terça-feira, 28 de maio de 2024

Deirdre Nansen McCloskey, Famílias são agradáveis, necessárias e perigosas, FSP

 Obviamente, nós somos criados em famílias. Sim, também somos criados em unidades maiores, como nossos bairros, estados ou o mundo. Mas até que possamos gerar embriões em tubos de ensaio não há alternativa para as mães, graças a Deus. Feliz Dia das Mães atrasado!

E as mães amam os seus filhos, sendo o amor materno essencial para criar um adulto saudável. Tenho uma amiga holandesa que teve o último de seus quatro filhos aos 40 e poucos anos e estava preocupada se os hormônios agiriam para que ela amasse o bebê com tanta paixão quanto amou os outros três. Não houve problemas. Os hormônios funcionaram.

E tanto os pais quanto as mães na faixa dos 20 ou 30 anos, como qualquer pessoa na faixa dos 20 ou 30 anos sabe, têm um desejo biológico de procriar.

Casal na praia com criança
Natalya Zaritskaya/Unsplash

É verdade que esse desejo é fortemente modificado pelas forças sociais. As preocupações malthusianas exageradas com a população, interagindo com as preocupações exageradas com o meio ambiente, convenceram muitos jovens a não ter filhos. Isso e também a pílula, a carreira profissional das mulheres e a redução da mortalidade infantil.

O número de filhos por mulher, que precisa ser de cerca de 2,1 para manter a população constante, caiu na Coreia do Sul para 0,87.

Portanto, as famílias são importantes, obviamente. Mas esse fato universal entre mamíferos e aves leva os mamíferos humanos a generalizarem excessivamente a família. Assim, a família torna-se uma metáfora universal de como conviver uns com os outros.

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Um famoso discurso no Parlamento da Suécia em 1927 introduziu o termo "folkhemmet", a casa do povo. Foi inspirado por uma aliança característica da época, de corporativistas conservadores com socialistas progressistas —daí o New Deal nos Estados Unidos—, consagrada pela água benta do socialismo cristão no evangelho social ou na doutrina social católica. A metáfora dominou a política sueca até seus desastres na década de 1990.

Ou seja, a família apoia o socialismo e a esquerda. Mas também apoia o conservadorismo e a direita. O rei é sempre visto como "o pai da nação". Um proprietário de escravos pensa em seus escravos como filhos, pelo menos se ele for um "bom" proprietário de escravos.

O sentimento predominante é o de que Lula ou Bolsonaro, Biden ou Trump, e todo o aparato do megaestado, são nossos pais. Bons na esquerda ou na direita.

Mas uma sociedade não é uma família, e sim uma conversa entre iguais. Atenção para as suas metáforas.


Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves


Olavo tinha mesmo razão sobre as universidades?, FSP

 Um dos sintomas mais miseráveis da polarização que vivemos é a tentativa, por parte de ambos os lados dela, de empurrar quem não está 100% com eles para o lado contrário da disputa política. Este é o ponto em que a adesão política passa a funcionar como uma religião exclusivista. Não é mais uma proposta de transformação do mundo, que precisa buscar novos defensores para que seja implementada na democracia, e sim uma maneira do indivíduo se sentir moralmente superior, levando-o, portanto, a excluir de seu círculo quem não pertence ao grupo dos puros.

A sociedade democrática só resiste na medida em que uma massa crítica de cidadãos e instituições não cederem a essa lógica binária, cuja consequência lógica é a guerra civil —se houver semelhança de força entre os polos— ou a ditadura, se um deles for mais forte. E uma dessas instituições é, sem dúvida, a universidade, em especial as faculdades de humanas, que são aquelas que se propõem a falar sobre a sociedade. Se deve existir um espaço em que o pensamento seja explorado com total liberdade e profundidade, sem se render aos interesses políticos do momento, é a universidade. Não parece, contudo, que seja o caso.

Servidores federais da educação e estudantes fazem aulão na frente da sede do MEC (Ministério da Educação), em Brasília. A categoria está em greve e o ato faz parte da mobilização por reestruturação da carreira. - Pedro Ladeira/Folhapress

Na semana passada, foi a vez de Francisco Bosco, intelectual que se situa tranquilamente na centro-esquerda, ser massacrado por ter dito que Olavo de Carvalho tinha razão ao criticar a falta de autores de direita nas universidades. Não sei se o problema está tanto na bibliografia dos cursos de humanas ou no posicionamento político de professores e estudantes, esse sim majoritariamente de esquerda e sem abertura a questionamentos (o que, imagino, deve ter algum impacto em como leem a bibliografia). Mas existe sim um problema, que tem levado a um distanciamento crescente entre mundo acadêmico e o debate público aqui fora.

Até onde eu saiba, a crítica de Olavo foi feita por muitos outros autores, inclusive com mais propriedade. No que ele foi realmente pioneiro, isso sim, foi em descobrir na prática o caminho para minar a relevância pública da universidade. Ele, ainda na primeira década dos anos 2000, percebeu que a tecnologia tornara possível prescindir dos canais da imprensa e da chancela das universidades. Cortando um a um todos os vínculos que ele tinha com a imprensa nos primeiros anos do século 21, Olavo migrou para a conexão direta com o público via internet: seja por seu curso pago de filosofia, com milhares de alunos, seja pelos comentários políticos que veiculava gratuitamente para centenas de milhares de ouvintes.

