quinta-feira, 24 de novembro de 2022

OBITUÁRIO ESTEVAM ROITMAN (1956 - 2022) Mortes: Vô da Redação, foi gentil com as pessoas e exigente com as palavras, FSP

 


SÃO PAULO

Foi no Brasil Urgente, na TV Bandeirantes, que o jornalista Estevam Roitman ganhou o apelido de Vô. A forma carinhosa de chamá-lo partiu de uma ex-editora do programa, por causa dos cabelos brancos.

"Ele era uma das pessoas mais doces que nós conhecemos. Fugia à regra. Quando chegava para trabalhar, cumprimentava a todos: as mulheres com beijo e os homens, com aperto de mão. Era cordial, gentil, educado, bem-humorado e de bem com a vida", conta a editora de textos do Brasil Urgente, Glauce Cruz, 42. Os dois trabalharam juntos por 18 anos.

No dia 16 de novembro, aos 66 anos, Estevam Roitman não resistiu a um infarto dentro da TV Cultura, durante o exercício da profissão que desempenhou com amor: o jornalismo.

Estevam Roitman (1956-2022)
Estevam Roitman (1956-2022) - Estevam Roitman no Facebook

Estevam trabalhou cerca de 20 anos para o Brasil Urgente. Lá, foi editor de textos. Criterioso, detalhista e impecável no português —uma espécie de tira-dúvidas gramaticais dos colegas.

Desempregado havia quase três anos, Estevam desejava a recolocação profissional. Em meados de maio de 2022, a TV Cultura o contratou. "O dia em que Estevam morreu foi o terceiro no Repórter Eco, um dos sonhos da vida dele", diz Glauce.

Jornalista formado pelas Faculdades Objetivo —atual Unip (Universidade Paulista)—, além da Band, Estevam passou pelas TVs Manchete, Record e SBT e pelo jornal O Estado de S. Paulo. Em rádio, viu a Excelsior se transformar em CBN, e também trabalhou na Capital, segundo a sobrinha Renata Trief Roitman, 31.

O Vô deixou muitos netos órfãos no jornalismo. Colecionou amigos dentro e fora do circuito da imprensa. Estevam era uma pessoa alegre e leve, nada o deixava nervoso. "O mundo poderia cair na Redação e ele mantinha a calma", lembra Glauce.

Para o irmão, Valter Roitman, Estevam foi um grande companheiro. Mesmo sem assunto, os dois conversavam todos os dias. A forte ligação com o primo, Marcelo Zveibil, era alimentada pela afinidade e pelos gostos em comum, como carros e equipamentos eletrônicos, de acordo com Renata.

Estevam orgulhava-se das sobrinhas Claudia e Renata, advogada e jornalista, respectivamente. "Ele era o nosso companheiro de aventuras. Estava sempre pronto para viajar. Gostava de gente, de festa e de conversa", diz Renata.

Solteiro, Estevam Roitman deixou um irmão, as sobrinhas e muitos amigos.

Amarelo da seleção é raro em torcida pelo Brasil na ocupação 9 de Julho, FSP

 Bruno Lucca

SÃO PAULO

Um telão, 80 cadeiras de plástico e incontáveis copos de cerveja compunham o cenário montado em uma sala da ocupação 9 de Julho, na região central de São Paulo, para acompanhar a estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo de Futebol, no Qatar, nesta quinta-feira (24).

Cerca de 60 torcedores, muitos visitantes, se aglomeravam no espaço, onde foi servido arroz, feijão e carne seca com abóbora. Com lotação acima do esperado, uma segunda sala foi aberta durante o intervalo de jogo para a transmissão e logo lotada.

Apesar de ser um jogo do time brasileiro, o verde e amarelo era minoria e competia, principalmente, com o branco e o vermelho, cores, coincidentemente, utilizadas pelo time sérvio.

Torcedores comemoram o segundo gol na ocupação 9 de Julho, durante a estreia da seleção brasileira contra a Servia - Bruno Santos/Folhapress

"Dá uma vontade danada de torcer para o vermelho, nossa", dizia a publicitária Fernanda Ferreira, 24, antes do início da partida.

