quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Elétricos importados ganham espaço de carro nacional na garagem da Presidência, FSP

 A República anda sobre quatro rodas desde que o Charron, Girard & Voight chegou ao Brasil em 1907 para ser usado por Afonso Pena. De lá para cá, presidentes e ditadores desfilaram em limusines, sedãs e SUVs, que, neste século, são predominantemente importados. O carro nacional perdeu espaço nas garagens palacianas.

Os estrangeiros da vez são elétricos. Em janeiro de 2024, O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu um BYD Tan a bateria, SUV que custa mais de R$ 500 mil e nem sequer é especulado para se tornar um dos veículos montados em Camaçari (BA).

Dois homens de terno azul apertam as mãos em garagem ao lado de carro elétrico preto com placa brasileira. Carregador elétrico está instalado na parede à esquerda.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta Fabio Rua, vice-presidente da GM na América do Sul, durante entrega do SUV elétrico Chevrolet Blazer EV - Divulgação

Em setembro deste ano, a Chevrolet cedeu ao Palácio do Planalto quatro unidades do Blazer EV, outro SUV a bateria com preço superior a R$ 500 mil e produção nos EUA. A GM já foi uma grande fornecedora de carros do Poder Executivo, com uma extensa lista de Opalas e Omegas nacionais a serviço do Estado.

Além de ser uma ação de marketing das montadoras, a eletrificação da frota é um aceno à agenda ambiental por parte do governo. Contudo, a desnacionalização dos veículos da Presidência da República não pega bem diante da necessidade de reavivar o setor industrial.

Mesmo que as fabricantes que aqui produzem sejam estrangeiras, seria de bom-tom colocar à disposição dos mandatários veículos montados nas dezenas de fábricas instaladas no Brasil.

Esses automóveis estão presentes em níveis mais baixos da hierarquia do poder, mas são raras as vezes que se vê Lula ou seu vice, Geraldo Alckmin, a bordo de um carro nacional.

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A desnacionalização da frota gera também momentos curiosos, como o que ocorreu quando a Ford anunciou o encerramento da sua produção de carros no país, em janeiro de 2021.

"Mas o que a Ford quer? Faltou à Ford dizer a verdade, querem subsídios", disse o então presidente Jair Bolsonaro sobre o anúncio feito pela montadora. Logo depois, embarcou em um dos Ford Edge canadenses utilizados pela Presidência da República na época.

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Ex-diretor do Inpe, Ricardo Galvão assume vaga de Boulos na Câmara dos Deputados, g1

 Ricardo Galvão (Rede) anunciou oficialmente, nesta quarta-feira (29), que vai assumir o cargo de deputado federal deixado por Guilherme Boulos (PSOL) na Câmara dos Deputados.

Até então presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Galvão é o 1° suplente de Boulos, que é o novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

Ricardo Galvão se candidatou a uma vaga na Câmara dos Deputados nas eleições de 2022. Ele recebeu 40.365 votos e não conseguiu se eleger.

Ao g1ele já havia confirmado que ia assumir a vaga, mas, nesta quarta-feira, fez uma publicação nas redes sociais para oficializar o novo desafio.

"A voz da ciência no Congresso Nacional. Em 2019, o negacionismo tentou calar a ciência. Mas resistimos. Em 2022, o povo mobilizado derrotou o autoritarismo. Hoje, a ciência brasileira ocupa um lugar na Câmara dos Deputados. Comunico oficialmente que deixo a presidência do CNPq para defender a ciência no Congresso Nacional. Assumo o mandato de deputado federal, sucedendo o ministro @guilhermeboulos.oficial, e encerro com orgulho meu ciclo à frente do CNPq, onde reconstruímos a ciência brasileira", escreveu Galvão.

Na publicação, ele ainda realçou os feitos à frente do CNPq e agradeceu ao presidente Lula (PT), à ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e à Ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, pela confiança.

"A ciência é o caminho, a democracia é o alicerce e a sustentabilidade é o destino. Sigo à disposição de São Paulo e do Brasil, com fé na razão, na solidariedade e na esperança de um futuro justo e possível", completou Galvão.

No Congresso, mais gritos por segregação, Conrado Hübner Mendes, FSP

 Conrado Hübner Mendes

Mudança social guiada por uma ideia de justiça é o mais difícil empreendimento humano. Exige combate a poderes enraizados, hierarquias e interesses lucrativos. Em mudanças assim, os de cima descem e os debaixo sobem. Alguém sempre perde, se entendermos a promoção de justiça como derrota daquele que se beneficiava da injustiça.

Constituição de 1988 se comprometeu com projeto desse tipo. Além de prever metas, direito e deveres, dividiu atribuições aos que devem liderar o processo. Há fracassos e êxitos coletivos ao longo desses quase 40 anos de constitucionalismo democrático.

Entre os êxitos, a educação oferece alguns dos exemplos mais inspiradores, sobretudo na educação de crianças com deficiência. Uma vanguarda internacional. O Estado construiu gradualmente arcabouço normativo e política pública orientada pelo princípio da educação inclusiva.

Fachada do Congresso Nacional, em Brasília
Fachada do Congresso Nacional, em Brasília - Pedro Ladeira - 5.jul.24/Folhapress

Significa que crianças com deficiência devem frequentar escolas e salas de aula regulares, suplementadas por atendimento educacional especial de acordo com suas singularidades. Demos passos para superar a prática de segregação escolar, onde a linha entre "normalidade" e "deficiência" determina se a criança tem condições para desenvolver autonomia, se tem ao menos a chance da educação plural.

Em sintonia com consensos internacionais, percebemos que o "pleno desenvolvimento da pessoa", o "preparo para o exercício da cidadania" e a "qualificação para o trabalho", que compõem o direito constitucional à educação (art. 205), são potencializados pelo modelo inclusivo. Ali crianças aprendem a lidar mais radicalmente com a diferença, o conflito, a cooperação e a criatividade. Têm melhores oportunidades de saírem preparadas para a vida social, política e econômica.

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O caminho entre a filosofia inclusiva e a política educacional inclusiva têm muitos desafios práticos. Estabelecimentos tradicionais como APAEs e Pestalozzis continuam a oferecer "atendimento educacional especializado" e a receber recursos públicos para esse papel suplementar.

governo federal, sob liderança do Ministério da Educação e do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, editou o decreto 12.686, que estabeleceu a Política Nacional de Educação Especial Inclusiva. O decreto não fez maiores alterações na legislação e na jurisprudência constitucional vigentes, apenas a reforça e consolida. Não corta recursos nem fecha salas, apenas regula de modo mais criterioso o atendimento especial.

Grupo de parlamentares, sobretudo dos partidos PL, PP e Republicanos, repentinamente reagiu com série de propostas de decreto legislativo para sustar o decreto presidencial. O objetivo seria defender o "direito da família" de optar por um modelo de educação segregado, mesmo que esse reduza o direito da criança com deficiência ao seu melhor desenvolvimento. Ignora que "direito da família" não é uma categoria constitucional, mas sim o "dever do Estado e da família" em prover educação.

É mais um grave exemplo de forças anti-liberais e anti-pluralistas que capturaram, como não vimos nas últimas décadas, a agenda do Congresso brasileiro. Afinal, emancipação coletiva é sua derrota. Preservar hierarquias e estruturas de dominação e exclusão é sua vitória. Contra mulheres, negros, indígenas, moradores de favelas e, até mesmo, pessoas com deficiência.