sexta-feira, 3 de outubro de 2025

As muitas facetas de Chico Anysio, até as menos elogiáveis, Gustavo Alonso - FSP

 Estreou no último dia 25 no Globoplay a série "Chico Anysio: Um Homem à Procura de um Personagem". Ela foi escrita e dirigida pelo filho de Chico, o também comediante Bruno Mazzeo. Cinco episódios de 45 minutos contam, do nascimento até a morte, a vida artística e íntima do criador de 209 tipos marcantes na TV brasileira.

Um homem com cabelo grisalho e liso, usando um terno escuro e uma gravata listrada, está sentado em uma mesa de escritório. Ele faz um gesto com a mão, segurando algo entre os dedos. Ao fundo, há uma lousa e alguns livros empilhados na mesa. Um boneco pequeno está posicionado ao lado dele.
Chico Anysio caracterizado como Professor Raimundo - Acervo Globo/Divulgação

A série de um filho sobre seu pai tinha tudo para ser chapa-branca, convencional e adulatória. Mas Bruno Mazzeo consegue fazer um produto que se sustenta em pé por si só, para além da genialidade do pai. Há alguns anos Mazzeo produziu a sensacional "Filhos da pátria", série da Globo que misturou história e humor de forma refinada e crítica. Nesta nova produção, o principal mérito foi não fazer uma hagiografia do pai.

A hagiografia é aquela escrita acerca dos santos. É um relato banal e excessivamente elogioso de figuras acima do bem e do mal, indivíduos sem defeitos supostamente distantes das circunstâncias mundanas que os cercam. Ao contrário, o Chico Anysio de Bruno Mazzeo é um homem do seu tempo, com todas as implicações que isso envolve.

A série mostra como Chico era um ser essencialmente do rádio. Seu maior sucesso, a "Escolinha do professor Raimundo", era um produto radiofônico que foi transportado para a TV. Seus personagens icônicos em programas como Chico City (1973-1980), Chico Anysio Show (1982-1990) e Chico Total (1981 e 1996) eram essencialmente a mesma atração desde a época em que ele se destacou nas rádios Mayrink Veiga e Nacional.

As relações patrimonialistas que desenvolveu com o meio humorístico são mostradas na série em toda sua ambiguidade. Como coronel do humor, Chico era dadivoso com os seus, mas carregava nas costas os custos, financeiros e afetivos, de se responsabilizar pelos colegas.

Daí que quando foi suplantado por uma nova geração do humor que nada lhe devia em bênçãos, aquela do Casseta & Planeta e da TV Pirata, Chico reagiu de forma ríspida, grosseira e coronelística. Escanteado da própria Globo, emissora que ajudou a forjar, Chico se deprimiu na velhice. A morte um tanto deslocada revelou a mudança dos tempos e também a teimosia do gênio.

Os fracassos de Chico são mostrados em cores, até na vida pessoal, na qual viveu seis casamentos. Alguns terminaram por seu machismo. Outros por Chico ser um workaholic, que pouco tempo tinha para vida familiar.

Faltou algo? Claro, um gênio complexo como Chico Anysio sempre tem lacunas não cobertas numa série biográfica. Chamou atenção que nada foi dito sobre a produção literária do humorista. Além de livros de humor, Chico escreveu em 2000 o livro "Como segurar seu casamento". Quando confrontado com a questão de como um homem que foi casado seis vezes poderia falar de "segurar o casamento", ele dizia: "Quem foi casado com dona Maria a vida toda não sabe de casamento, sabe da dona Maria. Eu sei de casamento, até pelos erros que cometi".

Outra faceta também ignorada na série de Bruno Mazzeo é a do compositor. Chico Anysio teve diversos parceiros musicais, destacando-se Arnaud Rodrigues, Renato Piau, Nonato Buzar, João Roberto Kelly, Luiz Gonzaga, Ary Toledo, Dominguinhos e Wando. Cantaram músicas de Chico cantores do quilate de Orlando Silva, Ivon Curi, Dolores Duran, Dalva de Oliveira, Marlene, Cauby Peixoto, Doris Monteiro, Maysa, Agnaldo Timóteo, Jair Rodrigues, Maria Alcina, Antonio Marcos, MPB-4, Os Cariocas, Elymar Santos, Golden Boys, Benito Di Paula, Martinho da Vila, Pery Ribeiro, Mussum, Elis Regina, Anastácia, Sérgio Reis, José Augusto, Maria Creuza, Ronnie Von, Tony Tornado, Alcione, Jane Duboc, Wilson Simonal, Roberta Miranda, Zeca Baleiro, Casuarina e Mastruz com Leite.

Mesmo com essas lacunas, a obra de Bruno Mazzeo mostra um caminho interessante para a Globoplay, que vem patinando com séries biográficas muito pouco críticas a seus personagens. A série sobre Jô Soares, por exemplo, não tem o mesmo brilho. O filme biográfico sobre Raul Seixas patina na complexidade do artista.

Chico, em diversas facetas, até as menos elogiáveis, aparece em carne viva na tela. Mérito de um filho corajoso, que sabe que nada é capaz de apagar a genialidade do pai.


Fachin mostrou a que veio, Elio Gaspari, FSP

 O ministro Edson Fachin assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal ao seu estilo, com um discurso longo, tedioso e até descuidado. Misturou num mesmo parágrafo seu compromisso com a liberdade de imprensa e com o "bem-estar dos servidores".