O adversário do jogo, iniciado às 16h (horário de Brasília), era pouco conhecido para muitos ali. "Tem que respeitar o grandão", repetia um torcedor, em referência ao atacante Mitrović. Ataques do Brasil levantavam a torcida.

Mesmo com a empolgação e o clima de união da partida, os torcedores aproveitavam todas as oportunidades para falar de Neymar, em alguns momentos com direito a ofensas.

"A gente tá torcendo para bolsominion. É uma contradição, é complexo", disse o artista plástico André Ribeiro, 33. Ele se referia ao fato de Neymar ter declarado voto em Jair Bolsonaro (PL), candidato a presidência derrotado, no segundo turno das últimas eleições.

Por outro lado, Vinicius Junior era, de início, o mais celebrado, posto herdado por Richarlison após abrir o placar do jogo aos 22 minutos do segundo tempo. Onze minutos depois, o jogador do Tottenham, da Inglaterra, aumentou o placar para o time brasileiro.

A ocupação 9 de Julho, hoje lar de mais de 500 pessoas, fica em um edifício que abrigou o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e permaneceu vazio por mais de 20 anos até ser ocupado em 1997.

Desalojado por várias vezes nos anos seguintes, foi recuperada pela última vez em 2016 pelo Movimento Sem Teto do Centro e se tornou um dos símbolos da luta pela moradia na capital paulista.

O local, coordenado por Carmen Silva, que também é líder do movimento que fundou a ocupação, conta com brechó, marcenaria, cozinha coletiva —que costuma receber chefes famosos—, refeitório, sala de convivência, biblioteca com brinquedoteca, galeria de arte, quadra, horta comunitária e estacionamento.

Nesta quinta-feira, a programação da ocupação incluía, além da transmissão da partida, um almoço comunitário e apresentações de membros do Teatro Oficina.

Hélio Schwartsman - A patacoada, FSP

 Como lidar com a patacoada jurídico-eleitoral do PL, que resolveu contestar os resultados do pleito de 2022?

É difícil a minha vida. Sou ateu até o último fio de cabelo, mas também sou um liberal, que não tem, portanto, planos de proibir a religião ou regular o que as pessoas podem pensar e dizer. Isso significa que não posso me valer da saída fácil de exigir que todos os discursos sejam lógicos e estejam amparados por evidências empíricas.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto - Ueslei Marcelino/Reuters

Com efeito, não há, a meu ver, ideia mais disparatada e desprovida de base fática do que a de que existe um papai do céu a premiar ou castigar cada ser humano por seu comportamento, mas isso não me legitima a banir a prática religiosa e nem a exigir que ela se justifique no plano argumentativo. Se o sujeito deseja pautar sua vida por um ser imaginário, esse é um direito dele.

Algo parecido vale para os céticos das urnas. Não dá para criminalizar a tese de que a eleição não foi limpa, mesmo que não existam evidências concretas a ampará-la. E também não dá para proibir as pessoas de difundirem suas crenças, por mais absurdas que sejam.

Isso nos deixa de mãos amarradas em relação ao PL? Acho que não, porque o partido fez mais do que espalhar bobagens. Ele pediu uma providência à Justiça, mas quer vê-la aplicada apenas ao segundo turno do pleito, em que Jair Bolsonaro (PL) perdeu, mas não ao primeiro, em que a legenda fez a maior bancada da Câmara. "Mutatis mutandis", seria como eu denunciar um homicídio, mas não mostrar o cadáver alegando que Deus o ressuscitou.

Ainda que, na religião, essa seja uma possibilidade, não é algo que a Justiça deva aceitar. Se milagres são vistos como normais pelo Judiciário, é a própria noção de prova que fica em xeque.

E o PL fez mais do que meter-se inadvertidamente numa aporia. Ao pretender que as urnas são boas para o primeiro turno, mas não para o segundo, ele entra no campo da litigância de má-fé.