quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Eletrobras anuncia mudança de nome para Axia Energia, FSP

 

Rio de Janeiro

Privatizada em 2022 pelo governo Jair Bolsonaro (PL), a Eletrobras anunciou nesta quarta-feira (22) que passará a se chamar Axia Energia, abandonando um dos últimos símbolos de seus tempos de empresa estatal.

"Hoje, começamos a escrever um dos capítulos mais importantes na história da maior empresa de energia renovável do Hemisfério Sul", disse, em nota, o presidente da companhia, Ivan Monteiro.

Um homem de terno preto e gravata cinza está sentado em uma mesa, gesticulando com as mãos enquanto fala. Ele tem cabelo grisalho e uma expressão séria. Ao fundo, há quadros com desenhos ou gráficos nas paredes e uma planta em um canto. O ambiente parece ser um escritório moderno.
O presidente da Eletrobras, que passa a se chamar Axia, Ivan Monteiro, na sede da empresa no centro do Rio - Zô Guimarães - 26.mai.25/Folhapress

A mudança de nome ocorre meses depois de acordo com o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para encerrar ações que questionavam a privatização da companhia.

No acordo, a Eletrobras entregou ao governo duas vagas em seu conselho de administração em troca de se livrar da obrigação de investir na conclusão da usina nuclear Angra 3. Na semana passada, anunciou a venda de sua fatia na estatal Eletronuclear ao grupo J&F, dos irmãos Batista.

"Essa mudança traduz um movimento profundo de transformação que a empresa viveu nos últimos três anos e também seus desafios de negócio", afirmou Monteiro.

"Evoluímos nossa governança, ampliamos investimentos, fortalecemos nossa estrutura e nos reposicionamos para responder a um setor em transição, marcado por novas tecnologias, mudanças regulatórias e novos padrões de consumo."

A palavra Axia vem do grego e significa "valor" e, segundo a companhia, "carrega a ideia de eixo – de conexão, articulação e centralidade". "Reflete nossa essência: energia que conecta pessoas, negócios e desenvolvimento", disse Monteiro, em nota distribuída nesta quarta.

Nestlé adota agricultura regenerativa para aliviar arroto e pum da vaca, FSP

 

São Paulo

Espaço para caminhar. Temperatura e umidade controladas. Chão forrado por cascas de café ou maravalhas, constantemente trocadas para tudo ficar bem limpo. Comida natural. Silagem de plantas produzidas a partir de agricultura regenerativa, sistema que atua para restaurar o solo e manter a sua biodiversidade.

Assim vivem 39 mil vacas que fazem parte do maior programa de agricultura regenerativa voltada à redução de emissões de gases de efeito estufa na cadeia do leite no país. Mantido pela Nestlé Brasil, ele já conta com mil produtores. Detalhe: cerca de 8.000 dessas vacas usam um colar com inteligência artificial, que monitora detalhes do comportamento.

Vaca que integra programa de agricultura regenerativa da Nestlé para a pecuária leiteira; iniciativa envolve cerca de 39 mil animais em mil fazendas - Divulgação

Formatado em 2022, esse programa já ajudou a reduzir as emissões na produção de leite em 14%, segundo levantamento da empresa.

Para ampliar as ações, a Nestlé Brasil, nesta terça-feira (21), anunciou uma parceria com o Banco do Brasil para facilitar a concessão de R$ 100 milhões em crédito para fazendas de gado leiteiro interessadas em implementar práticas sustentáveis de produção. A empresa entra como garantidora de que os recursos serão aplicados para reduzir emissões.

Cortar emissões na pecuária não é tarefa fácil. O principal problema, explica Bárbara Sollero, chefe da área de Agricultura Regenerativa da Nestlé Brasil, é que elas são causadas pela mera existência do animal. Ocorrem quando ele digere o seu alimento, principalmente com a liberação de gases. Sim, a emissão vem principalmente do arroto e do pum.

