quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Acordos e extorsões, Deirdre Nansen McCloskey, FSP

 Não preciso informar aos brasileiros que meu presidente está tentando extorquir o governo do Brasil. A menos que você tenha vivido numa caverna ultimamente, sabe que ele quer que o governo cancele a condenação de Bolsonaro por conspirar para derrubar a democracia. Os brasileiros têm alguma experiência com democracias derrubadas. Nós, nos Estados Unidos, estamos apenas começando a aprender.

De qualquer forma, o presidente Donald Trump impôs tarifas absurdas sobre as exportações brasileiras para os EUA até que Lula desista e liberte Bolsonaro. Lula não desistirá, é claro. Seria vergonhoso se o fizesse.

Não me deixa feliz que Lula ganhe popularidade porque o presidente dos EUA acha que extorsão é fácil e conseguirá o que deseja —Groenlândia, canal do Panamá... E percebo que é irônico que um criminoso condenado queira que outro criminoso condenado seja libertado e que, para alcançar isso, esteja disposto a se envolver em um crime internacional. Se não fosse sério, seria hilário.

Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, aparece em close, vestindo terno azul escuro, camisa branca e gravata vermelha. Fundo desfocado com pessoas e decoração típica de escritório oficial.
Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca - Nathan Howard/Reuters

Mas considere o que torna a extorsão ruim, mesmo que acreditemos que acordos voluntários sejam bons. Por que, pondo em termos de "O Poderoso Chefão", "um acordo irrecusável" —naquele caso, matar um cavalo premiado na cama do homem para deixar claro o que poderia acontecer com ele se não concordasse com o Chefão— não é absolutamente um "acordo"?

Isso se resume ao que entendemos por "voluntário". Em um sentido estoico, toda ação é voluntária e não há diferença entre um acordo e uma extorsão. Os estoicos diziam que você sempre é livre, porque, mesmo sendo um escravo, ou vítima de ameaça do Chefão, ou um presidente brasileiro enfrentando tarifas ou em desgraça, você tem uma opção. Você pode, na sua alma, aceitar ser um escravo, uma vítima coagida do Chefão ou um presidente brasileiro em desgraça.

O fato de acharmos absurdo o argumento estoico mostra que somos liberais, ou cristãos do livre-arbítrio, ou não calvinistas. Somente de fora da ética liberal, da política ou da fé não há diferença entre acordos e extorsões, entre livre-arbítrio e destino.

Erasmo de Roterdã (morto em 1536), que era um liberal para sua época, debateu durante a década de 1520 com Martinho Lutero sobre o livre-arbítrio. Lutero adotou a linha estoica, anti-livre-arbítrio. O que Deus ou o destino decretarem, é isso, ponto final. Acostume-se. Brasileiros, escolham: seu dinheiro em exportações ou sua dignidade como povo livre. Esse é o "acordo". Erasmo, porém, disse que precisamos de incentivos à virtude. E, portanto, precisamos culpar os extorsionários.

A questão é muito importante. A maioria das pessoas acredita que uma pessoa pobre não tem opção real entre um emprego ruim e outro. Ela está sendo extorquida pelo patrão.

Não, não está. Se o patrão puder impedi-la de ter empregos alternativos, ela é de fato uma escrava sem opção. O Poderoso Chefão se dispõe a violar as normas contra a violência para transformar seu "acordo" em extorsão. A vítima é afastada das alternativas pela violação. Trump está disposto a violar normas para criar uma extorsão.

Felizmente, o Brasil tem alternativas. A crença de Trump de que a extorsão funciona é equivocada, pois suas vítimas muitas vezes não têm alternativas. Ele é um extorsionário incompetente. Até agora.

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