Em 1946, o Rio ganhou uma atração inédita: um alemão recém-chegado instalou uma frota de pedalinhos em forma de cisne na Lagoa Rodrigo de Freitas. A prefeitura concedeu-lhe o alvará, a Lagoa virou um point e Herberts Cukurs, o alemão, não parou mais. Criou um restaurante flutuante atracado ao vizinho clube Caiçaras, construiu na margem um playground para as crianças e promovia competições de barcos a vela, a remo e a motor. Era adorado. Cukurs ficou rico e seu nome e foto saíam nos jornais.
De repente, em 1950, o choque. Notícias vindas da Europa revelaram que Herberts Cukurs era um criminoso de guerra, chefe da ocupação nazista em seu país, a Letônia. Comandara execuções em massa de prisioneiros judeus por fuzilamento, afogamento e gás e, entre outras monstruosidades, ordenara o incêndio de uma sinagoga em Riga com 300 pessoas dentro. Calculava-se que, entre 1943 e 45, matara 30 mil pessoas. Seu cognome seria "O Carniceiro de Riga".
A extradição de Cukurs foi pedida por várias entidades particulares europeias, com base em depoimentos de sobreviventes que o tinham identificado nos jornais brasileiros. Mas, embora esses depoimentos viessem de pessoas de diferentes nacionalidades e que não se conheciam entre si, ele não podia ser extraditado. Não passara pelo tribunal de Nuremberg, entrara legalmente no Brasil e os governos europeus não reuniam provas suficientes para incriminá-lo. Para complicar, tinha agora um filho brasileiro.
O processo arrastou-se por anos, sem solução. Cukurs foi ficando por aqui e, com o tempo, foi esquecido. Mas nem todos o esqueceram. Em 1965, um comando israelense o atraiu a Montevidéu e o executou a tiros.
A única pena sofrida por Cukurs no Brasil foi a de que, em 1951, a Prefeitura do Rio cancelou seu alvará e o proibiu de explorar os pedalinhos. Como sabemos, a Justiça brasileira é assim: implacável.
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