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É preciso também alimentar um número crescente de pessoas. Mais bifes e copos de leite costumam demandar aumento do rebanho —com a consequência inevitável de carregar a atmosfera com mais gases.

Sollerro explica que, nas fazendas brasileiras, 40% das emissões vêm dos animais, mas o restante é responsabilidade de outros fatores, sendo que metade sai da produção do alimento para o rebanho.

Assim, a Nestlé tem descarbonizado a produção de leite com uma estratégia diferente. Atua muito no entorno do rebanho: o ambiente em que ele vive e, especialmente, na produção do que come.

Economia Verde na Prática

Leia série de reportagens sobre soluções de empresas às vésperas da COP30

Na prática, a vaca continua ruminando e liberando praticamente a mesma quantidade de gases ao longo do dia, mas vivendo e comendo melhor, produz mais leite —o que muda é a relação entre volume produzido e emissões totais.

Algumas fazendas levam o bem-estar do animal ao limite para evitar estresse. Há quem toque música na hora da ordenha e ofereça bolas para as vacas brincarem. Outras têm equipamento para coçar o couro e até aquele aparelho que solta brisa refrescnte, que a gente encontra em calçadão de praias.

Segundo a executiva, as fazendas estão em estágios diferentes dentro do programa. Nas mais avançadas, o galpão principal funciona com energia 100% renovável: painéis solares abastecem ventiladores, sistemas de aspersão e a refrigeração do leite.

Na produção de alimentos, há rotação de mais de quatro culturas ao longo do ano —tomate, milho, soja, feijão— associadas a plantas de cobertura, o que aumenta a captura de carbono no solo e, ao mesmo tempo, produz forragem para o rebanho. É proibida a compra de insumos de área desmatada.

Resultado: a pegada de carbono ficou 39% menor quando comparada à de fazendas convencionais. O custo com a silagem caiu 8%. A produtividade dos melhores animais cresceu 47%.

"Segundo o IBGE, uma vaca no Brasil produz, em média, oito litros por dia. As nossas vacas, nesse sistema, estão produzindo 35 litros em média. As propriedades mais eficientes chegam a 40 litros", diz Soller.

"Cerca de 70% do leite que a gente compra hoje aqui no Brasil vem diretamente das fazendas que estão aplicando esse programa de práticas regenerativas."

A atuação na pecuária leiteira faz parte de um conjunto de ações que a Nestlé mantém para reduzir suas emissões globais. Tendo 2018 como ponto de partida, a meta é cortar metade até 2030, e chegar a zero até 2050.

No início da outubro, a Nestlé abandonou a Dairy Methane Action Alliance, uma aliança global que ela mesma ajudou a criar em 2023 para reduzir as emissões de metano na produção de laticínios. A empresa não justificou a decisão e apenas declarou que faz revisão constante de suas iniciativas.

A diretora de Transformação do Negócio e ESG na Nestlé Brasil, Bárbara Sapunar, disse à Folha que a empresa se mantém empenhada em reduzir as suas emissões.

"Não estamos desistindo do nosso compromisso com o metano. Nosso compromisso está super forte. A meta de diminuição de gastos de efeito estufa até 2025 foi entregue antes. Em nível global, a gente está entregando menos 21% de gastos de efeito estufa", afirmou Sapunar.

As executivas afirmam que o Brasil é estratégico nesse trabalho. Cerca de 25% dos principais ingredientes adquiridos pela Nestlé no mundo saem daqui. Além do leite, são destaque cacau e café, que também contam com programas de agricultura regenerativa para reduzirem as emissões.

A empresa vai, inclusive, defender esse sistema de produção COP30 (30ª conferência da ONU sobre mudanças climáticas). A Nestlé vai liderar um painel sobre agricultura regenerativa na "blue zone", área onde ocorrem as negociações entre os países-membros da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), vai participar de discussões sobre o tema na "green zone", local que reúne empresas, entidades e ONGs, e também vai estar na chamada Agrizone, área coordenada pela Embrapa.


