Nestes tempos de polarização, a complexidade de cada pessoa é descartada em nome de uma etiqueta com informação binária: esquerda ou direita. O pastor Cláudio Duarte é alguém que se posicionou politicamente ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro e, apesar disso, eu não o considero meu inimigo.
Menciono o pastor Cláudio aqui porque, na segunda-feira (26), a versão online da minha coluna foi publicada nas redes sociais junto com uma fotografia dele. O artigo falava sobre as muitas dificuldades, dores e desafios enfrentados por pastores evangélicos para se assumirem publicamente gays. O uso incorreto da imagem pode ter sugerido uma associação entre o tema do texto e a sexualidade do pastor Cláudio.
Isso aconteceu por uma falha, e não por desejo de atacá-lo ou constrangê-lo.
Minhas visões sobre sexualidade divergem das da maioria dos evangélicos. Eu não acredito que Deus criou os seres humanos heterossexuais. Apesar disso, não condeno evangélicos que têm convicções ou visões de mundo diferentes das minhas. A democracia não é um regime em que intelectuais de esquerda dizem como os outros devem pensar e agir.
Admiro a coragem do pastor Cláudio ao contar sua história: uma infância marcada por passagens por lares onde não foi amado, vivida também em condições de precariedade financeira. E mesmo assim, ele não levou para seu trabalho como pastor a amargura, o desejo pelo poder ou a raiva que vejo em outros pastores.
Admiro —na verdade, gosto— da maneira como o pastor Cláudio fundiu a comédia no estilo stand-up com a pregação. Ao aproximar esses dois gêneros, ele conseguiu mais do que atrair atenção para si; ele tratou de temas difíceis.
O riso e a comédia podem ser uma forma eficaz de abordar dores sociais. O documentário Os Aristocratas mostra como o humor mais radical ajudou a curar a ferida aberta em Nova York após os atentados contra as torres gêmeas. É por saber fazer rir, e por ter essa inteligência sutil, que o pastor Cláudio dirige sua atenção a temas que são tabus em geral —e especialmente no campo evangélico.
Entre homens, talvez ninguém tenha defendido tanto a causa das mulheres nos casamentos evangélicos quanto o pastor Cláudio Duarte. Foi ele quem disse que a mulher também precisa sentir prazer na relação. É ele quem incentiva, para milhões de espectadores — evangélicos ou não — que casais devem ter conversas francas sobre seus desejos e fantasias.
Mas me lembro de uma ocasião em que o pastor Cláudio produziu silêncio em vez de riso. Foi quando revelou em público ter sido traído pela esposa no passado e disse, sem escândalo, que a perdoava por um único motivo: o amor que sentia —e sente— por ela.
Fico imaginando quantos progressistas, mulheres e homens, heterossexuais ou LGBTs, seriam capazes de tanto.
Caro pastor Cláudio, não compartilhamos a mesma fé, mas peço desculpas, em nome do jornal, pelo equívoco ao usar sua foto no meu último artigo. Espero que este texto chegue aos seus admiradores — e que sua história seja conhecida também por quem está lhe conhecendo agora, pela primeira vez, neste artigo.
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