terça-feira, 3 de junho de 2025

Crescimento evangélico pode estar atingindo um teto; Censo revelará, Juliano Spyer, FSP

 Evangélicos parecem estar na crista da onda. Mas os dados do Censo de 2022 sobre religião podem trazer surpresas. Em que medida fenômenos como a conversão desse fiel ao catolicismo podem indicar que a expansão do protestantismo atingiu um teto no Brasil?

O cristianismo evangélico cresceu de forma acelerada nos últimos 50 anos. Eram 6% dos brasileiros em 1970 e, segundo o Datafolha, representavam 31,8% da população em 2019. Saberemos logo, porque o IBGE divulgará os dados do Censo sobre religião até o fim deste mês.

Por um lado, temos a percepção de que a onda gospel está tomando o país. "Café com Deus Pai" é um best-seller de norte a sul. "The Chosen", o seriado sobre a história de Jesus a partir da perspectiva dos discípulos, estreou aqui nos cinemas. O SBT acaba de anunciar a inclusão de um quadro diário do pregador Deive Leonardo.

Mas, de perto, as coisas são mais complicadas. À medida que o Brasil se torna mais evangélico, os evangélicos também se tornam mais brasileiros. O campo evangélico no país é amplo e, ao mesmo tempo, nunca foi tão diverso.

Há poucas décadas, a pessoa que se identificava como evangélica frequentava uma igreja e estava submetida à orientação de um pastor. Hoje, temos personagens novos. Por exemplo, aquele que, como o coach Pablo Marçal, não frequenta uma igreja e fala sobre seu cristianismo como um estilo de vida.

Quando pensamos em igrejas, os nomes que vêm à mente geralmente são os das mais midiáticas, como a Universal ou a Lagoinha. Mas uma das mais importantes, segundo o Censo de 2010, também é a menos conhecida: a igreja pentecostal sem denominação conhecida. É a igrejinha de bairro, sem grife, que tem até 200 membros, mas se espalha pelas periferias urbanas.

Igreja evangélica em um bairro periférico
Igreja evangélica em um bairro periférico de grande cidade - José Tramontin - 15.jan.24

Finalmente, há um outro fenômeno em curso: o desgaste da imagem do cristianismo evangélico entre os próprios evangélicos. Eles, que já foram admirados por manter religião e política em campos separados e priorizar o espiritual, estão se cansando da exposição negativa provocada pelo enriquecimento de pastores e pelo envolvimento de denominações com a política.

No ano passado, a jornalista e evangélica Marília de Camargo César analisou nesta Folha o trânsito de evangélicos de volta ao catolicismo. Nesta semana, recebi uma mensagem com este testemunho, feito em uma conversa privada:

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"Fui evangélico por mais de 30 anos, sendo 20 como pastor; formação como bacharel em teologia. As crises recorrentes, fruto de teologias da prosperidade e deísta-moralista-terapêutica, atraem muitos... Por isso existem 30 mil denominações. Não há uma tradição teológica, muito menos litúrgica, e a governança é, na maioria, por dinastias".

E prossegue: "A Igreja Católica é bimilenar, tem a riqueza da patrística, da escolástica e uma tradição em que há uma só fé apostólica, em todos os lugares do mundo e em todos os tempos. As crises são oportunidades de purificação, iluminação, unificação. Por isso que, conhecendo essas realidades, como muitos pastores, decidi mudar para o catolicismo."

Aguardamos os dados do Censo para observar esses novos trânsitos entre religiões no Brasil.

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