Lula desceu gloriosamente em Sharm el-Sheikh. Ele vive alguns dos melhores dias de sua vida. Chegou à COP27 colocando o Brasil de volta no mundo e deixou para trás um país com a esperança de melhores dias. Quando voltar, encontrará os velhos e os novos problemas. Os velhos não foram criados por ele, assim como os novos não serão do governo que vai embora.
Lula ainda não anunciou seu ministério, e a arrogância de Guido Mantega criou-lhe problema ao insinuar um veto do novo governo ao nome do economista Ilan Goldfajn à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Mantega foi ministro da Fazenda durante o consulado petista, e Goldfajn foi presidente do Banco Central durante o governo de Michel Temer.
Formam uma rara dupla. Não se conhece quem fale bem da passagem de Mantega pela Fazenda, nem quem fale mal de Goldfajn no Banco Central.
Mantega deu sua canelada em Goldfajn enquanto dizia que não seria ministro do novo governo e era confundido como um dos integrantes da equipe de transição: "Eu saio dessa vanguarda e fico na retaguarda, ajudando com conselhos e tudo mais...".
Põe retaguarda nisso. Mantega não seria ministro nem integrava formalmente a equipe de transição porque, por decisão do Tribunal de Contas da União, está impedido de ocupar função pública até 2030.
A canelada de Mantega foi pública, mas não foi a única. Espera-se que o novo governo passe água e sabão em milhares de nomeações feitas durante os últimos quatro anos. Espera-se também que esse governo respeite os funcionários de carreiras do Estado, bem como suas folhas de serviço. Vinganças, como o peixe estragado, são percebidas pelo olfato.
Houve algo de surto na meteórica aparição de Mantega e seria injusto atribuí-la a Lula. Já a sua utilização da jato Gulfstream, do empresário do setor de saúde privada José Seripieri Filho, foi coisa exclusiva do presidente eleito. Com autonomia para voar sem escalas até o Egito, o jato pode levar até 12 pessoas. Seripieri foi preso por alguns dias pela Polícia Federal numa investigação sobre financiamentos ilegais de campanhas. Pagou uma multa de R$ 200 milhões e fez delação premiada, reconhecendo seus malfeitos. Esse documento não se tornou público.
Indagado a respeito do uso do Gulfstream, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin disse: "A informação que eu tenho é que não é emprestado (o avião). O proprietário está indo junto para a COP. Ele também vai participar da COP, está indo junto. Não tem empréstimo. Estão indo juntos no mesmo avião. Estão indo mais pessoas, ex-governador, lideranças políticas, ambientais, todos juntos."
Alckmin é sempre cuidadoso com as palavras e por isso disse: "A informação que eu tenho". Se acredita nela, é outra questão.
Em quatro anos, Bolsonaro encheu o Brasil de problemas e por isso perdeu a eleição. A vitória de Lula foi soberana e o que o país menos precisa é que velhos problemas reapareçam, fazendo-se passar por novos, fingindo-se banais. Explicações astuciosas convencem os convertidos, mas hoje Lula tem adversários e, pela primeira vez, inimigos mobilizados.
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