sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Se inflação não mirar a meta em 2023, BC vai reagir, diz Campos Neto, FSP


BRASÍLIA e SÃO PAULO

Presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto afirmou nesta sexta-feira (18) que os rumos das contas públicas a partir de 2023 serão essenciais para entender como se dará o trabalho da política monetária no ano que vem —ou seja, em que patamar vai ficar a taxa básica de juros, hoje de 13,75% ao ano..

"Precisamos entender como o fiscal vai se desenvolver", afirmou Campos Neto, durante evento em São Paulo. Ele disse que a incerteza sobre a condução das contas públicas nos próximos meses fez com que o mercado passasse a considerar uma alta de juros no curto prazo.

Até então, o mercado projetava o início da reversão do ciclo de aperto monetário, ou seja, cortes na taxa básica (Selic), entre fevereiro e junho de 2023.

Presidente do BC, Roberto Campos Neto, discursa durante evento do Lide em Nova York, nos Estados Unidos - Vanessa Carvalho - 15.nov.2022/Lide

"Ainda tem algum trabalho a ser feito, segundo as expectativas do mercado", afirmou Campos Neto.
Ele preferiu não ser assertivo sobre qual será a reação do BC no próximo ano, por considerar que ainda há um nível elevado de incerteza sobre qual será a política fiscal adotada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Não posso trabalhar com suposições. Precisamos esperar para ver o que de fato será aprovado", disse o presidente do BC. Mas, se a convergência com o qual a autoridade monetária trabalha para a inflação em direção à meta não ocorrer conforme o esperado, "vamos reagir", afirmou

As previsões de economistas compiladas pelo BC na pesquisa Focus indicavam nesta semana um IPCA de 4,94% em 2023, acima da meta para o ano que vem, que é de 3,25%, com variação aceitável entre 1,75% e 4,75%.

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O presidente do BC disse ainda que a figura da política fiscal no momento pode ser considerada positiva, mas ressaltou que a maior preocupação é que os programas adotados nos últimos meses venham a se tornar permanentes.

Ele afirmou que até aqui o mercado está tendo bastante dificuldade para entender qual será a nova política fiscal do governo nos próximos anos. E que, a depender da nova estrutura da política fiscal, ela poderá interferir na forma como o BC olha o cenário à frente. "É importante ter coordenação da política fiscal e monetária nesse estágio do ciclo."

Campos Neto comentou também sobre o fim do teto de gastos e a reformulação da âncora fiscal, tema debatido pelo governo eleito desde o período eleitoral. "O importante é ter credibilidade no arcabouço fiscal".

"Entendemos que isso deve ser construído de forma a dar credibilidade para investidores de que continuaremos no caminho de convergência da dívida, e isso é o mais importante", continuou.

O presidente do BC afirmou ainda que é preciso atenção com a questão social, à medida que muitas pessoas ainda sofrem os efeitos da pandemia e da alta de alimentos, mas que, por outro lado, também é preciso estar atento às reações do mercado.

A realidade, disse o presidente do BC, é que em cenários de condições econômicas adversas, com inflação elevada e incerteza para as empresas se planejarem, quem mais acaba sofrendo é a população de menor renda.

Ele também voltou a afirmar que alguma melhora da inflação brasileira pôde ser observada ao longo dos últimos meses, mas que ainda "não há razão para celebrar" e que parte da dinâmica recente dos preços veio na esteira de medidas pontuais adotadas pelo governo que seguem indefinidas à frente.

Ao olhar as expectativas de inflação para os próximos anos, o trabalho da política monetária começa a dar alguns resultados, mas "é preciso persistir na estratégia", afirmou Campos Neto, acrescentando que a recuperação recente do mercado de trabalho representou uma "grande surpresa" dentro dos prognósticos do BC. 

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