quarta-feira, 4 de junho de 2025

Microalga remove resquícios de antibióticos da água e pode diminuir contaminação do meio ambiente, Fapesp

 Thais Szegö

Agência Fapesp

Microalgas da espécie Monoraphidium contortum têm a capacidade de remover da água resíduos de antibióticos, em especial o sulfametoxazol e a trimetoprima. Dessa forma, reduzem o risco de contaminação do meio ambiente, o que evita consequências severas para o ecossistema e para a saúde humana.

A conclusão vem de um estudo publicado no Biochemical Engineering Journal. O trabalho foi realizado em parceria por pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André, Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais, e Universidade de São Paulo (USP), com o apoio da Fapesp.

A pesquisa teve duas frentes. "Em uma delas, cultivamos a espécie de microalga em um fotobiorreator [biorreator que possui iluminação adequada para que os microrganismos realizem fotossíntese] na presença de antibióticos que são comumente utilizados no Brasil e encontrados em efluentes e corpos d'água. Ou seja, resíduos, provenientes das atividades humanas, que não foram removidos na estação de tratamento de esgoto, podendo ser lançados no meio ambiente", explica Marcelo Chuei Matsudo, professor de biotecnologia da UFABC e autor correspondente do artigo.

Para simular o cenário comumente encontrado na natureza brasileira, os pesquisadores utilizaram sulfametoxazol e trimetoprima, que estão entre os dez antibióticos mais consumidos no país nos últimos anos. "Verificamos que, em baixas concentrações, condição encontrada nos efluentes, não houve prejuízo no crescimento da microalga, que removeu de 27% a 42% dos medicamentos adicionados ao meio", conta Matsudo. O pesquisador ressalta ainda que nesse processo a microalga produziu uma biomassa com potencial valor comercial, já que mostrou viabilidade para a produção de biodiesel.

A imagem mostra várias algas microscópicas em um fundo claro. As algas têm formas variadas, algumas são alongadas e outras mais arredondadas, com uma coloração verde predominante. Há uma barra de escala na parte inferior da imagem, indicando 20 micrômetros.
Microalgas reduziram em até 42% a presença de dois antibióticos na água e geraram subproduto viável para produção de biodiesel, diz pesquisa

Na outra frente analisada na pesquisa, o pesquisador Marcus Vinicius Xavier Senra conduziu o sequenciamento do genoma dessa microalga e, com auxílio de ferramentas de bioinformática, detectou a presença do gene responsável pela produção de uma enzima que, potencialmente, degrada tais poluentes.

Os resultados obtidos ainda não podem ser colocados em prática, ressalva o pesquisador. "Paralelamente a esse trabalho, pretendemos estudar como seria esse comportamento em condições naturais, no efluente proveniente da estação de tratamento de esgoto, por exemplo, onde as condições encontradas não são as mesmas que aquelas otimizadas em um fotobiorreator com meio de cultura sintético para o crescimento das microalgas", diz Matsudo.

Importância para o ambiente e a saúde

Os antibióticos não são totalmente metabolizados por humanos e animais. A fração restante que deixa de ser processada pelo organismo é excretada nas fezes e na urina, chegando às estações de tratamento de esgoto.

A maior parte dessas substâncias não é removida pelas estações convencionais, uma vez que os processos de tratamento não são projetados para tal finalidade. Assim, pode ocorrer a contaminação do meio ambiente, que resulta em consequências severas não só para os ecossistemas, mas também para a saúde humana, com a proliferação de cepas de bactérias resistentes a antibióticos.

Por isso, há a necessidade urgente de tecnologias capazes de remover esses micropoluentes. A ozonização (utilização de ozônio para desinfecção, purificação e tratamento), a adsorção de carvão ativado (processo onde moléculas ou íons presentes em um fluido são atraídos e retidos na superfície do carvão ativado) e os processos avançados de oxidação e separação por membrana são algumas tecnologias testadas com essa finalidade. Mas os altos custos operacionais e a possibilidade de geração de subprodutos ainda tóxicos limitam sua implementação.

"Nesse contexto, a biorremediação baseada em microalgas surgiu como uma abordagem promissora associada ao tratamento terciário de esgoto e águas residuais industriais", afirma o pesquisador.

