sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Se nem o filho 03 acredita em Bolsonaro, quem acredita?, Álvaro Costa e Silva FSP

 "Me levantarei como uma leoa para defender nossos valores conservadores, verdade e justiça." Com essa frase típica de palanque, Michelle Bolsonaro admitiu ao jornal britânico The Telegraph a possibilidade de concorrer à Presidência, em 2026. Bem avaliada nas pesquisas de intenção de voto, mais até que os filhos de Bolsonaro, com os quais não tem um bom relacionamento, a ex-primeira-dama acrescentou que, caso saia candidata, será pela "vontade de Deus".

Certamente é a vontade do pastor Silas Malafaia, que poderia formar a chapa com Michelle ou virar a eminência parda de um regime teocrático, da senadora Damares Alves, que se imagina com poderes de superministra, e, não por último, do maquiador Agustin Fernandez, cujo sonho é criar looks deslumbrantes para a futura presidente do Brasil.

Bolsonaro só aceita que a mulher dispute uma cadeira no Senado. Ele, e somente ele —hoje um leão doente, inelegível e condenado a 27 anos de cadeia—, reúne condições de enfrentar Lula na corrida ao Planalto. Até seu último suspiro de liberdade, terá esperança na anistia-zumbi.

Ao receber Tarcísio de Freitas no condomínio onde cumpre prisão domiciliar, o capitão ouviu que o governador de São Paulo será candidato à reeleição. Pode ter ficado satisfeito com a visita de cortesia, mas se acreditou na declaração são outros quinhentos. Ele sabe que Tarcísio, com apoio do centrão de Arthur Lira e Ciro Nogueira, não desistiu de Brasília. Está apenas dando um tempo.

O filho 03 não esconde sua ambição presidencial. Ameaçado de prisão preventiva, confia nas milícias digitais, na extrema direita internacional de Steve Bannon e nas apostilas de Aldo Rebelo para concorrer no ano que vem mesmo sem perspectiva de vitória. Perder para Lula é o de menos, desde que o bolsonarismo continue liderado por um herdeiro de sangue.

O presidente do PLValdemar Costa Neto, disse que a insistência de Eduardo vai matar o pai. Só que, ao que parece, ele, Michelle e Tarcísio já consideram Bolsonaro politicamente morto.

Ligado ao ET Bilu, criador da teoria do Ratanabá manteve acordo com gestão Tarcísio, FSP

 Isabella Menon

São Paulo

"Busquem conhecimento." Registradas por uma equipe da Record em 2010, essas palavras viraram meme e alçaram seu suposto autor, o ET Bilu, a personagem do imaginário brasileiro. A fama também alcançou o homem que seria o interlocutor do extraterrestre, Urandir Fernandes de Oliveira. Ele ganhou notoriedade entre defensores de teorias conspiratórias e fechou uma parceria com o Governo de São Paulo.

O objeto do acordo é o Caminho de Peabiru que é, oficialmente, uma rede de trilhas indígenas pré-colombianas que atravessava a América do Sul e ligava o litoral atlântico brasileiro, na região de São Vicente, em São Paulo, até os Andes, no Peru. A rota é atribuída aos povos indígenas e teria sido usada para comércio, trocas culturais e também peregrinação.

Porém, a empresa de Urandir, a Dakila Pesquisas, defende que existe uma ligação do caminho com Ratanabá, uma cidade –cuja existência não é reconhecida por arquelogistas e pesquisadores– no norte do Brasil que teria sido fundada por extraterrestres há cerca de 450 milhões de anos.

Dois homens sentados à mesa durante coletiva. Homem à direita segura microfone e lê documento; homem à esquerda observa. Ao fundo, banner com texto sobre pesquisas científicas e desenvolvimento tecnológico. Garrafas de água e copos estão sobre a mesa.
Urandir Fernandes de Oliveira (de camisa cinza), da Dakila, com o secretário de Turismo do Estado de São Paulo, Roberto Lucena; entidade fez parceria com a gestão estadual - Reprodução/ Dakila Pesquisas no Youtube

Em junho de 2024, a Dakila assinou um protocolo de intenções com a gestão de Tarcísio de Freitas, por meio da Setur (Secretaria de Turismo). Conforme divulgado na época, o objetivo era explorar o milenar caminho.

No material divulgado pelo governo paulista na ocasião do acerto, Ratanabá não é citada. Porém, algumas teorias que são tidas como controversas são descritas, como o fato de que elas atravessariam o oceano, "chegando até o Monte Nemrut, na Turquia".

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No anúncio da assinatura do protocolo é divulgado que o protocolo tinha como objetivo revitalizar e mapear no território paulista como forma de fomentar o turismo da região. A parceria foi cancelada seis meses depois, no dia 30 de dezembro, em decorrência de ausência de resultados.

