terça-feira, 28 de maio de 2024

Tarcísio lança plano para reduzir gastos e espera cortar benefícios fiscais em até R$ 20 bi por ano, OESP

 


O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se prepara para adotar uma série de medidas com o objetivo de cortar despesas na máquina pública, melhorar o ambiente de negócios em São Paulo e aumentar investimentos. Uma das ações com maior potencial é a revisão de benefícios fiscais concedidos a empresas, que segundo o governador pode aumentar a arrecadação em R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões por ano. Atualmente, o total de incentivos fiscais é de cerca de R$ 60 bilhões.

As diretrizes gerais do plano “São Paulo na Direção Certa” serão publicadas nesta quarta-feira, 23, no Diário Oficial. Parte das medidas pode ser implementada apenas com decisões de gestão, mas outra parcela precisará ser aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Governador diz que objetivo das medidas é reduzir gastos para aumentar a capacidade de investimento do Estado
Governador diz que objetivo das medidas é reduzir gastos para aumentar a capacidade de investimento do Estado Foto: Taba Benedicto/Estadão

PUBLICIDADE

As secretarias terão até 90 dias para elaborar propostas e formatar um pacote que abrange de gastos com pessoal e renegociação da dívida com a União até a extinção de órgãos públicos e economia com passagens aéreas e aluguéis de carros.

“É um decreto que mostra a direção que o Estado vai tomar. O Estado vai rever benefício tributário. Benefício que não faz sentido, não gera Capex (investimentos), não agrega emprego e não é determinante para a competitividade, ou seja, não tem o poder de alterar a participação no mercado, eles não serão renovados”, explica o governador.

Tarcísio afirma que, para vencer a resistência dos setores econômicos, o governo analisará cada benefício individualmente. “Não é uma coisa que a gente pretende fazer. É uma coisa que eu já fiz: um terço dos benefícios que venceram agora em abril já não foram renovados”, disse ele, citando como exemplo o setor de areias e agregados.

Os benefícios não renovados aumentarão a arrecadação em R$ 400 milhões por ano. Segundo o chefe do Executivo, a maior parte dos incentivos vence em dezembro.

imagem newsletter
NEWSLETTER
Política
As principais notícias e colunas sobre o cenário político nacional, de segunda a sexta.
Ao se cadastrar nas newsletters, você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade.

Outro ponto destacado pelo governador é a renegociação da dívida do Estado com a União, que também inclui Minas Gerais, Rio Grande do Sul e o de Rio de Janeiro. O principal ponto é a mudança do indexador de IPCA mais 4% ao ano para IPCA mais 2% ao ano, o que traria um alívio para os cofres paulistas de R$ 4 bilhões anualmente.

PUBLICIDADE

“A gente já está falando de R$ 20 bilhões por ano (soma entre o impacto dos benefícios fiscais e da renegociação da dívida). É fôlego para investir em política pública, ferrovia, metrô, hospital, educação, revisão da nossa infraestrutura, para a gente encarar mais parceria público-privada”, afirma o governador, que evita um estimativa total do plano porque ainda há muitos pontos em estudo.

O plano é válido para todos os órgãos do governo paulista, incluindo autarquias, fundações e estatais. As únicas exceções são as universidades públicas estaduais — USP, Unicamp e Unesp — e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O governador afirmou que o mecanismo de funcionamento dessas instituições funciona e por isso elas não foram incluídas na revisão dos gastos.

Como mostrou o Estadão, o governo foi criticado por tentar reduzir o orçamento dessas entidades no orçamento de 2025. Tarcísio recuou no caso das instituições de ensino, mas ainda mantém a brecha que permitirá remanejar até 30% do orçamento da Fapesp no ano que vem.

Algumas das medidas previstas por Tarcísio terão que passar pela análise da Assembleia Legislativa de São Paulo
Algumas das medidas previstas por Tarcísio terão que passar pela análise da Assembleia Legislativa de São Paulo Foto: Rodrigo Romeo/Alesp

O governo paulista já realizou uma reforma administrativa no final do ano passado, quando conseguiu autorização dos deputados para cortar 20% dos cargos comissionados e funções de confiança, que naquele momento chegavam a quase 27 mil vagas. Segundo Tarcísio, mais cortes de cargos devem ocorrer.

O chefe do Executivo indicou nos últimos meses que pretendia continuar alterando a estrutura do Estado. Em um evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em janeiro, declarou que queria extinguir órgãos e agências.

Meses depois, como mostrou o Estadão, disse a deputados que pretendia reestruturar a Fundação Padre Anchieta (FPA), responsável pela TV Cultura, a Fundação para o Remédio Popular (Furp) e a Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Casa), que será objeto de uma parceria público-privada

Decreto ainda não define quais órgãos serão extintos

O decreto que será publicado não detalha quais serão os órgãos extintos ou reestruturados, e o governador afirma que o estudos ainda estão ocorrendo. O texto determina apenas que a Casa Civil, comandada pelo secretário Arthur Lima (PP), terá 60 dias para elaborar o anteprojeto de lei com as propostas sobre o tema.