Ainda assim, disse a que veio, com boas notícias. Por exemplo: "A prestação jurisdicional não é espetáculo. Exige contenção." Ou: "Assumo aqui compromisso de uma gestão austera no uso dos recursos públicos pelo Judiciário. A diretriz será a austeridade." Fora do mundo das palavras e promessas, Fachin resgatou a tradição de Rosa Weber, e cancelou a pajelança com que lobistas festejam posses. Há registro de eventos com a presença de magistrados para provar uísques, na Europa, com patrocínio de um banco mambembe.

Ministro do Supremo Tribunal Federal sentado em cadeira de couro marrom, vestindo toga preta, falando em microfones em ambiente institucional com parede de mármore ao fundo.
Sessão de posse do ministro Edson Fachin como presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) - Pedro Ladeira/Folhapress

O Judiciário brasileiro alterna momentos de brilho com maus hábitos de vilegiaturas, mordomias e penduricalhos. Se Fachin persistir no exemplo, influenciando a bancada da charanga, todo mundo terá a ganhar. Nem todos os ministros do STF formam essa bancada, mas são eles que acabam passando a impressão de que o tribunal é uma festa móvel fazendo de cada feriadão um pretexto para excursões. Ministros do Supremo fazem-se acompanhar por seguranças e, num caso, chegaram a reclamar porque o consulado do Brasil em Nova York descuidou de contratar escoltas.

Os magistrados austeros levam uma desvantagem quando são comparados aos juízes espetaculares. Numa corporação de 18 mil juízes, tem-se de tudo, mas o magistrado que evita os refletores acaba vítima da própria virtude. Sucede com os juízes algo que envenena parte da corporação militar. Ninguém ouve quem só fala nos autos, e ouve-se quem fala de tudo, a qualquer hora. Magistrados como Rosa Weber podem até ser a norma, mas não chamam atenção.

Mesmo tendo uma sucessão presidencial durante seu período na presidência do tribunal, pode-se estimar que Fachin terá um biênio tranquilo, sem o vandalismo do 8 de janeiro e sem as tensões que acompanham o processo da trama golpista.

Se o novo presidente do Supremo Tribunal Federal viajar em avião de carreira, sem capangas, terá dado um bom exemplo. Não passa pela cabeça de um juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos viajar com escolta para eventos empresariais. O que o Supremo Tribunal precisa é do exemplo de austeridade, e Fachin sempre se manteve ao largo das farofas. Esse magistrado de 67 anos chegou ao tribunal durante o governo de Dilma Rousseff e completou dez anos na cadeira sem as marcas do deslumbramento que viraram a cabeça de alguns de seus pares.

Fachin vem de uma cepa de colonos gaúchos que ajudaram a construir o Paraná. Foi estudar na cidade grande, levando consigo apenas a passagem de ida. Pouco a ver com carreiras de magistrados de salão.

Em seu discurso de posse, Fachin falou de quase tudo, alternando platitudes e promessas. Se ao fim de dois anos ele tiver deixado a marca da austeridade, terá continuado a obra de Rosa Weber, uma presidente do tribunal que não aparecia em farofas e pouco falava.

Se nem o filho 03 acredita em Bolsonaro, quem acredita?, Álvaro Costa e Silva FSP

 "Me levantarei como uma leoa para defender nossos valores conservadores, verdade e justiça." Com essa frase típica de palanque, Michelle Bolsonaro admitiu ao jornal britânico The Telegraph a possibilidade de concorrer à Presidência, em 2026. Bem avaliada nas pesquisas de intenção de voto, mais até que os filhos de Bolsonaro, com os quais não tem um bom relacionamento, a ex-primeira-dama acrescentou que, caso saia candidata, será pela "vontade de Deus".

Certamente é a vontade do pastor Silas Malafaia, que poderia formar a chapa com Michelle ou virar a eminência parda de um regime teocrático, da senadora Damares Alves, que se imagina com poderes de superministra, e, não por último, do maquiador Agustin Fernandez, cujo sonho é criar looks deslumbrantes para a futura presidente do Brasil.

Bolsonaro só aceita que a mulher dispute uma cadeira no Senado. Ele, e somente ele —hoje um leão doente, inelegível e condenado a 27 anos de cadeia—, reúne condições de enfrentar Lula na corrida ao Planalto. Até seu último suspiro de liberdade, terá esperança na anistia-zumbi.

Ao receber Tarcísio de Freitas no condomínio onde cumpre prisão domiciliar, o capitão ouviu que o governador de São Paulo será candidato à reeleição. Pode ter ficado satisfeito com a visita de cortesia, mas se acreditou na declaração são outros quinhentos. Ele sabe que Tarcísio, com apoio do centrão de Arthur Lira e Ciro Nogueira, não desistiu de Brasília. Está apenas dando um tempo.

O filho 03 não esconde sua ambição presidencial. Ameaçado de prisão preventiva, confia nas milícias digitais, na extrema direita internacional de Steve Bannon e nas apostilas de Aldo Rebelo para concorrer no ano que vem mesmo sem perspectiva de vitória. Perder para Lula é o de menos, desde que o bolsonarismo continue liderado por um herdeiro de sangue.

O presidente do PLValdemar Costa Neto, disse que a insistência de Eduardo vai matar o pai. Só que, ao que parece, ele, Michelle e Tarcísio já consideram Bolsonaro politicamente morto.