Mortadelas: você se lembra deles? "Mortadela" foi apelido que a direita colou nos manifestantes contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Não faz tanto tempo assim, mas vale refrescar a memória. Os mortadelas vermelhos, na narrativa criada pelos coxinhas, não manifestavam a própria revolta. Eram subornados pelas centrais sindicais com sanduíches frios de embutido de quinta categoria, mais uma garrafa pet de tubaína morna.
Já os outros, autodenominados patriotas, almoçavam a macarronada da mamma (ascendência europeia puro-sangue) antes de tingir a Paulista de verde e amarelo nas tardes de domingo (pois quem atrapalhava a vida do empreendedor durante a semana era vagabundo esquerdopata).
O mundo não dá voltas, capota. Vejamos os protestos "patriotas" da semana subsequente à eleição de Lula à presidência.
Em Porto Velho, o influenciador Rato Andrade Jr. enrolou a bandeira nacional nos ombros e se infiltrou em uma manifestação golpista. Tomou refri e suco –que estava quente, mas logo providenciaram gelo–, comeu salgadinho e arroz carreteiro.
Em Goiânia, nos Dia de Finados, houve distribuição de churrasco para as viúvas da ditadura que zurravam em frente a um quartel. A carne foi doada pelo Frigorífico Goiás, com notável ficha corrida.
O frigorífico, que já teve o cantor Gusttavo Lima entre os sócios, é o mesmo da picanha de R$ 1.799 oferecida a Bolsonaro. É o mesmo que, no dia do primeiro turno, vendeu por R$ 22 a picanha "mito" –e foi autuado por oferecer carne imprópria para o consumo.
O sujeito que assou a carne no convescote golpista goiano é um tal de Tchê – no Instagram do frigorífico, ele se apresenta como "churrasqueiro do presidente Bolsonaro".
Em Rondonópolis (MT), vídeos publicados no Twitter mostram uma churrascada com estrutura semelhante aos eventos itinerantes que cobram mais de R$ 500 pelo ingresso. Várias estações de comida, equipamento de "barbecue" texano e um exército de profissionais paramentados a serviço da patriotada.
A farra do churrasco se repetiu nas estradas bloqueadas pelos conspiradores. Muitas manifestações tinham gerador de eletricidade, banheiros químicos e tendas para se abrigar do sol e da chuva.
Alguém pagou por todo esse aparato –e nem sempre o patrono dos arruaceiros é tão exibicionista quanto os donos do frigorífico que abastece os churrascos de Bolsonaro.
Milhões de reais foram injetados na insurreição criminosa para melar a posse de um presidente eleito pelo voto popular. Os financiadores da conspiração precisam ser todos identificados e punidos.
Quanto à mortadela da CUT, cai por terra um dos últimos discursos moralistas dos reacionários. Ninguém acreditava de fato que um sanduíche xexelento fosse tirar alguém de casa para protestar na chuva.
Era só preconceito de classe.
Bolsonarista tem nojo de pobre. Tolera o pobre que lhe serve, assando um bife ancho de angus certificado para quem pede a volta da ditadura militar.
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