Também serão feitos: auditoria na folha de pagamento, a instituição de uma Central de Compras e a revisão nas políticas de pessoal. Os estudos serão realizados pela Secretaria de Gestão e Governo Digital, de Caio Paes de Andrade, ex-presidente da Petrobras.

O corte de gastos ficará sob responsabilidade da Secretaria de Fazenda. A pasta terá três meses para apresentar ao governador propostas para reduzir despesas com pessoal e custeio da máquina pública, renegociar a dívida do Estado com a União e apresentar avaliações sobre os benefícios fiscais e programas de governo.

Além disso, cada órgão e entidade terá que formular um plano para reduzir as próprias despesas. O decreto não estabelece o percentual de corte, mas as propostas podem incluir itens como pagamento de diárias e horas extras a servidores, aluguel de imóveis e carros, passagens aéreas e gastos com serviços de impressão, limpeza e vigilância.

Tarcísio propõe reestruturar as agências reguladoras, dando autonomia e independência de gestão. O governador é entusiasta das PPPs, modelo no qual cabe às agências fiscalizarem o cumprimento dos contratos e concessões. O anteprojeto de lei sobre o tema tem prazo de 30 dias para ficar pronto.

Governador quer também critérios técnicos para escolha de dirigentes de entidades

O chefe do Executivo afirma que criará critérios técnicos para a escolha dos dirigentes para diminuir o risco de captura política das agências, além de garantir a autonomia financeira das entidades e melhorar o quadro de cargos e salários para atrair os melhores dirigentes.

“Vou trazer para as agências reguladoras atribuições que hoje estão dispersas. Hoje a Artesp não cuida do transporte metroferroviário de passageiros. Você tem uma estrutura provisória que vem cuidando da regulação há muito tempo. Vamos incorporar uma área dessas na Artesp”, exemplificou ele.

O plano também prevê estudos para ampliar programas de transação tributárias — acordos firmados entre o Estado e os contribuintes para acabar com processos judiciais sobre pagamento de tributos em troca de condições especiais de pagamento.

PUBLICIDADE

O governo já tem um programa do tipo, o Acordo Paulista, que até o início deste mês renegociou R$ 14,6 bilhões em dívidas de ICMS. Deste valor, R$ 2,3 bilhões entraram nos cofres públicos. Também deve ser lançado nos próximos meses um programa similar para pessoas físicas, onde será possível renegociar débitos em impostos como o IPVA.

O decreto também menciona venda de imóveis, a antecipação de créditos que o governo tem a receber e a ampliação dos casos em que as empresas podem utilizar créditos acumulados de ICMS e precatórios para pagar dívidas com o Estado.

Juliano Spyer - Tarcísio, convoque igrejas para monitorar chuvas em SP, FSP

 O número de casos de secas, calor excessivo e inundações está se multiplicando no mundo.

O verão de 2023 foi o mais quente do hemisfério Norte em 2.000 anos e 2024 deve bater esse recorde.

O bairro de Mathias Velho, em Canoas - Anselmo Cunha/AFP

Pobreza e concentração populacional nas periferias agravam as consequências do fenômeno. É por isso que governos no Brasil devem começar a envolver igrejas evangélicas nas ações para prevenir desastres ou mitigar seus efeitos.

Goste-se ou não dos evangélicos, eles estão continuamente gerindo recursos para resolver problemas em suas comunidades. Suas ações incluem coleta e distribuição de mantimentos, oferta de atividades para crianças e adolescentes, estímulo ao empreendedorismo; a lista de serviços é longa. Por isso, eles representam os casos mais expressivos da sociedade civil organizada nos bairros mais expostos a enchentes e deslizamentos.

Há uma ideia equivocada de que evangélicos, em geral mais pobres, não se interessam por ecologia ou que até torcem pelo apocalipse climático. Na verdade, há entre católicos e evangélicos o mesmo senso pró-ambiental que reina na média da população brasileira. "Mesmo se isolarmos os estratos com menor renda e menor escolaridade, eles ainda tendem a reportar níveis de preocupação ambiental altos na comparação internacional", avalia o sociólogo da USP Renan William dos Santos, que estuda o tema.

O ambientalista evangélico Cal DeWitt dedicou parte de sua carreira como pesquisador e professor universitário atuando como tradutor entre cientistas e cristãos nos EUA.

PUBLICIDADE

Para ele, a chave para levar o debate climático para as igrejas é analisar esse tema à luz da Bíblia. "Se a leitura das Escrituras mostra que cuidar da criação é uma parte vital das tarefas das pessoas e que temos sido negligentes em relação a isso, somos mobilizados à conversão (ao ambientalismo)."

