quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Pagamentos por Serviços Ambientais: entre a promessa e a realidade, Pedro Garcia- FSP

 

Pedro Garcia

Coordenador de Sustentabilidade da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais). Formado em engenharia de produção, trabalha no setor da soja há quase uma década

Quando falamos em Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), ouvimos discursos que associam essa política a uma solução elegante, capaz de conciliar produção, conservação e desenvolvimento sustentável.

Na prática, o que temos visto no Brasil são iniciativas pontuais, pilotos de curta duração, majoritariamente promovidos pelo setor privado que, apesar das boas intenções, não se mantiveram ao longo do tempo.

O fato é que o conceito de PSA não se sustenta sozinho, pois existe um limite estrutural. Precisa se tornar uma agenda pública, regulamentada, segura, com fontes claras de financiamento, governança e garantias. Sem isso, seguiremos com um conceito bonito no papel, mas vazio na prática.

Fumaça densa e branca sobe de um incêndio em uma área de floresta com vegetação verde e densa. O fogo consome parte da mata enquanto a fumaça se espalha pelo céu nublado.
Queimada em área desmatada às margens de um ramal da rodovia BR-319, próximo ao distrito de Realidade, no sul do Amazonas - Lalo de Almeida/Folhapress

No Brasil, temos um marco legal que fundamenta o PSA: a lei nº 14.119/2021. No entanto, segue pendente de regulamentação, que só agora, quatro anos após sua promulgação, é submetida à consulta pública.

Isso, por si só, retrata um cenário que enfraquece a lógica de incentivo à conservação. Afinal, sem clareza sobre sua implementação e sem incentivos econômicos condizentes com a realidade do campo, a ideia de bonificar produtores pela preservação de suas áreas perde credibilidade e força.

PUBLICIDADE

O desmatamento zero, tão presente nas agendas climática e ambiental, não tem significado literal no Brasil. Nosso Código Florestal permite a abertura de nova áreas desde que respeitados os percentuais definidos.

Ou seja, se o produtor rural pode desmatar pela lei, por que abriria mão desse direito sem uma alternativa econômica segura e competitiva? Frente às oportunidades de PSA que não oferecerem tais garantias, a decisão racional será, inevitavelmente, optar pela expansão.

Pior: há ainda o risco do PSA, quando pontual e passageiro, acabar servindo para capitalizar os produtores e financiar essa expansão sobre vegetação nativa. Uma possibilidade concreta especialmente no cerrado, onde há disponibilidade de áreas aptas à sojicultura sobre vegetação nativa, dentro dos parâmetros legais.

O PSA é uma ferramenta estratégica para proteção das áreas privadas de vegetação nativa, pois cria uma alternativa de remuneração pela preservação. Portanto, sua implementação precisa sair da retórica e entrar na prática, sendo insubstituível o papel do Estado.

Sem regulamentação e um fluxo contínuo de recursos —seja via orçamento público, mercado de carbono ou parcerias público-privadas—, o PSA continuará sendo inaplicável na escala e na urgência que a agenda ambiental exige.

Se queremos avançar para uma economia de baixo carbono e fortalecer compromissos de desmatamento zero, impulsionar o PSA não é um favor ao meio ambiente, mas uma estratégia político-financeira inteligente, capaz de aliar conservação e desenvolvimento no campo.

Contudo, é crucial avaliar sua dimensão para evitar frustrações, tanto para os produtores quanto para o setor privado, que já assumiu compromissos públicos de sustentabilidade.

O caminho já foi traçado. Agora, é preciso entender como trilhá-lo.

Acordos e extorsões, Deirdre Nansen McCloskey, FSP

 Não preciso informar aos brasileiros que meu presidente está tentando extorquir o governo do Brasil. A menos que você tenha vivido numa caverna ultimamente, sabe que ele quer que o governo cancele a condenação de Bolsonaro por conspirar para derrubar a democracia. Os brasileiros têm alguma experiência com democracias derrubadas. Nós, nos Estados Unidos, estamos apenas começando a aprender.