ENTENDA A SÉRIE

série "Economia Verde na Prática" apresenta soluções de mercado que demonstram o potencial das empresas no Brasil para atuarem como protagonistas na descarbonização. As experiências abordadas pelas reportagens foram coletados entre integrantes de duas alianças empresariais criadas para a COP30, a C.A.S.E., que reúne Bradesco, Itaúsa, Itaú-Unibanco, Marcopolo, Natura, Nestlé e Vale, e a Coalizão do Setor Elétrico para a COP30, composta por 73 empresas e oito associações.

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Escala de trabalho atual é 7X0, Mariliz Pereira Jorge -FSP

 Trabalhar nunca foi tão exaustivo. Médico virou divulgador de si mesmo, padeiro filma a fornada, pedreiro mostra a obra em vídeo curto, advogada comenta decisão como se apresentasse telejornal. Autônomo e funcionário com carteira disputam o mesmo palco, a própria vitrine. Hoje não basta fazer, é preciso parecer; não basta entregar, é preciso narrar, e quem não se anuncia vira paisagem.


Depois dos 50, o roteiro inclui outro turno: entregar no emprego enquanto já rascunho o próximo, porque o mercado quer ver "presença", "atualização", "relevância". Não sou eu que digo. Antes de ligar, o recrutador já fuça Google, LinkedIn, Instagram e qualquer outro rastro: currículo virou nota de rodapé do comportamento digital.

Homem sentado em ambiente escuro olha para a luz do computador enquanto é envolto por um monstro preto que segura a tela do notebook
No fim do dia, virei minha própria chefe tóxica, aquela que não respeita horário, que cobra um post melhor, que olha minha vida íntima como ativo de marketing - Catarina Pignato

Minha lista diária inclui manter as redes em dia, parecer esperta no que escrevo e ainda sustentar uma vida pessoal interessante o bastante para render assunto, com amizades e programas fotogênicos. Vale para todos: a vida virou apresentação de imagens, e quem some do visor perde lugar. A comédia é que tudo tem potencial de conteúdo. Tenho 60 mil fotos guardadas no celular porque, vai que, um dia preciso daquela imagem exata do meu café frio de 2021 para ilustrar uma sacada brilhante —ou qualquer outro troço.

Sugeriram que eu monte um clube do livro (mais um?!). Mal tenho tempo de ler o que preciso para o dia render. Saio para um chope e volto com contatos, a mesa vira triagem e a conversa sempre termina com um "vamos pensar em algo juntos", de modo que as pessoas não se encontram, se avaliam. E eu também faço isso, por medo de desaparecer.

A parte mais desonesta é a exigência de biografia "invejável". Não basta competência; tem que ter narrativa irresistível, rede impecável, casca grossa e brilho perene. A receita está dada por toda parte: clareza de proposta, coerência entre o que você faz e o que você mostra, visibilidade constante, como se atualizar fosse uma obrigação moral. O recado subliminar é simples: sem presença digital decente você some, inclusive porque muita vaga circula no subterrâneo das indicações.

Cansa. Cansa performar a própria existência enquanto tento pagar as contas. Cansa medir cada frase pelo potencial de engajamento. Cansa ficar interessante por atacado: carreira, viagem, amizade, rotina, tudo empacotado em carrossel. Cansa caminhar com a cabeça um passo à frente do presente, sempre pensando "isso rende? isso me posiciona?". No fim do dia, virei minha própria chefe tóxica, aquela que não respeita horário, que cobra um post melhor, que olha minha vida íntima como ativo de marketing.

Fala-se do fim da escala seis por um, o que é bonito no papel. Na prática, quase todo mundo trabalha sete por zero para manter presença e não escorregar pro fim da fila, porque tem sempre alguém para dizer algo e ser ouvido. Nunca fomos tão escravos do tempo, do trabalho e da imagem. Não há virada inspiradora à vista, há a rotina de apertar mais um pouco no sábado, mais um pouco no domingo, mais um pouco no feriado, só para não desaparecer.