Governador de SP manterá um gabinete no Palácio dos Bandeirantes após mudança do governo para o centro, FSP

 Tulio Kruse

São Paulo

A construção do novo centro administrativo estadual de São Paulo prevê um gabinete para o governador na região central da capital, junto aos prédios que vão abrigar as secretarias, mas isso não impedirá que o mandatário mantenha um escritório de trabalho a dez quilômetros de distância, no Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi.

Mesmo que decida concorrer à reeleição e saia vitorioso, é possível que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) passe um eventual segundo mandato inteiro despachando do Bandeirantes, que deve ser mantido como residência oficial. Isso porque a previsão do governo é que, caso o cronograma seja cumprido, a construção do complexo de prédios dure até 2029 e esteja pronto para mudança em 2030 —último ano do próximo mandato.

Segundo uma autoridade que participa do projeto, a previsão é que em setembro seja realizado o leilão para escolher a empresa que vai construir e administrar os prédios do centro administrativo por 30 ano. A expectativa é que um contrato de PPP (Parceria Público-Privado) seja assinado até o fim deste ano.

A imagem mostra uma vista aérea de uma área urbana. À esquerda, há um edifício com um telhado verde e cercado por árvores. À direita, há um grande edifício com telhado claro, também cercado por vegetação. A área ao redor é predominantemente coberta por árvores, e há ruas visíveis na parte inferior da imagem.
O Palácio Campos Elíseos e o terminal Princesa Isabel, onde o governo de São Paulo pretende construir uma nova sede administrativa estadual - Rubens Cavallari - 5.abr.23/Folhapress

Na semana passada, o Conselho Gestor do Programa de Parcerias Público-Privadas autorizou a publicação do edital de licitação, além da modelagem final do projeto. Segundo essa autoridade, o último detalhe a ser acertado é a garantia contratual à empresa a ser contratada —detalhe importante para atrair interessados.

Com o contrato assinado, a maior parte do ano de 2026 deve ser de desapropriações a demolições ao redor do Parque Princesa Isabel, ao redor do qual o projeto prevê a construção de uma esplanada de prédios de escritório. A construção, seguindo esse cronograma, deve ocorrer de 2027 a 2029.

A responsabilidade pelas desapropriações pode inclusive ser repassada à empresa que ganhar a licitação. O governo estadual entende que o setor privado terá mais agilidade nesse processo, por meio de acordos amigáveis.

Em agosto do ano passado, o projeto do arquiteto Pablo Chakur, do escritório Ópera Quatro, foi escolhido em um concurso promovido pelo IAB-SP (Instituto dos Arquitetos do Brasil em São Paulo).

Uma das ideias colocadas na proposta, a de que os edifícios sejam erguidos em módulos e por etapas, agora tem sido descarta pelo governo. A intenção é que o investimento seja feito todo de uma vez, e que isso produza uma mudança estrutural mais rápida na região —onde hoje circulam grupos de usuários de drogas após a dispersão do ponto fixo da cracolândia, que chegou a se instalar na própria Princesa Isabel em 2022.

A gestão Tarcísio prevê manter uma estrutura de apoio ao gabinete do governador no Palácio dos Bandeirantes. Como o centro administrativo só deve ficar pronto no final próximo mandato, o destino da atual sede de governo também deve passar pela decisão do próximo eleito.

A previsão de investimento é de mais de R$ 5,4 bilhões. O governo estadual deve pagar esse valor ao longo dos 30 anos de contrato de PPP.

Há três semanas, o governo estadual começou a demolir as primeiras casas desocupadas na favela do Moinho, que fica a menos de um quilômetro do futuro centro administrativo. A gestão Tarcísio planeja instalar um parque no local, que fica entre duas linhas de trem.

Nas últimas semanas, a Polícia Militar também intensificou ações para dispersar usuários de drogas na região dos Campos Elíseos, com a intenção de evitar grandes aglomerações e a formação de uma nova cracolândia.

Em setembro do ano passado, o Palácio dos Campos Elíseos —antiga sede do governo estadual— voltou a sediar uma secretaria de governo pela primeira vez em 18 anos. O prédio construído em 1899 hoje abriga a pasta da Justiça, e a intenção é que após a finalização do centro administrativo ele se torne um espaço cerimonial, destinado à recepção de autoridades de alto escalão.

