Dois anos depois da pior crise hídrica dos últimos 90 anos, o Brasil enfrenta novamente uma seca preocupante.
O agravamento da situação levou a uma reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Entre as medidas discutidas está a volta do horário de verão. No começo do mês, o CMSE já havia aprovado a ampliação da contratação de usinas termelétricas a gás natural.
Medidas paliativas são essenciais, claro. As pessoas precisam de luz em casa, mas as atividades produtivas não podem se expandir se há ameaças à sua segurança de abastecimento.
Mas é preciso um olhar de longo prazo.
Foi exatamente a partir de uma grave crise hídrica, a de 2001, que o Brasil fez o dever de casa. Aprovou a lei 10.438, de abril de 2002, criando o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), abrindo condições para investimentos em novas fontes renováveis.
O crescimento vem sendo vertiginoso. A energia eólica já representa cerca de 15% da matriz elétrica brasileira, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Em 2023, a geração solar centralizada teve uma adição de 4 GW em capacidade instalada –quase 30% de uma Itaipu Binacional– e foram instalados mais de 625 mil sistemas fotovoltaicos de geração distribuída.
Há desafios, e a intermitência ainda é um ponto preocupante enquanto for elevado o custo das baterias –tecnologia sem produção em escala no país.
Nem sempre os ventos sopram nos aerogeradores. E, com o fim da tarde, um grande volume de geração solar, centralizada e distribuída, sai do sistema justamente no momento em que dezenas de milhões de brasileiros chegam em casa, abrem a geladeira, acionam chuveiro elétrico etc.
Esse gargalo vem representando uma tremenda dor de cabeça diária para os técnicos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Afora as medidas paliativas, o grande objetivo do planejamento do setor, portanto, deve ser na direção de conservar a grande bateria natural do país –as hidrelétricas. E as opções mais sustentáveis estão nos biocombustíveis.
No Brasil, um setor consolidado, mas que talvez mereça uma atenção maior do país, é a chamada cogeração de energia.
O que é cogeração?
É o nome dado à produção simultânea de energia elétrica e térmica, bastante eficiente, firme e estável, a partir de um único combustível –por exemplo, resíduos da produção de madeira e celulose, da agropecuária ou da cana-de-açúcar. Basicamente, a resposta passa pela biomassa, independente da fonte.
De acordo com a Associação da Indústria de Cogeração de Energia, essa forma de produzir eletricidade e calor contribuiu, somente em 2023, para evitar uma redução de 16 pontos percentuais no nível de água dos reservatórios das hidrelétricas do principal subsistema do país, o Sudeste/Centro-Oeste.
Há várias possibilidades na mesa –e é sempre preciso olhar para o interesse do consumidor, valorizando soluções eficientes, competitivas e que entreguem atributos ambientais.
O certo é que o Brasil precisa começar a resolver agora os desafios hídricos que estão por vir nos anos futuros, sem escolher medidas no longo prazo que estejam na contramão da descarbonização ou que não gerem empregos aqui.
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