quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Fazer o ‘M’ de Marcola é o maior perigo das eleições, Marcelo Godoy, OESP

 


Foto do author Marcelo Godoy

As ligações da criminalidade organizada com a política nunca foram tão extensas como nas eleições deste ano. A Itália, terra da máfia, registra um sentido particular para o verbo sdoganare, fazer passar pela alfândega. É aquele que se refere à concessão de legitimidade e respeito a quem antes era um pária ou contra quem o sistema político opunha seus vetos, como os impostos a extremistas e mafiosos.

A Operação Dignitas do Ministério Público e da Polícia Civil buscou desbaratar o ecossistema do crime da Cracolândia, dominada pelo PCC de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola
A Operação Dignitas do Ministério Público e da Polícia Civil buscou desbaratar o ecossistema do crime da Cracolândia, dominada pelo PCC de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola Foto: Tiago Queiroz/Estadão

PUBLICIDADE

O acúmulo de casos de candidatos e – pasmem – dirigentes partidários investigados ou condenados por delitos ligados à criminalidade organizada em São Paulo mostra que à miséria da política – povoada por casos de corrupção e pela defesa de privilégios de castas insensíveis às angústias da população –, o eleitor pode acrescentar a desgraça do narcoestadosdoganando mafiosos por meio do voto.

Conservadores que repudiam o governo da Venezuela deviam se lembrar das acusações que ligam seu ditador ao tráfico de drogas antes de votar em candidatos suspeitos, como se dissessem me ne frego, pouco me importa, a exemplo dos italianos. Da mesma forma os progressistas que lembram do papel do deputado comunista Pio la Torre no combate à máfia na Itália não podem tolerar políticos ligados às cooperativas de ônibus notoriamente dominadas pelo PCC.

O ex-policial Edílson Ricardo da Silva (à esq.) em encontro com o Tarcísio Escobar de Almeida (3º da esq. p/ dir.) e o presidente do PRTB, Leonardo Avalanche (ao centro de terno azul): todos citados em episódios envolvendo o PCC
O ex-policial Edílson Ricardo da Silva (à esq.) em encontro com o Tarcísio Escobar de Almeida (3º da esq. p/ dir.) e o presidente do PRTB, Leonardo Avalanche (ao centro de terno azul): todos citados em episódios envolvendo o PCC Foto: PRTB / Divulgação

Há limite para o antipetismo bem como para o antibolsonarismo. E esse limite é simples: não há saída fora da política; só o discurso radical e cego de quem pretende atear fogo à própria casa pode achar que político desonesto é a mesma coisa do que um criminoso de uma facção qualquer. Experimente convidar um latrocida ou um estuprador para jantar em seu lar para saber rapidamente a diferença entre uns e outros.

Quando um partido político não toma os devidos cuidados ao convidar uma “liderança” e conceder a ela um espaço na lista de candidatos, ele expõe os eleitores a um perigo mortal para a República. Ainda que a política não seja propriamente um reino de vestais, ela só faz sentido como forma de alcançar o bem comum e não o de poucos, que buscam tiranizar os demais.

Publicidade

A ficha do chefão Giovanni Motisi, o último grande foragido de Cosa Nostra, a máfia siciliana.
A ficha do chefão Giovanni Motisi, o último grande foragido de Cosa Nostra, a máfia siciliana. Foto: Reprodução / Ministero dell'Interno
imagem newsletter
newsletter
Política
As principais notícias e colunas sobre o cenário político nacional, de segunda a sexta.
Ao se cadastrar nas newsletters, você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade.

No momento em que Arthur Lira pretende estabelecer um regime de cárcere duro, como na Itália, para o cumprimento de pena de integrantes de organizações mafiosas, é necessário que a política erga barreiras intransponíveis para afastar das urnas de forma perene e rápida os integrantes de facções e milícias, bem como seja punida a omissão criminosa de quem permite à bandidagem se apossar de diretórios e outras estruturas de poder. A condescendência com a criminalidade organizada – em busca de dinheiro e de votos – é um dos mais perigosos delitos que um político pode cometer: é fazer o ‘m’ de Marcola. Ou de Motisi, o capo da Cosa Nostra.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Governo Lula vai lançar plano para fomentar extração de minerais da transição energética, FSP

 O Ministério de Minas e Energia vai lançar neste semestre um programa para fomentar a extração de minerais vistos como críticos para a transição energética, como lítio, cobre e níquel. Segundo uma fonte do governo, o plano está pronto e a pasta espera o melhor momento político para lançá-lo.

Entre os principais pontos do projeto está o fomento de crédito para mineradoras que queiram pesquisar, extrair e transformar esses minérios. Hoje, a maior parte do lítio, por exemplo, que é extraído no país, vai para a China sem qualquer transformação para a produção de baterias para veículos elétricos.

Planta da Sigma Lithium em Araçuaí (MG)
Planta da Sigma Lithium em Araçuaí (MG) - Divulgação/Sigma

A visão de técnicos de governo é que todos os países que hoje incentivam a transformação mineral em seu território em uma tentativa de ganhar espaço no mercado controlado pela China precisaram dar crédito e incentivos fiscais para as mineradoras.

O governo enxerga vantagem do Brasil nesse mercado, uma vez que União Europeia e Estados Unidos buscam diversificar seus fornecedores e reduzir a dependência da China. A constatação, porém, é de que o país não pode demorar a atrair empresas interessadas em produzir produtos minerais de valor agregado, como as baterias de veículos elétricos ou insumos preliminares à produção dessa tecnologia, além de turbinas eólicas e placas solares.

Em março, o governo publicou um decreto que autoriza empresas com projetos de transformação de minerais estratégicos para a transição energética a emitirem debêntures incentivadas. As empresas que captarem recursos por meio desse tipo de instrumento financeiro de crédito terão direito a benefício fiscal.

PUBLICIDADE

O plano a ser lançado pelo MME nos próximos meses, porém, deve prever novos mecanismos de financiamento, segundo técnicos da pasta.

O programa também busca ampliar o mapeamento geológico do país, inclusive para encontrar novas jazidas de lítio, cobre e níquel. Hoje, a maior reserva desses minerais estão em Minas Gerais, Pará e Goiás, mas as reservas, principalmente de lítio, ainda são pouco exploradas.

Por outro lado, não há previsão de quando o governo publicará um novo arcabouço legal da mineração, como se cogitava no início do ano após críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Vale. À época, o diagnóstico era de que há milhares de minas paradas pelo país e que o governo criaria normas mais rígidas para forçar as mineradoras a extraírem minério nas áreas onde elas têm direito mineral.

Até agora, os técnicos do MME teriam apresentado ao ministro Alexandre Silveira propostas de como aumentar essa rigidez, mas sem estarem dentro de uma nova política de mineração como se cogitava anteriormente.

De acordo com números levantados pelo governo e obtidos pela Folha em abril, 25% das mais de 14 mil concessões de lavra concedidas às empresas estão paralisadas, pela falta de início da exploração ou por suspensão das atividades. Esse cenário afeta a conta dos municípios mineradores, que dependem da distribuição de royalties do setor para pagar suas despesas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login