quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Crise hídrica não nos preocupa ao chegar na Sabesp, diz CEO da Equatorial, FSP

 Thiago Bethônico

SÃO PAULO

O CEO da Equatorial, Augusto Miranda, disse nesta terça-feira (24) que os dados hídricos de São Paulo não apontam para uma crise que poderia prejudicar os planos da empresa na chegada à Sabesp.

A nova diretoria da companhia privatizada deve assumir no começo de outubro, num momento em que o Brasil vive uma das piores secas de sua história, e São Paulo vê os níveis dos mananciais em nível baixo.

Presidente da Equatorial Energia, Augusto Miranda da Paz

Segundo Miranda, a Sabesp fez um bom trabalho de adaptação na crise hídrica de 2014 e, hoje em dia, conta com sistemas de monitoramento online que permitem fazer uma gestão aprimorada.

"Os reservatórios estão em torno de 50% do nível, então não me parece preocupante. Não vejo problema", afirmou o executivo após participar de painel sobre saneamento em evento do Banco Safra.

Sobre a perspectiva de fazer investimentos adicionais em segurança hídrica, o CEO destacou que é natural a empresa pensar nisso, mas ponderou que os dados não sugerem uma situação onde isso seria urgente.

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Questionado se a necessidade de um racionamento de água logo na chegada da Equatorial à Sabesp poderia ser um problema, Miranda disse não ter dados técnicos que embasem essa tese. "O que eu sei é que, desde 2014, foram feitas obras estruturais, interligação de sistemas, isso desestressou o sistema Cantareira, e eu não vejo hoje esse risco iminente", disse.

Durante o painel sobre saneamento, o executivo fez elogios à Sabesp e ao quadro técnico da companhia.

"Quando se olha a Sabesp, você vê que ela tem um quadro formidável, é uma plataforma. Você tem um dos melhores quadros de vida da América Latina, até do mundo, e você enxerga uma empresa que tem um potencial grande", disse.

Questionado se a ideia da Equatorial é manter o quadro técnico, Miranda disse que a companhia sempre aumentou a força de trabalho em suas operações.

"Quando você fala da Sabesp, de aumentar capex [investimento], naturalmente você vai aumentar a força de trabalho. Isso é uma relação muito direta", afirmou.

Para o executivo, juntar a expertise da Equatorial em gestão com o quadro técnico da companhia de saneamento garante um alto potencial para a operação.

"A Equatorial tem um modelo de incentivo em que você dá salários agressivos ou participações agressivas, tanto para o próprio [funcionário] quanto para o terceiro", diz.

Além da qualidade dos profissionais e da possibilidade de alavancar o negócio por meio de incentivos e alinhamento, Miranda disse que o modelo regulatório desenhado também foi um fator que motivou a entrada da Equatorial no negócio.

"Se juntar todos esses ingredientes, a qualidade técnica, o nosso modelo de gestão, e essas políticas de alinhamento, eu não tenho dúvida de que a gente vai ter resultados", afirmou. "A Sabesp tem as condições reais para que você sonhe e sonhe alto."

EQUATORIAL CONCLUI AUMENTO DE CAPITAL

Nesta terça, a Equatorial anunciou um aumento de capital no valor de R$ 2,41 bilhões para financiar a aquisição das ações da Sabesp.

A companhia, que ofereceu R$ 6,8 bilhões pelas ações do Governo de São Paulo, primeiro tomou uma nota comercial de R$ 5,6 bilhões para bancar o cheque, e usou o restante do próprio caixa.

Para quitar o valor do empréstimo-ponte, que tem vencimento em 18 meses, a Equatorial fez o aumento de capital.

Apesar da cifra bilionária para entrar na Sabesp, o CEO da empresa disse que o valor do cheque não necessariamente tira o interesse da Equatorial dos próximos leilões.

"A Equatorial é uma empresa com acesso ao mercado de capitais, tem instrumento que permite que ela continue olhando outros ativos no mercado", afirma.


Privatizar é proteger a Sabesp de riscos futuros, diz Tarcísio, FSP

 



SÃO PAULO

Para Tarcísio de Freitas (Republicanos), a privatização da Sabesp foi uma maneira de proteger a companhia dos desafios futuros.

"Fazer a privatização é proteger a Sabesp. Isso é uma coisa que os apóstolos do atraso, que faziam oposição à privatização da Sabesp, não entendiam", disse o governador e São Paulo nesta terça-feira (24), durante evento do Safra.

Segundo Tarcísio, a companhia de saneamento corria o risco de perder licitações com os municípios, à medida que os contratos vencessem, por uma suposta falta de capacidade de a ex-estatal competir com as empresas privadas.

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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, durante cerimônia de toque de campainha na B3, em São Paulo, que marca a conclusão do processo de desestatização da Sabesp. - Danilo Verpa/Folhapress

"Se ela começa a perder os mercados relevantes, e vamos lembrar que hoje 11 municípios financiam os outros 360, a Sabesp vira deficitária da noite para o dia. Se perde Osasco ou São Paulo, por exemplo, ela vira uma empresa deficitária", disse Tarcísio.

Ainda segundo o governador, os planos de negócios da Sabesp e dos municípios iam em direções opostas, algo que a privatização teria uniformizado.

