quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Uma agenda para o Supremo deixar o protagonismo que assumiu, Fabio Giambiagi, OESP

 É péssimo para um país ter a Justiça sob suspeição. Estou entre os que acreditam que o Supremo Tribunal Federal (STF) teve um papel essencial para salvar a democracia em 2022 — e, como cidadão e democrata, reconheço e sou grato por isso.

Não é preciso, porém, ser um bolsonarista de carteirinha para perceber que nosso Supremo assumiu um protagonismo na vida do País, que, em algum momento, seria recomendável que diminuísse no futuro.

Nesse contexto, o que se segue é uma sugestão de pontos que, qualquer que seja o vencedor na eleição de 2026, pode ser conveniente adotar durante 2027/2030:

  1. encerramento do inquérito 4781, base de todo um conjunto de ações empreendidas pelo Supremo, frequentemente na pessoa do ministro Alexandre Moraes. Creio que a visão de que esse inquérito precisa ter um desfecho é compartilhada por boa parte da sociedade;
  2. acordo informal com quem ocupar o Executivo para o STF perder protagonismo na mídia. Parte da animosidade que existe em setores da sociedade em relação ao Supremo decorre do fato de muitos dos seus juízes estarem todas as semanas na mídia. Há ocasiões em que o STF é chamado a ocupar o centro do palco, como no caso das ameaças à democracia, mas em 2027 os juízes do Supremo deveriam contribuir para uma maior calmaria institucional, “saindo à francesa”;
  3. indicação de juízes com ampla aceitação. Entre 1/1/2027 e 31/12/2030, três juízes do STF farão 75 anos. Sem deixar de reconhecer os méritos dos indicados, o fato é que as últimas quatro indicações ao Supremo foram marcadas por características específicas: Bolsonaro indicou um juiz com o argumento de “poder tomar uma tubaína com ele” e outro por ser evangélico; e Lula indicou seu advogado pessoal e seu ministro da Justiça. Seria bom que as próximas indicações sejam vistas como “neutras”, no terreno da política;
  4. mudança de procedimentos. Há uma agenda nesse campo, que abrange desde a adoção de um código de conduta acerca do que um juiz do STF pode ou não fazer, até o combate aos privilégios (penduricalhos y otras cositas mas), combate esse que, para ter maiores chances de prosperar, o Supremo deveria liderar.

A agenda é vasta. Pode não ocorrer nada disso, mas, nesse caso, que depois os interessados não se queixem se nas pesquisas a confiança na Justiça continuar baixa, se parte da população considerar que vivemos num país extremamente injusto e se uma proporção importante do eleitorado opinar que vivemos sob uma “ditadura da toga”.

Política do salário mínimo do governo Lula traz risco de um canibalismo fiscal de R$ 64 bilhões, Por Fabio Giambiagi, OESP

 Notícia de presente

Em 2016, o Brasil adotou o “teto de gastos”. Foi uma experiência relativamente bem-sucedida, no sentido de que o gasto primário, que em 2016 fora de 20,0% do PIB, caiu para 18,0% do PIB em 2022. O problema é que isso se deu mediante o achatamento das despesas discricionárias, cujos cortes haviam se iniciado em 2015 e que, em termos reais, encolheram a uma taxa acumulada de nada menos que 47% entre 2014 e 2020.

Naquele contexto, em razão da necessidade de alívio nessas contas, no biênio 2021/2022 as despesas discricionárias tiveram um crescimento real acumulado de 14%. Em 2023, tal relaxamento se acentuou e as “discricionárias” cresceram 15% a valores constantes.

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Um ponto a ressaltar é que nos governos Temer/Bolsonaro o gasto total tinha crescimento zero — isso quando o salário mínimo, indexador de dois de cada três benefícios previdenciários, também estava parado. Já no governo Lula 3, o gasto está crescendo e o salário mínimo também. O resultado é que neste governo reiniciou-se a fagocitose das despesas discricionárias pelo gasto do INSS e do Loas, que, como um polvo, vai tomando conta do resto da despesa.

Em texto publicado na revista Conjuntura Econômica (setembro de 2025), estimei o efeito da regra do salário mínimo do governo Lula 3 — comparativamente à despesa que seria registrada se o salário mínimo acompanhasse a inflação — na despesa somada de INSS e Loas em R$ 64 bilhões em 2026.

Isso significa que, se o salário mínimo tivesse acompanhado apenas a inflação, a despesa discricionária do ano que vem poderia ser mais de 30% superior à que provavelmente será de fato registrada, sem afetar a despesa total.

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Esse é o resultado do “canibalismo fiscal” do governo Lula, em que o gasto cada vez maior de INSS e Loas como fruto da política de “superindexação” do salário mínimo está corroendo as demais despesas, como nos governos Temer e Bolsonaro. É um processo em curso, considerando que, após a alta de 2023, o gasto discricionário teve uma contração real de 4% em 2024 e encolheu 12% em termos reais nos primeiros oito meses de 2025.

Aumento do investimento público? Não dá. Incremento do gasto em ciência e tecnologia? Não pode. Mais gasto em segurança, para proteger o cidadão? Esquece. São rubricas que vêm sendo comidas pelo incremento da despesa do INSS e assistencial provocado pelo aumento do salário mínimo.

Pergunta ao presidente da República: a política será mantida depois de 2027? Se for, a despesa discricionária será como o urso panda: um animal em extinção.

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Opinião por Fabio Giambiagi

Economista, formado pela FEA/UFRJ, com mestrado no Instituto de Economia Industrial da UFRJ

Falta de trabalhadores no comércio é a maior dos últimos 5 anos, diz setor, JN

 A falta de trabalhadores no comércio é a maior dos últimos 5 anos, aponta levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Para atrair profissionais, as empresas estão oferecendo mais benefícios.

Não tem nem três meses que o Nicolas está trabalhando em uma empresa de logística, na Grande São Paulo, e ele já está cheio de planos: ele quer cursar a faculdade de logística, disse.

A empresa, que recebe 1 milhão de pacotes por dia, está apostando em mão de obra jovem para tentar preencher cerca de 60 vagas.

Um levantamento da CNC aponta falta de mão de obra em 57 das 100 principais profissões do varejo.

A empresa em que a Bruna Campos, gerente executiva de RH, trabalha, entrou em alerta para a falta de profissionais há quatro meses. E, para atrair candidatos, passou a oferecer vários atrativos, como salários maiores e vale-alimentação dobrado para quem não falta no mês. "Ainda assim está difícil", diz.

O problema atinge principalmente o comércio eletrônico, como explica o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes.

"Nos últimos 12 meses o salário médio de admissão no Brasil cresceu mais de 5%. E a gente tem algumas profissões no comércio em que esse salário de admissão chegou a crescer quase 10%. Ou seja, um indício fortíssimo de escassez. É uma forma que o empregador tem de tentar resolver o problema dele de uma forma mais rápida", afirma o economista.

O profissional que mais falta no mercado é operador de telemarketing. O salário inicial subiu quase o dobro da inflação dos últimos 12 meses. Depois vêm analista de pesquisa de mercado e analista de negócios, que também tiveram alta nos salários.

O que vai requerer mais tempo, segundo o economista-chefe da CNC, é a solução para a falta de mão de obra no setor.