Em seu site e suas redes sociais, Dakila defende que a exploração da região é parte de um "ambicioso projeto com objetivo de mostrar todas as interligações, principalmente do litoral brasileiro até o coração da Amazônia/Ratanabá". "Estabelecendo um mapeamento que será verdadeiramente histórico e trará muitas novidades para a ciência mundial", diz.

A Dakila fez ao menos duas visitas a prefeituras do estado de São Paulo, em Cananeia e São Vicente. De acordo com a Prefeitura de São Vicente, o grupo esteve na cidade em março deste ano e se apresentou como tendo um convênio com a Secretaria de Turismo —na data , o acordo com o governo de São Paulo já tinha sido cancelado.

A gestão municipal afirma que, antes de receber a entidade, procurou a diretoria técnica do Governo de São Paulo e recebeu a informação de que, sim, a parceria existia. A gestão Tarcísio, por meio da Secretaria de Turismo, diz que, quanto "ao uso indevido da marca, a pasta adotará as medidas administrativas e legais cabíveis".

"Foi durante a visita e após a repercussão que tivemos conhecimento aprofundado sobre as críticas e controvérsias envolvendo a Dakila Pesquisas, incluindo o posicionamento da Sociedade de Arqueologia Brasileira", diz a secretaria de turismo de São Vicente, Juliana Santana.

"Não compactuamos com qualquer forma de pseudociência", completou.

Já a cidade de Cananeia diz que as ações promovidas por Dakila não contaram com apoio ou auxílio financeiro da prefeitura e que a entidade prometeu um relatório técnico gratuito que nunca chegou.

A reportagem solicitou uma entrevista com Urandir. Por meio da assessoria de imprensa, foi informada que deveria encaminhar os questionamentos por email, que seriam respondidos. A empresa confirmou que o acordo com a gestão estadual acabou em dezembro deste ano e disse que a pesquisa sobre Peabiru segue de forma independente, mas não respondeu sobre as relações que faz sobre Ratanabá.

Na madrugada desta quinta, Urandir publicou um vídeo nas redes sociais em que critica a Folha e o jornal O Globo. Ele diz que os questionamentos encaminhados por email pela reportagem são tendenciosos e fruto de uma "reportagem paga". "Deixem Dakila em paz, quieto, se não nós vamos realmente lançar algumas sujeiradas de vocês aí, tá?"

Ao final, citou a conhecida frase do ET Bilu ao pedir que os jornais "busquem conhecimento".

Quatro homens posam juntos em ambiente interno com iluminação artificial. O segundo homem da esquerda segura um documento aberto com texto visível, enquanto os outros três sorriem e apoiam os braços nos ombros uns dos outros. Eles vestem roupas casuais, incluindo camisa xadrez, camiseta branca com logo e camiseta branca lisa. Ao fundo, há uma parede bege, uma luminária no teto e uma placa preta com texto dourado parcialmente legível.
À esq., Urandir Fernandes de Oliveira, fundador da Dakila Pesquisas ao lado do secretário de Turismo Roberto de Lucena - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

'Irmão e grande amigo'

O secretário de Turismo do Estado de São Paulo, Roberto Lucena, na assinatura do protocolo, em junho do ano passado, fez elogios a Urandir. "Você que é meu irmão, que é meu amigo, muito obrigado pela sua amizade." O momento foi registrado nas redes sociais da Dakila.

"É uma rota turística pouco conhecida, mas, a partir desta assinatura, o estado, por meio da secretaria de Turismo, mapearão as informações culturais e científicas a fim de criar a oferta turística e uma rota de aventura e contemplação", diz o secretário.

Lucena aparece com Urandir também na entrega de um prêmio, em julho deste ano, da Academia Brasileira de Honrarias ao Mérito, na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo).

Em 2020, o secretário, então deputado federal, também esteve com Urandir no encontro com Mario Frias, quando o empresário teria falado de Ratanabá —as teorias sobre a suposta cidade foram publicadas por Frias nas redes sociais. Na época, Lucena postou no Facebook sobre o encontro e não cita Ratanabá, mas diz que a reunião tratou sobre o Caminho de Peabiru.

A reportagem questionou a Secretaria de Turismo sobre a relação de Lucena com Urandir, mas não obteve retorno. A Folha apurou que a pasta considera que não pode negar ou restringir parcerias em decorrência de viés e que foi procurada pela empresa, que alegou ter ferramentas e tecnologia para o desenvolvimento da rota.

Para especialistas em arqueologia, o protocolo firmado com o governo de São Paulo trata-se uma forma de legitimar uma espécie de ecossistema criado por Urandir, apontado como propagador de pseudociência e teorias conspiratórias.

O protocolo de intenções foi alvo de investigação por parte da deputada federal Sâmia Bômfim (PSOL-SP), que solicitou esclarecimentos ao Governo do estado de São Paulo e acionou o Ministério Público. A Promotoria arquivou o caso por não encontrar irregularidades, uma vez que a parceria não previu repasse do estado ao parceiro privado.