Lula chega a hotel em Paris e recebe lenço que simboliza apoio a palestinos; veja vídeo, FSP

 André Fontenelle

Paris

O presidente Luiz Inácio Lula da SIlva (PT) aterrissou no aeroporto de Orly às 13h30 locais (8h30 no Brasil) e chegou ao hotel Intercontinental Le Grand, vizinho da Ópera de Paris, às 14h19 locais (9h19 de Brasília), ao lado da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja. Ambos desceram para falar com um grupo de cerca de 50 apoiadores que aguardavam na porta do hotel aos gritos de 'Lula guerreiro do povo brasileiro'. Recebeu de uma delas um keffiyeh, lenço preto e branco que simboliza a luta palestina. Colocou-os sobre os ombros e entrou sem falar com a imprensa.

A comitiva inclui 19 autoridades, entre elas 7 ministros titulares (Relações Exteriores, Justiça, Portos, Agricultura, Cultura, Minas e Energia, Meio Ambiente), 3 senadores e 4 deputados federais. A diária mais barata do Le Grand nos sites de busca custa € 471 (cerca de R$ 3.000).

A imagem mostra um grupo de pessoas em um evento, com várias delas segurando pequenos guarda-chuvas coloridos. No centro, um homem de cabelo grisalho e barba, vestido com um terno escuro e uma camisa branca, está sorrindo e cumprimentando as pessoas ao seu redor. Algumas pessoas estão levantando as mãos e outras segurando celulares para registrar o momento. Ao fundo, há uma planta e uma fachada de prédio.
Presidente Lula recebe lenço que simboliza apoio a palestinos na chegada a hotel em Paris e o coloca no ombro - Reprodução/Reprodução

O uso do keffiyeh por Lula ocorre um dia depois de o presidente subir o tom contra a ofensiva militar de Israel em Gaza. Ele voltou a falar em genocídio e disse que Tel Aviv tem de parar com vitimismo. "E vem dizer que é antissemitismo? Precisa parar com esse vitimismo. Precisa parar com esse vitimismo e saber o seguinte: o que está acontecendo na Faixa de Gaza é um genocídio", declarou Lula em entrevista coletiva nesta terça (3), em Brasília, antes de embarcar para a França, cujo presidente, Emannuel Macron, também endureceu o discurso contra Israel.

Segundo o Palácio do Planalto, o presidente não tem compromissos oficiais nesta quarta. A primeira-dama, Janja, tem prevista a participação em um encontro com sua homóloga francesa, Brigitte Macron, e um grupo de estilistas brasileiras em um restaurante de Paris.

Na manhã desta quinta (5), Lula será recebido pelo presidente Emmanuel Macron no pátio dos Invalides, o monumento francês onde fica o túmulo de Napoleão e onde são recebidos chefes de Estado em visita oficial. Em seguida, Lula tem uma reunião com Macron no Palácio do Eliseu, sede da presidência, seguida de declaração à imprensa e almoço.

Na tarde de quinta, Lula será homenageado com uma sessão privada da Academia Francesa, homenagem concedida raramente pela instituição criada no século 17. De lá, o presidente segue para o Hôtel de Ville, sede do governo municipal de Paris. Será recebido pela prefeita, a socialista Anne Hidalgo, e inaugurará uma placa comemorativa na "floresta urbana" plantada pela capital francesa na esplanada em frente à prefeitura.

Às 20h30 (15h30 em Brasília) de quinta, Lula janta com Macron e um grupo de personalidades brasileiras e francesas no Eliseu.

Na sexta (6), o presidente recebe o título de doutor honoris causa da Universidade Paris 8 e inaugura duas exposições de arte brasileira no Grand Palais, pavilhão de exposições histórico no centro de Paris. Também participa de cerimônia de certificação do Brasil como país livre de febre aftosa sem vacinação, concedida pela Organização Mundial de Saúde Animal, e discursa no Fórum Empresarial Brasil-França.

O Planalto ainda não havia confirmado, até a manhã desta quarta, se Lula viaja para o litoral mediterrâneo ainda na tarde de sexta ou na manhã de sábado. Ele participará de um fórum sobre "economia azul" (relacionada aos mares) em Mônaco, no dia 8, e da Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano, em Nice, no dia 9. Antes de retornar o Brasil, no mesmo dia 9, ele visitará em Lyon a sede da Interpol, organização internacional de polícias. O secretário-geral da Interpol é o delegado da Polícia Federal brasileira Valdecy Urquiza, eleito no ano passado com apoio do governo brasileiro.