Numa linguagem que se conectava com um público sedento por saber, em seu discurso a universidade virara um antro de esquerdismo e perversão moral. Isso é mentira, mas o fato de que seja facilmente acreditado por tanta gente mostra que seus membros têm falhado em se comunicar com a população e em mostrar sua relevância.

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Se, além disso, transformam-se em meros peões da disputa política, só confirmam as crenças de quem os ataca. Os defensores da universidade têm razão; mas isso vale muito pouco se não conseguirem também convencer a sociedade. E, nisso, têm deixado a desejar. Um dos jeitos de recuperar a confiança da população é ser capaz de mostrar que em seus quadros há pessoas de variadas ideologias, e que fomenta nos estudantes não o radicalismo da vez, e sim a disposição de pensar por si mesmos, sem as amarras do grupo ou da tradição. Num momento em que professores exigem —com justiça— melhor pagamento, é preciso também mostrar à sociedade que aquilo tudo vale o investimento.

Judiciário custou R$ 132,8 bi em 2023, com gasto mensal de R$ 68 mil por magistrado, OESP

 O Poder Judiciário custou R$ 132,8 bilhões aos cofres públicos em 2023, o que representa um aumento de 9% nos gastos em relação ao ano anterior. A despesa média mensal por magistrado - 18,2 mil juízes em todo o País - foi de R$ 68,1 mil, valor que supera em cerca de R$ 24 mil o teto do funcionalismo público (equivalente aos subsídios de um ministro do Supremo Tribunal Federal).

Ao todo, cada um dos 203 milhões de brasileiros gastou R$ 653,70 para bancar o Judiciário.

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Os números constam do levantamento Justiça em Números, elaborado anualmente pelo Conselho Nacional de Justiça com base nos dados do DataJud - plataforma que centraliza informações dos tribunais de todo o País.

As despesas do Judiciário com pessoal bateram R$ 119,78 bilhões em 2023, o equivalente a 90,2% do custo total do Poder. Desse montante: 82% foram gastos com as remunerações de magistrados e servidores, incluindo inativos (R$ 98,1 bi), 9,3% corresponderam ao pagamento de benefícios (R$ 11 bi), 4% estão ligados às ‘despesas em caráter eventual e indenizatório’ (R$ 4,7 bi), 4% foram gastos com terceirizados e 0,7% com estagiários (R$ 892 mi).

Estadão tem revelado a existência de supersalários de magistrados. Os subsídios são construídos com penduricalhos - vantagens eventuais e benefícios que não são submetidos ao abate teto, limite a ser desembolsado tendo como régua de corte o topo dos holerites do funcionalismo.

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O documento do CNJ reconhece os holerites turbinados. “Por se tratar de um valor médio, eventuais indenizações recebidas em razão de decisão judicial destinadas a um pequeno grupo de indivíduos podem impactar sobremaneira nas médias apresentadas, especialmente em órgãos de pequeno ou médio porte, que possuem menor quantitativo de pessoas.”

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A Corte com maior custo médio mensal com magistrados em 2023 foi o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (R$ 120,3 mil) seguida do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (R$ 116,6 mil) e o do Tocantins (R$ 111,5 mil).

Trecho do relatório Justiça em números 2024
Trecho do relatório Justiça em números 2024 Foto: Reprodução

O documento consolida estatísticas de 91 órgãos do Poder Judiciário, sem contar o Supremo Tribunal Federal e o próprio CNJ.

São apresentados dados dos 27 Tribunais de Justiça Estaduais, seis Tribunais Regionais Federais, 24 Tribunais Regionais do Trabalho, 27 Tribunais Regionais Eleitorais, três Tribunais de Justiça Militar Estaduais, Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Eleitoral e Superior Tribunal Militar.

O ‘Justiça em números 2024′ indica não só as despesas mensais do Judiciário com magistrados (R$ 68,1 mil), mas também com servidores (R$ 20,1 mil), terceirizados (R$ 5,1 mil) e estagiários (R$ 1,3 mil).

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Segundo o CNJ, houve um aumento de 1,8% nas despesas por magistrado, de 6,5% nos gastos por servidor, de 4,8% entre terceirizados e de 21,4% por estagiários.

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O custo pelo serviço da Justiça (valor total das despesas do Judiciário dividido pelo número de habitantes) foi de R$ 653,70. Os dados revelam um aumento de 11,5% em relação a 2022, o que equivale a R$ 67,60. É o maior valor desde o início da série histórica, em 2009.

O gasto com o Judiciário em 2023 representa 1,2% do PIB ou 2,38% dos gastos totais da União, Estados, Distrito Federal e municípios. As despesas do ano passado - R$ 132,8 bilhões - apresentaram aumento acumulado de 15,4% nos dois últimos anos.

Do valor total gasto pelo Judiciário em 2023, 18% são referentes a inativos, ou seja, o pagamento de aposentadorias e pensões.

Arrecadação

O ‘Justiça em números’ também apresenta os dados relativos a arrecadações via Judiciário - receitas ligadas à atividade jurisdicional, custas, taxas, execuções fiscais e previdenciárias, imposto de renda.

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Segundo o documento, o Judiciário levantou R$ 68,74 bilhões, o que corresponde a 52% das despesas de toda a Justiça.