O Qatar fornecerá gás natural liquefeito (GNL) à Alemanha sob um acordo de longo prazo que marca um grande passo nos esforços da maior economia da Europa para se livrar da dependência do gás russo.
Sob dois acordos de compra e venda assinados na terça-feira (29) pela estatal QatarEnergy e pelo grupo americano ConocoPhillips, cerca de 2 milhões de toneladas de GNL serão enviados à Alemanha anualmente durante pelo menos 15 anos, com entregas previstas para começar a partir de 2026.
Os acordos são os primeiros pactos de longo prazo para fornecimento de GNL a um país da UE desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro. Apesar de buscarem substitutos para o gás russo, os países europeus temem fechar tais negócios, já que tentam se afastar dos combustíveis fósseis.
Robert Habeck, ministro da Economia da Alemanha, saudou os acordos. "Quinze anos está ótimo", disse ele. "Eu não teria nada contra contratos de 20 anos ou até mais longos."
Habeck disse que as concessionárias alemãs Uniper e RWE foram solicitadas pelo governo a conseguir gás no mercado internacional –inclusive do Qatar– para um terminal de GNL que está sendo construído na costa alemã do mar do Norte.
Ele ainda explicou que os contratos assinados são entre grupos de energia e empresas de serviços públicos da Alemanha. "Os contratos em si são negócios das empresas. [Elas] precisam perceber que a Alemanha [no futuro] comprará menos [gás] se quisermos cumprir nossas metas climáticas". Nesse caso, as empresas "terão que entregar os volumes que compraram para outros países".
Os acordos contribuiriam para a segurança energética da Alemanha "com um período de fornecimento que se estende por pelo menos 15 anos", disse Saad Sherida Al-Kaabi, ministro de Energia do Qatar e diretor executivo da QatarEnergy.
Al-Kaabi acrescentou que o Qatar separou "a política dos negócios", referindo-se a um aparente protesto da seleção alemã na Copa do Mundo contra a decisão da Fifa de proibir os jogadores de usar braçadeiras "One Love", em apoio à comunidade LGBTQIA+. O time da Alemanha cobriu as bocas para uma foto antes do jogo contra o Japão na semana passada.
Zongqiang Luo, analista sênior da Rystad Energy, disse que os últimos negócios são "um sinal de que a Europa está começando a se cansar do fornecimento intermitente da Rússia e busca cada vez mais alternativas de longo prazo".
O GNL virá dos projetos North Field East e North Field South do Qatar, que visam aumentar a produção doméstica de GNL do país do Golfo das atuais 77 milhões de toneladas para 126 milhões de toneladas até 2027.
O gás russo representou cerca de 45% das importações de gás da UE no ano passado. A necessidade do bloco de encontrar substitutos intensificou a competição com a Ásia por carregamentos, elevando os preços.
O preço do GNL entregue ao noroeste da Europa subiu para quase US$ 80 (R$ 424) por milhão de unidades térmicas britânicas em agosto, mais de quatro vezes o preço do ano anterior, de acordo com o provedor de dados Argus Media. No entanto, desde então, os preços caíram de volta ao nível do ano passado, pois a Europa conseguiu encher seus estoques de gás.
Embora 2 milhões de toneladas de GNL representem cerca de 3% da demanda anual de gás da Alemanha, elas ajudarão a preencher a lacuna em um país que foi um dos mais atingidos quando o presidente russo, Vladimir Putin, usou o fornecimento de energia como arma.
O gás russo representava mais da metade do abastecimento total da Alemanha antes da invasão da Ucrânia, e desde então Berlim se esforça para construir uma nova infraestrutura de importação de GNL.
O país terminou recentemente a construção de seu primeiro terminal de importação de GNL em Wilhelmshaven, no mar do Norte, e também afretou cinco unidades flutuantes de armazenamento e regaseificação, usadas para armazenar GNL e deixá-lo no estado gasoso.
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