O governador Tarcísio de Freitas parece um nome improvável para compor uma lista de embaixadores do clima, mas faz sentido que ele abrace esse tema. A Igreja Universal é uma organização irmã do Republicanos, partido ao qual ele está filiado. Esse relacionamento pode ser o ponto de partida para convocar igrejas para monitorar chuvas e alertar localmente moradores em caso de perigo.

No momento em que o governo federal rejeita atuar em parceria com igrejas —por exemplo, no tema das comunidades terapêuticas, que oferecem tratamento para dependentes—, Tarcísio pode se fortalecer politicamente. Capacitadas, comunidades de fé têm capilaridade e propósito para atuar rapidamente em locais de risco.

E retribuiriam o gesto de confiança mostrando como podem ser relevantes para a sociedade.

spyer@uol.com.br

Conhecer a física das nuvens pode ajudar a resfriar o planeta, Jerson Kelman, FSP

 Muitos anos atrás, tinha a esperança de que a ciência atmosférica evoluiria tanto para melhorar as previsões sobre o clima quanto para moldá-lo às necessidades humanas.

Haveria notável progresso se fosse possível fazer chover no semiárido nordestino e nas áreas de recarga dos reservatórios de água para abastecimento público, irrigação e produção de energia elétrica.

Depositava esperança na técnica de inseminação de nuvens, que consiste no lançamento de micropartículas por avião dentro delas para deflagrar a precipitação.

Nuvens, como se sabe, são formadas por minúsculas gotículas, cujo peso é insuficiente para vencer a resistência do ar. Por isso flutuam. As gotículas tendem a se aglutinar em torno de micropartículas que também flutuam no ar, chamadas de aerossóis. O "abraço de gotículas", à medida que encorpa e ganha peso, acaba por vencer a resistência do ar. Aí chove.

Avião durante inseminação de nuvem nos Emirados Árabes Unidos
Avião durante inseminação de nuvem nos Emirados Árabes Unidos - Amr Alfiky - 22.ago.22/Reuters

Muitas inseminações de nuvens foram feitas nas últimas décadas e continuam sendo feitas. Às vezes funcionam. Mas, mesmo quando chove, não há como garantir o acerto no alvo, com a intensidade pretendida. Por exemplo, relatos jornalísticos atribuem a recente enchente em Dubai a uma malsucedida inseminação.

PUBLICIDADE

Atualmente, há cientistas estudando inseminação de nuvens não para causar chuva, e sim para diminuir a temperatura da Terra. Numa palestra TED, a climatologista Sarah Doherty mostra uma impressionante foto do oceano Pacífico, tirada do espaço. Veem-se nuvens contendo nítidas linhas brilhantes, como traçadas por caneta. Na realidade, são trajetórias de navios, "impressas" nas nuvens.

Explicação: as micropartículas ejetadas das chaminés são levadas pelas correntes de ar ascendentes até as nuvens. Quando lá chegam, aumentam a concentração de gotículas de água. Porém, por um processo físico ainda mal compreendido, as gotículas não "se abraçam" a ponto de causar a precipitação. Permanecem pequenas, flutuando no ar.

Como nuvens com alta concentração de gotículas ficam mais brilhantes, isto é, refletem mais a luz do Sol, trata-se de boa pista para desenvolver tecnologia que permita baixar o termostato da Terra.

Alagamento em estrada em Dubai, em abril - Amr Alfiky - 19.abr.24/Reuters

O avanço do conhecimento sobre a física das nuvens, que ainda é o calcanhar de aquiles dos modelos climáticos globais, talvez torne possível a pulverização de gotículas microscópicas de água do mar no ar, criando uma névoa suave para aumentar a reflexão da radiação solar de volta ao espaço, resfriando assim o planeta. No modelo climatológico utilizado por Doherty, a aplicação de spray em 3,5% da área dos oceanos resultaria em redução de 0,5ºC em 2035.

Parece animador, mas é preciso refrear as expectativas. Primeiro, porque ainda não existe conhecimento científico, muito menos tecnologia, para desenvolver sopradores de spray que produzam esses resultados. Segundo, porque, mesmo que a investigação seja bem-sucedida, não diminuirá o ritmo de acumulação na atmosfera de gases que causam o efeito estufa. Na melhor das hipóteses, será uma espécie de analgésico para as dores da Terra. Não cura a doença, mas traz algum conforto ao paciente.

Há uma outra linha de investigação do tipo "analgésico" baseada em pulverização de aerossóis. Só que não nas nuvens, e sim na estratosfera. O princípio é o mesmo: aumentar a reflexão da radiação solar.

Sob o ponto de vista puramente científico, é uma ideia com mais chance de dar certo. Porém, sob o ponto das relações internacionais, talvez seja ainda mais difícil de ser implementada.