De qualquer forma, o presidente Donald Trump impôs tarifas absurdas sobre as exportações brasileiras para os EUA até que Lula desista e liberte Bolsonaro. Lula não desistirá, é claro. Seria vergonhoso se o fizesse.

Não me deixa feliz que Lula ganhe popularidade porque o presidente dos EUA acha que extorsão é fácil e conseguirá o que deseja —Groenlândia, canal do Panamá... E percebo que é irônico que um criminoso condenado queira que outro criminoso condenado seja libertado e que, para alcançar isso, esteja disposto a se envolver em um crime internacional. Se não fosse sério, seria hilário.

Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, aparece em close, vestindo terno azul escuro, camisa branca e gravata vermelha. Fundo desfocado com pessoas e decoração típica de escritório oficial.
Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca - Nathan Howard/Reuters

Mas considere o que torna a extorsão ruim, mesmo que acreditemos que acordos voluntários sejam bons. Por que, pondo em termos de "O Poderoso Chefão", "um acordo irrecusável" —naquele caso, matar um cavalo premiado na cama do homem para deixar claro o que poderia acontecer com ele se não concordasse com o Chefão— não é absolutamente um "acordo"?

Isso se resume ao que entendemos por "voluntário". Em um sentido estoico, toda ação é voluntária e não há diferença entre um acordo e uma extorsão. Os estoicos diziam que você sempre é livre, porque, mesmo sendo um escravo, ou vítima de ameaça do Chefão, ou um presidente brasileiro enfrentando tarifas ou em desgraça, você tem uma opção. Você pode, na sua alma, aceitar ser um escravo, uma vítima coagida do Chefão ou um presidente brasileiro em desgraça.

O fato de acharmos absurdo o argumento estoico mostra que somos liberais, ou cristãos do livre-arbítrio, ou não calvinistas. Somente de fora da ética liberal, da política ou da fé não há diferença entre acordos e extorsões, entre livre-arbítrio e destino.

Erasmo de Roterdã (morto em 1536), que era um liberal para sua época, debateu durante a década de 1520 com Martinho Lutero sobre o livre-arbítrio. Lutero adotou a linha estoica, anti-livre-arbítrio. O que Deus ou o destino decretarem, é isso, ponto final. Acostume-se. Brasileiros, escolham: seu dinheiro em exportações ou sua dignidade como povo livre. Esse é o "acordo". Erasmo, porém, disse que precisamos de incentivos à virtude. E, portanto, precisamos culpar os extorsionários.

A questão é muito importante. A maioria das pessoas acredita que uma pessoa pobre não tem opção real entre um emprego ruim e outro. Ela está sendo extorquida pelo patrão.

Não, não está. Se o patrão puder impedi-la de ter empregos alternativos, ela é de fato uma escrava sem opção. O Poderoso Chefão se dispõe a violar as normas contra a violência para transformar seu "acordo" em extorsão. A vítima é afastada das alternativas pela violação. Trump está disposto a violar normas para criar uma extorsão.

Felizmente, o Brasil tem alternativas. A crença de Trump de que a extorsão funciona é equivocada, pois suas vítimas muitas vezes não têm alternativas. Ele é um extorsionário incompetente. Até agora.

terça-feira, 30 de setembro de 2025

A televisão é um brinquedo muito caro, Por Alberto Luchetti, doBlog do Xonka

 A CNN Brasil é mais um capítulo da mesma novela protagonizada por atores desavisados com o patrocínio de empresário despreparado, oportunista e aventureiro, mas com o objetivo de atender interesses políticos latentes, como já vimos em outros tempos recentes nos meios de comunicação do nosso País.

Rubens Menin, dono da emissora, segue o mesmo caminho de José Carlos Martinez que montou a Central Nacional de Televisão (CNT) e Hamilton Lucas de Oliveira, do Grupo IBF, que comprou e fechou a TV Manchete, a TV Jovem Pan em UHF, o Diário do Comércio e Industria (DCI) e várias rádios em São Paulo, Rio e Brasília.

