quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Ricardo Mussa - Secas são desafio para matriz renovável, FSP

 Dois anos depois da pior crise hídrica dos últimos 90 anos, o Brasil enfrenta novamente uma seca preocupante.

O agravamento da situação levou a uma reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Entre as medidas discutidas está a volta do horário de verão. No começo do mês, o CMSE já havia aprovado a ampliação da contratação de usinas termelétricas a gás natural.

Medidas paliativas são essenciais, claro. As pessoas precisam de luz em casa, mas as atividades produtivas não podem se expandir se há ameaças à sua segurança de abastecimento.

Reservatório da hidrelétrica de Marimbondo, no rio Grande, na cidade de Guaraci (SP); em julho, represa estava com 41% de sua capacidade - Joel Silva/Folhapress

Mas é preciso um olhar de longo prazo.

Foi exatamente a partir de uma grave crise hídrica, a de 2001, que o Brasil fez o dever de casa. Aprovou a lei 10.438, de abril de 2002, criando o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), abrindo condições para investimentos em novas fontes renováveis.

O crescimento vem sendo vertiginoso. A energia eólica já representa cerca de 15% da matriz elétrica brasileira, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Em 2023, a geração solar centralizada teve uma adição de 4 GW em capacidade instalada –quase 30% de uma Itaipu Binacional– e foram instalados mais de 625 mil sistemas fotovoltaicos de geração distribuída.

Barragem da usina de Itaipu em novembro de 2023 - Sara Cheida/Itaipu Binacional

Há desafios, e a intermitência ainda é um ponto preocupante enquanto for elevado o custo das baterias –tecnologia sem produção em escala no país.

Nem sempre os ventos sopram nos aerogeradores. E, com o fim da tarde, um grande volume de geração solar, centralizada e distribuída, sai do sistema justamente no momento em que dezenas de milhões de brasileiros chegam em casa, abrem a geladeira, acionam chuveiro elétrico etc.

Esse gargalo vem representando uma tremenda dor de cabeça diária para os técnicos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Afora as medidas paliativas, o grande objetivo do planejamento do setor, portanto, deve ser na direção de conservar a grande bateria natural do país –as hidrelétricas. E as opções mais sustentáveis estão nos biocombustíveis.

No Brasil, um setor consolidado, mas que talvez mereça uma atenção maior do país, é a chamada cogeração de energia.

O que é cogeração?

É o nome dado à produção simultânea de energia elétrica e térmica, bastante eficiente, firme e estável, a partir de um único combustível –por exemplo, resíduos da produção de madeira e celulose, da agropecuária ou da cana-de-açúcar. Basicamente, a resposta passa pela biomassa, independente da fonte.

Funcionário transportam bagaço de cana-de-açúcar queimada em caldeiras dentro da Usina Santa Elisa, que o utiliza para cogeração de energia, em Sertãozinho (SP) - Márcia Ribeiro/Folhapress

De acordo com a Associação da Indústria de Cogeração de Energia, essa forma de produzir eletricidade e calor contribuiu, somente em 2023, para evitar uma redução de 16 pontos percentuais no nível de água dos reservatórios das hidrelétricas do principal subsistema do país, o Sudeste/Centro-Oeste.

Há várias possibilidades na mesa –e é sempre preciso olhar para o interesse do consumidor, valorizando soluções eficientes, competitivas e que entreguem atributos ambientais.

O certo é que o Brasil precisa começar a resolver agora os desafios hídricos que estão por vir nos anos futuros, sem escolher medidas no longo prazo que estejam na contramão da descarbonização ou que não gerem empregos aqui.

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