Evangélicos parecem estar na crista da onda. Mas os dados do Censo de 2022 sobre religião podem trazer surpresas. Em que medida fenômenos como a conversão desse fiel ao catolicismo podem indicar que a expansão do protestantismo atingiu um teto no Brasil?
O cristianismo evangélico cresceu de forma acelerada nos últimos 50 anos. Eram 6% dos brasileiros em 1970 e, segundo o Datafolha, representavam 31,8% da população em 2019. Saberemos logo, porque o IBGE divulgará os dados do Censo sobre religião até o fim deste mês.
Por um lado, temos a percepção de que a onda gospel está tomando o país. "Café com Deus Pai" é um best-seller de norte a sul. "The Chosen", o seriado sobre a história de Jesus a partir da perspectiva dos discípulos, estreou aqui nos cinemas. O SBT acaba de anunciar a inclusão de um quadro diário do pregador Deive Leonardo.
Mas, de perto, as coisas são mais complicadas. À medida que o Brasil se torna mais evangélico, os evangélicos também se tornam mais brasileiros. O campo evangélico no país é amplo e, ao mesmo tempo, nunca foi tão diverso.
Há poucas décadas, a pessoa que se identificava como evangélica frequentava uma igreja e estava submetida à orientação de um pastor. Hoje, temos personagens novos. Por exemplo, aquele que, como o coach Pablo Marçal, não frequenta uma igreja e fala sobre seu cristianismo como um estilo de vida.
Quando pensamos em igrejas, os nomes que vêm à mente geralmente são os das mais midiáticas, como a Universal ou a Lagoinha. Mas uma das mais importantes, segundo o Censo de 2010, também é a menos conhecida: a igreja pentecostal sem denominação conhecida. É a igrejinha de bairro, sem grife, que tem até 200 membros, mas se espalha pelas periferias urbanas.
Finalmente, há um outro fenômeno em curso: o desgaste da imagem do cristianismo evangélico entre os próprios evangélicos. Eles, que já foram admirados por manter religião e política em campos separados e priorizar o espiritual, estão se cansando da exposição negativa provocada pelo enriquecimento de pastores e pelo envolvimento de denominações com a política.
No ano passado, a jornalista e evangélica Marília de Camargo César analisou nesta Folha o trânsito de evangélicos de volta ao catolicismo. Nesta semana, recebi uma mensagem com este testemunho, feito em uma conversa privada:
"Fui evangélico por mais de 30 anos, sendo 20 como pastor; formação como bacharel em teologia. As crises recorrentes, fruto de teologias da prosperidade e deísta-moralista-terapêutica, atraem muitos... Por isso existem 30 mil denominações. Não há uma tradição teológica, muito menos litúrgica, e a governança é, na maioria, por dinastias".
E prossegue: "A Igreja Católica é bimilenar, tem a riqueza da patrística, da escolástica e uma tradição em que há uma só fé apostólica, em todos os lugares do mundo e em todos os tempos. As crises são oportunidades de purificação, iluminação, unificação. Por isso que, conhecendo essas realidades, como muitos pastores, decidi mudar para o catolicismo."
Aguardamos os dados do Censo para observar esses novos trânsitos entre religiões no Brasil.
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