A atuação de Dakila não é reconhecida pela SAB (Sociedade Arqueologia Brasileira). Em um dossiê produzido pelo historiador e arqueólogo Artur Barcelos, a entidade alerta para as constantes tentativas da empresa de Urandir de obter licenças para pesquisas arqueológicas na amazônia brasileira.

"A ciência arqueológica refuta em absoluto essa tese", diz ele, que descreve que a teoria indica ainda que um povo extraterrestre chamado Muril veio há Terra e, há milhões de anos, criou a cidade de Ratanabá e os caminhos a ela conectados. Para ele, o protocolo de intenções foi uma forma do governo divulgar a empresa.

Dakila também tenta firmar parcerias em universidades. A Universidade Estadual do Amazonas havia firmado um termo de cooperação no início deste ano, mas afirma que o projeto foi cancelado. A instituição não explicou o motivo do cancelamento.

Juiz ordena que Ratinho prove ou se retrate de acusações contra Chico Buarque, FSP

 Chico Buarque está processando o apresentador Ratinho porque ele teria vinculado o engajamento político do cantor a um suposto favorecimento na Lei Rouanet —informação negada pelo compositor.

A declaração de Ratinho foi feita na rádio Massa FM, de sua propriedade, em 15 de setembro. Também foram acionados na Justiça os youtubers Thiago Asmar (Pilhado) e a suplente de vereadora de Teresina Samantha Cavalca (PP).

Quatro homens estão cantando em um palco ao ar livre. Eles estão vestidos de maneira casual, com um deles usando uma camisa amarela, outro uma camiseta branca, um terceiro uma camisa cinza e o último uma camiseta verde. Ao fundo, há um edifício de vidro e outros prédios. Um dos homens está segurando um microfone, enquanto os outros estão próximos, cantando juntos. Um músico com uma guitarra está ao lado deles.
Caetano Veloso, Djavan, Chico Buarque e Gilberto Gil em ato musical contra a PEC da Blindagem, em Copacabana - Mídia Ninja/Reprodução

"Rico de esquerda é fácil. Chico Buarque ser de esquerda é fácil. Bebe champanhe, come caviar. O Caetano Veloso ser de esquerda é fácil, come caviar, mora no Rio de Janeiro, pega dinheiro da Lei Rouanet, aí é fácil", afirmou o apresentador. A fala de Ratinho viralizou após a participação de Chico e Caetano nas manifestações contra a PEC da Blindagem e contra a anistia aos condenados no 8 de Janeiro, realizada em Copacabana, no Rio de Janeiro, em 21 de setembro.

Em decisão de quinta (2), o juiz Victor Agustin Cunha Jaccoud Diz Torres, da 41ª Vara Cível do Rio de Janeiro, deu um prazo de cinco dias para que os três réus se retratem dos comentários ou "demonstrem minimamente em juízo a veracidade [do que disseram] –notadamente quanto ao recebimento, pelo autor, de recursos públicos da Lei Rouanet ou das gestões do Partido dos Trabalhadores".

"Tudo sob pena de se configurar crime de desobediência, o que, em tese, justificaria a prisão em flagrante", acrescenta o magistrado.

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Chico Buarque é representado pelos advogados João Tancredo e Maria Isabel Tancredo. Na ação inicial, o cantor pede que os réus paguem indenização no valor de R$ 50 mil cada.

"Chico jamais recebeu qualquer dinheiro oriundo de verba pública, de qualquer natureza. As premissas que norteiam o vídeo [de Thiago Asmar] são simplesmente falsas, gerando flagrantemente um conteúdo de desinformação e em abuso do direito de livre manifestação. Há que se dizer, não há no ordenamento jurídico pátrio qualquer proteção à mentira ou a propagação de desinformação, pelo contrário. Daí é que o vídeo propagado não se confunde com direito à livre manifestação, pois não existe o direito de mentir –em especial para violar a honra e ferir a reputação de terceiros", dizem os advogados no processo.

Procurados, Ratinho e Thiago não se manifestaram até a publicação deste texto. Já Samantha disse não ter conhecimento sobre a existência da ação e afirmou que está à disposição para "esclarecer tudo o que for necessário ao Poder Judiciário."

"O compositor de 'Cálice' tá querendo me calar? Típico da esquerda caviar que se diz a favor da democracia e adora censurar quem não pensa como eles. Quero aproveitar a oportunidade pra destacar que Chico Buarque provou que não precisamos regular as redes sociais, já estamos censurados mesmo. Triste fim pra um compositor que tinha no currículo a luta pela liberdade de expressão", afirmou ela.

Chico, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram as estrelas da manifestação contra a PEC da Blindagem.

Ivan LinsPaulinho da Viola, Frejat, Lenine, Geraldo Azevedo, Jorge Vercillo, Maria Gadu, Marina Sena e o conjunto Os Garotin também cantaram em Copacabana. Em paralelo, nomes como Wagner Moura, Daniela Mercury, Chico César e Fernanda Takai participaram de protestos pelo país, em capitais como Salvador, Brasília e Belo Horizonte.