terça-feira, 3 de junho de 2025

Zambelli teve passaporte devolvido após apreensão em 2023, FSP

 Cézar Feitoza

Brasília

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) teve seu passaporte devolvido após a Polícia Federal concluir as investigações contra a parlamentar pela invasão dos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Os passaportes pessoal e diplomático de Zambelli foram apreendidos em agosto de 2023, durante operação da Polícia Federal autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

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A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi condenada a dez anos de prisão por invadir os sistemas do CNJ - Gabriela Biló - 16.fev.23/Folhapress

Com a devolução dos passaportes, a deputada federal não estava impedida de sair do país.

A ida para a Europa, anunciada nesta terça-feira (3), porém, pode ser entendida por Moraes como uma forma de evitar o cumprimento da pena de dez anos de prisão determinada pela Primeira Turma do Supremo.

A avaliação no tribunal é que não está descartada uma prisão preventiva da parlamentar ou a adoção de medidas menos drásticas, como a nova retenção do passaporte.

O advogado Daniel Bialski, defensor de Zambelli, disse que não tem detalhes sobre a saída da parlamentar do país. "Eu fui apenas comunicado pela deputada que estaria fora do Brasil para dar continuidade a um tratamento de saúde", afirmou.

A deputada foi condenada no último dia 9 de maio à prisão e à perda do mandato por invasão aos sistemas do CNJ e falsidade ideológica. A sentença foi confirmada por todos os cinco ministros que compõem a Primeira Turma do tribunal: Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Cristiano Zanin.

A prisão da deputada só deve ocorrer após o trânsito em julgado do processo, quando não são possíveis mais recursos para questionar a decisão.

A defesa de Zambelli apresentou um primeiro recurso contra a condenação no último mês. A Primeira Turma julga os embargos no plenário virtual do Supremo, com início marcado para sexta-feira (6).

Caso os ministros rejeitem por unanimidade o recurso da defesa de Zambelli, a tendência é que o Supremo determine a prisão da parlamentar já no segundo embargo de declaração..

É o que ocorreu com o ex-presidente Fernando Collor. O entendimento no tribunal é que novo recurso sobre assunto já superado configura estratégia protelatória, para atrasar o início do cumprimento da pena.

Crescimento evangélico pode estar atingindo um teto; Censo revelará, Juliano Spyer, FSP

 Evangélicos parecem estar na crista da onda. Mas os dados do Censo de 2022 sobre religião podem trazer surpresas. Em que medida fenômenos como a conversão desse fiel ao catolicismo podem indicar que a expansão do protestantismo atingiu um teto no Brasil?

O cristianismo evangélico cresceu de forma acelerada nos últimos 50 anos. Eram 6% dos brasileiros em 1970 e, segundo o Datafolha, representavam 31,8% da população em 2019. Saberemos logo, porque o IBGE divulgará os dados do Censo sobre religião até o fim deste mês.

Por um lado, temos a percepção de que a onda gospel está tomando o país. "Café com Deus Pai" é um best-seller de norte a sul. "The Chosen", o seriado sobre a história de Jesus a partir da perspectiva dos discípulos, estreou aqui nos cinemas. O SBT acaba de anunciar a inclusão de um quadro diário do pregador Deive Leonardo.

Mas, de perto, as coisas são mais complicadas. À medida que o Brasil se torna mais evangélico, os evangélicos também se tornam mais brasileiros. O campo evangélico no país é amplo e, ao mesmo tempo, nunca foi tão diverso.

Há poucas décadas, a pessoa que se identificava como evangélica frequentava uma igreja e estava submetida à orientação de um pastor. Hoje, temos personagens novos. Por exemplo, aquele que, como o coach Pablo Marçal, não frequenta uma igreja e fala sobre seu cristianismo como um estilo de vida.

Quando pensamos em igrejas, os nomes que vêm à mente geralmente são os das mais midiáticas, como a Universal ou a Lagoinha. Mas uma das mais importantes, segundo o Censo de 2010, também é a menos conhecida: a igreja pentecostal sem denominação conhecida. É a igrejinha de bairro, sem grife, que tem até 200 membros, mas se espalha pelas periferias urbanas.

Igreja evangélica em um bairro periférico
Igreja evangélica em um bairro periférico de grande cidade - José Tramontin - 15.jan.24

Finalmente, há um outro fenômeno em curso: o desgaste da imagem do cristianismo evangélico entre os próprios evangélicos. Eles, que já foram admirados por manter religião e política em campos separados e priorizar o espiritual, estão se cansando da exposição negativa provocada pelo enriquecimento de pastores e pelo envolvimento de denominações com a política.

