do icônico Hotel Glória.
De frente para a baía de Guanabara e vizinho de calçada do Palácio do Catete, sede da Presidência da República até o Rio de Janeiro deixar de ser capital federal, em 1960, o hotel foi testemunha de euforias e crises vividas pelo Rio dos últimos cem anos —e ele próprio foi vítima de uma delas.
Fechado desde 2008 por negociações malsucedidas, uma nova fase da história do prédio foi lançada nesta quinta-feira (10), agora como empreendimento residencial de luxo.
O Glória Residencial Rio é liderado pelo Banco Opportunity, que comprou o prédio, e pela SIG Engenharia. A entrega está prevista para 2026.
Com decorados assinados por Patrícia Anastassiadis e paisagismo do escritório de Burle Marx, o Glória Residencial tem planos de 266 apartamentos entre 77 m² e 311 m², com até quatro suítes.
Tradicional Hotel Glória antes e depois
O metro quadrado custa a partir de R$ 25 mil, o que significa que o menor apartamento custa R$ 1,92 milhão.
O terreno custou R$ 100 milhões e as obras estão orçadas em R$ 250 milhões. Com decoração e demais despesas, o valor total do investimento é R$ 400 milhões.
"O projeto tem que se adequar às novas condicionantes. Na época em que o hotel funcionava não havia tanta demanda por ar-condicionado, equipamentos de cozinha como micro-ondas, essas instalações não eram previstas. O prédio é antigo, então os desafios de estrutura foram grandes", disse Jorge Mauricy, diretor da SIG Engenharia.
A fachada do hotel, preservada por lei, será mantida, com leves alterações. A inscrição Hotel Glória, por exemplo, será substituída por Glória Residencial.
"A gente precisou do apoio dos órgãos para fazer a conversão para o residencial. As conversas com a prefeitura e Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] para um patrimônio histórico não ficar abandonado foi fundamental", afirmou Cristina Gravina, do Grupo Opportunity.
O Hotel Glória foi projetado originalmente pelo arquiteto francês Joseph Gire, o mesmo que desenhou o Copacabana Palace e o Palácio das Laranjeiras. Concorrente do Copa Palace em glamour, o Glória ficou famoso pelos luxuosos concursos de fantasias de Carnaval e por um barraco protagonizado pela atriz norte-americana Ava Gardner (1922-1990).
De passagem pelo Brasil na década de 1950, Gardner quebrou móveis e objetos do quarto, discutiu com gerentes e foi expulsa pelo dono do hotel, Eduardo Tapajós. Depois da briga, foi se hospedar no Copacabana Palace. Tapajós administrou o empreendimento até 1998, quando desapareceu em um acidente de helicóptero.
A família de Tapajós seguiu à frente do hotel até 2008, ano em que, ainda em funcionamento, foi vendido por R$ 80 milhões ao empresário Eike Batista. O ex-bilionário prometeu transformá-lo em hotel seis estrelas até a Copa do Mundo de 2014, mas as obras pararam no ano anterior —assim como muitas promessas não cumpridas no Rio pré-Copa.
Desde então, o hotel passou por várias mãos. Em 2014, o grupo REX, braço imobiliário do Grupo EBX, de Eike, vendeu o hotel para o fundo suíço Acron AG por R$ 225 milhões, com o desejo de reformá-lo até a Olimpíada de 2016.
Mas um atraso nos procedimentos legais para a conclusão da venda, como a emissão de certidões, fez o fundo suíço desistir do negócio em 2016.
No mesmo ano, o hotel foi vendido ao Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, como parte de uma negociação com o grupo de Eike. O Mubadala havia feito um aporte de US$ 2 bilhões à EBX em 2012. Após o fim das empresas X, o fundo converteu a participação de Eike em dívida e, assim, em 2016, recebeu o hotel como parte do pagamento com outros ativos.
A última passagem de bastão aconteceu em 2020, quando o fundo de investimento imobiliário Opportunity adquiriu o hotel com a promessa de transformá-lo em um edifício residencial.
Parte dos interessados em adquirir apartamentos no novo edifício é de empresários do agronegócio. "Tem uma tendência grande do agronegócio para vir para cá. Temos planos de anunciar o Glória em Cuiabá, Goiás e Paraná", disse Gravina.
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