"Tivemos a oportunidade de alinhar os instrumentos de planejamento, que cada documento falava uma coisa", afirmou Tarcísio.

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Ele disse ainda que a política de distribuição de dividendos da companhia foi atrelada às fases investimento na universalização do tratamento de água e esgoto e com o grau de endividamenteo da companhia, de modo a evitar o que aconteceu com a empresa de saneamento britânica Thames Water, que acumulou dívidas e depende de uma ajuda do Reino Unido para se reerguer.

"Tudo foi estudado, pensado, trazido para dentro desse contrato, as regras de governança, o acordo de investimentos, nosso acordo de acionistas", diz Tarcísio.

O governador também falou sobre a tarifa, uma das principais questões sobre a provatização da Sabesp.

"A tarifa vai explodir? Não vai, porque nós cuidamos disso também. Há a curva tarifária original da Sabesp, baseada no plano de negócios, R$ 56 bilhões até 2033, e eu vou caminhar sempre abaixo dessa curva. Como? Primeiro, pela mudança regulatória. Segundo, pelo aporte de parte do valor de venda na companhia. Terceiro, pela devolução, pela entrega do dividendo do estado."

Segundo ele, o dividendo pode ser menor para que a tarifa não suba.

"O privado quer dividendo, eu também quero, só que eu aporto meu dividendo na companhia, e, com isso, eu seguro a tarifa. Sem destruir valor para o acionista, eu devolvo para o cidadão, eu garanto para o cidadão a participação no resultado da companhia na forma de modicidade. Isso é muito moderno, isso a esquerda nunca fez", disse Tarcísio.

Ricardo Mussa - Secas são desafio para matriz renovável, FSP

 Dois anos depois da pior crise hídrica dos últimos 90 anos, o Brasil enfrenta novamente uma seca preocupante.

O agravamento da situação levou a uma reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Entre as medidas discutidas está a volta do horário de verão. No começo do mês, o CMSE já havia aprovado a ampliação da contratação de usinas termelétricas a gás natural.

Medidas paliativas são essenciais, claro. As pessoas precisam de luz em casa, mas as atividades produtivas não podem se expandir se há ameaças à sua segurança de abastecimento.

Reservatório da hidrelétrica de Marimbondo, no rio Grande, na cidade de Guaraci (SP); em julho, represa estava com 41% de sua capacidade - Joel Silva/Folhapress

Mas é preciso um olhar de longo prazo.

Foi exatamente a partir de uma grave crise hídrica, a de 2001, que o Brasil fez o dever de casa. Aprovou a lei 10.438, de abril de 2002, criando o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), abrindo condições para investimentos em novas fontes renováveis.

O crescimento vem sendo vertiginoso. A energia eólica já representa cerca de 15% da matriz elétrica brasileira, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Em 2023, a geração solar centralizada teve uma adição de 4 GW em capacidade instalada –quase 30% de uma Itaipu Binacional– e foram instalados mais de 625 mil sistemas fotovoltaicos de geração distribuída.

Barragem da usina de Itaipu em novembro de 2023 - Sara Cheida/Itaipu Binacional

Há desafios, e a intermitência ainda é um ponto preocupante enquanto for elevado o custo das baterias –tecnologia sem produção em escala no país.

Nem sempre os ventos sopram nos aerogeradores. E, com o fim da tarde, um grande volume de geração solar, centralizada e distribuída, sai do sistema justamente no momento em que dezenas de milhões de brasileiros chegam em casa, abrem a geladeira, acionam chuveiro elétrico etc.

Esse gargalo vem representando uma tremenda dor de cabeça diária para os técnicos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Afora as medidas paliativas, o grande objetivo do planejamento do setor, portanto, deve ser na direção de conservar a grande bateria natural do país –as hidrelétricas. E as opções mais sustentáveis estão nos biocombustíveis.

No Brasil, um setor consolidado, mas que talvez mereça uma atenção maior do país, é a chamada cogeração de energia.

O que é cogeração?

É o nome dado à produção simultânea de energia elétrica e térmica, bastante eficiente, firme e estável, a partir de um único combustível –por exemplo, resíduos da produção de madeira e celulose, da agropecuária ou da cana-de-açúcar. Basicamente, a resposta passa pela biomassa, independente da fonte.

Funcionário transportam bagaço de cana-de-açúcar queimada em caldeiras dentro da Usina Santa Elisa, que o utiliza para cogeração de energia, em Sertãozinho (SP) - Márcia Ribeiro/Folhapress

De acordo com a Associação da Indústria de Cogeração de Energia, essa forma de produzir eletricidade e calor contribuiu, somente em 2023, para evitar uma redução de 16 pontos percentuais no nível de água dos reservatórios das hidrelétricas do principal subsistema do país, o Sudeste/Centro-Oeste.

Há várias possibilidades na mesa –e é sempre preciso olhar para o interesse do consumidor, valorizando soluções eficientes, competitivas e que entreguem atributos ambientais.

O certo é que o Brasil precisa começar a resolver agora os desafios hídricos que estão por vir nos anos futuros, sem escolher medidas no longo prazo que estejam na contramão da descarbonização ou que não gerem empregos aqui.