No ano passado, a jornalista e evangélica Marília de Camargo César analisou nesta Folha o trânsito de evangélicos de volta ao catolicismo. Nesta semana, recebi uma mensagem com este testemunho, feito em uma conversa privada:

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"Fui evangélico por mais de 30 anos, sendo 20 como pastor; formação como bacharel em teologia. As crises recorrentes, fruto de teologias da prosperidade e deísta-moralista-terapêutica, atraem muitos... Por isso existem 30 mil denominações. Não há uma tradição teológica, muito menos litúrgica, e a governança é, na maioria, por dinastias".

E prossegue: "A Igreja Católica é bimilenar, tem a riqueza da patrística, da escolástica e uma tradição em que há uma só fé apostólica, em todos os lugares do mundo e em todos os tempos. As crises são oportunidades de purificação, iluminação, unificação. Por isso que, conhecendo essas realidades, como muitos pastores, decidi mudar para o catolicismo."

Aguardamos os dados do Censo para observar esses novos trânsitos entre religiões no Brasil.

Admiro o pastor Cláudio Duarte, apesar de nossas diferenças ideológicas, Juliano Spyer, FSP

 

Nestes tempos de polarização, a complexidade de cada pessoa é descartada em nome de uma etiqueta com informação binária: esquerda ou direita. O pastor Cláudio Duarte é alguém que se posicionou politicamente ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro e, apesar disso, eu não o considero meu inimigo.

Menciono o pastor Cláudio aqui porque, na segunda-feira (26), a versão online da minha coluna foi publicada nas redes sociais junto com uma fotografia dele. O artigo falava sobre as muitas dificuldades, dores e desafios enfrentados por pastores evangélicos para se assumirem publicamente gays. O uso incorreto da imagem pode ter sugerido uma associação entre o tema do texto e a sexualidade do pastor Cláudio.

Isso aconteceu por uma falha, e não por desejo de atacá-lo ou constrangê-lo.

Um homem de cabelos grisalhos e barba, usando óculos e uma camisa de botão clara. Ele está sorrindo e posando para a foto, com um fundo neutro. A imagem tem um design circular ao redor do homem.
Pastor Claudio Duarte - @Claudio Duarte no Facebook

Minhas visões sobre sexualidade divergem das da maioria dos evangélicos. Eu não acredito que Deus criou os seres humanos heterossexuais. Apesar disso, não condeno evangélicos que têm convicções ou visões de mundo diferentes das minhas. A democracia não é um regime em que intelectuais de esquerda dizem como os outros devem pensar e agir.

Admiro a coragem do pastor Cláudio ao contar sua história: uma infância marcada por passagens por lares onde não foi amado, vivida também em condições de precariedade financeira. E mesmo assim, ele não levou para seu trabalho como pastor a amargura, o desejo pelo poder ou a raiva que vejo em outros pastores.

Admiro —na verdade, gosto— da maneira como o pastor Cláudio fundiu a comédia no estilo stand-up com a pregação. Ao aproximar esses dois gêneros, ele conseguiu mais do que atrair atenção para si; ele tratou de temas difíceis.

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O riso e a comédia podem ser uma forma eficaz de abordar dores sociais. O documentário Os Aristocratas mostra como o humor mais radical ajudou a curar a ferida aberta em Nova York após os atentados contra as torres gêmeas. É por saber fazer rir, e por ter essa inteligência sutil, que o pastor Cláudio dirige sua atenção a temas que são tabus em geral —e especialmente no campo evangélico.

Entre homens, talvez ninguém tenha defendido tanto a causa das mulheres nos casamentos evangélicos quanto o pastor Cláudio Duarte. Foi ele quem disse que a mulher também precisa sentir prazer na relação. É ele quem incentiva, para milhões de espectadores — evangélicos ou não — que casais devem ter conversas francas sobre seus desejos e fantasias.

Mas me lembro de uma ocasião em que o pastor Cláudio produziu silêncio em vez de riso. Foi quando revelou em público ter sido traído pela esposa no passado e disse, sem escândalo, que a perdoava por um único motivo: o amor que sentia —e sente— por ela.

Fico imaginando quantos progressistas, mulheres e homens, heterossexuais ou LGBTs, seriam capazes de tanto.

Caro pastor Cláudio, não compartilhamos a mesma fé, mas peço desculpas, em nome do jornal, pelo equívoco ao usar sua foto no meu último artigo. Espero que este texto chegue aos seus admiradores — e que sua história seja conhecida também por quem está lhe conhecendo agora, pela primeira vez, neste artigo.