Menin fez fortuna nos governos petistas sendo apontado no meio empresarial como o “embaixador” do programa Minha Casa Minha Vida. Mais de 10 anos depois, travestido de mecenas midiático, se apresenta ao mercado com as vestes de uma franquia estrangeira, querendo ditar normas de jornalismo independente.

O objetivo de Menin é o mesmo de Martinez e de Oliveira. O fim parece que também será o mesmo. Martinez, que foi tesoureiro da campanha vitoriosa de Collor de Melo, pegou dinheiro do esquema de corrupção montado por Paulo Cesar Farias para montar a sua Rede de Televisão. Foi denunciado, teve que responder à uma CPI e, com o impeachment de Collor, viu sua CNT desmilinguir.

Oliveira não montou rede de televisão. Saiu comprando tudo. Dono de uma gráfica, ficou milionário com o esquema de corrupção da Caixa Econômica do Estado de São Paulo, imprimindo cards de sorteios instantâneos, as famosas “raspadinhas”, durante o governo de Orestes Quércia.

Da fortuna ao infortúnio foram pouco mais de 20 meses. A Manchete voltou para as mãos da família Bloch e depois, vendida novamente, transformou-se na RedeTV. A TV Jovem Pan UHF acabou. Os jornais e as rádios, coincidentemente ou não, foram parar com parentes de Quércia e, recentemente, vendidos para o bilionário do setor de educação, Chaim Zaher.

Com o mesmo objetivo de desafiar a Rede Globo, os três empresários também seguem o mesmo roteiro. Demorou menos de um ano para descobrir que Collor e PC Farias estavam atuando nos bastidos da CNT de Martinez. E quase dois anos para saber que Quércia era o grande influenciador dos veículos de comunicação de Oliveira.

Qual a surpresa que nos reserva a coxia desta caixa teatral da CNN Brasil de Rubens Menin? Politicamente iniciou, em 15 de março de 2020, a serviço do governo de Jair Messias Bolsonaro e ninguém há de refutar esses indícios. Mas como superar a GloboNews, se hoje perde há meses para a Jovem Pan, emissora de rádio tradicional de São Paulo que se transformou em um planfetário fascista e veículo oficial do governo Bolsonaro.

Empresarialmente, que caminho seguirá? É um enlatado cuja matriz orienta empresários e bolsas no mundo todo. E aqui? Quando acabar o governo atual o que fará para ficar 24 horas no ar? Dará cobertura nacional das enchentes, do rompimento de barragens, do crescimento da pobreza e do desmatamento da Amazônia? Ou irá acompanhará diariamente as entrevistas de Lula na porta do Palácio do Planalto, mais uma vez como porta voz do programa Minha Casa Minha Vida, da mesma forma que a Jovem Pan fez com Bolsonaro?

O oxigênio já está no fim. As demissões não param. Hoje, o setor que mais trabalha na CNN é o RH. Será que vai depender de mais dinheiro do governo assim como aconteceu com Martinez e Oliveira? A televisão é um brinquedo muito caro para quem não sabe brincar.

O começo da CNN Brasil já não foi bom. Muitos erros em pouco tempo. Teve gente que “até morreu e continua passando bem no hospital”, como disse um dia uma repórter.  Nem precisamos citar aqui a comentarista de Brasília que afirmou que na bandeira do Brasil estava escrito “Independência ou Morte”.  Para a emissora, Equador e Chile não ficam na América do Sul. Esse é o estresse de grandes coberturas.

Mas… e agora, Menin? Vai investir na compra de eventos esportivos para ver se o Galo canta de novo? Ou usar a arena do Atlético-MG para shows de rock? Ah, mas não esqueça, por favor, de casos policialescos cheios de desgraça, desventura e flagelo já temos o Brasil Urgente e o Cidade Alerta.