sexta-feira, 28 de outubro de 2022

A proposta de Arminio Fraga para Lula e uma ideia de acordo, VTF FSP

 Arminio Fraga publicou artigo muito importante nesta Folha, na semana passada: "Entrevista com Lula por telepatia". Na forma, era isso mesmo, uma conversa imaginária do economista com Lula da Silva (PT) a respeito de temas essenciais de política econômica e social. O texto ressaltava convergências possíveis e divergências.

Era uma proposta de diálogo, em sentido amplo. Políticos prestantes e espertos, do PT e de outros partidos, poderiam pensar em um diálogo em sentido estrito. Não se trata aqui de sugestão de convidar Arminio Fraga para ser ministro em caso de vitória de Lula, nada disso, que nem é assunto de jornalista. Mas de algo mais profundo.

Antes de mais nada e a fim de evitar mal-entendidos: este jornalista infelizmente é incapaz de ler mentes, não pode colocar palavras na boca de ninguém e não tem informação alguma de conversa de Fraga com Lula.

Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil, na cerimônia para a leitura de manifesto pela Democracia, na Faculdade de Direito da USP.; economista declara voto em Lula - 11.08.22 - Zanone Fraissat/Folhapress

Fraga não é representante de movimento, não tem mandato e menos ainda exércitos (políticos). Mas é uma voz representativa, muito respeitada, de economistas de centro, "ortodoxos", "mainstream", "liberais" ou o apelido que se dê. Tem carreira longa e de alto nível na finança e no serviço público —foi presidente do Banco Central sob FHC 2.

Além disso, fundou ou faz parte da direção de centros de estudos, "think tanks", na área de saúde e outras políticas sociais. Tenta reunir estudiosos de alto nível a fim de pensar projetos de governo. Parece um pouco uma tentativa de reagrupar quadros que têm todo jeito, algo renovado, da velha elite tucana ou companheira de viagem, do final dos anos 1980 ao início dos 2000.

Muitas dessas pessoas, da velha guarda ou da nova, se juntaram a Simone Tebet (MDB). Mas, além desta ocasião eleitoral, estão órfãs de partido político que as abrigue ou as ouça de modo sistemático. O PSDB é uma ruína nanica. Não se vê e tão cedo não vai se ver movimento a fim de reunir parlamentares decentes em um partido centrista —eles existem, mas esse rebanho miúdo está disperso.

Muitos desses quadros também declararam voto em Lula no segundo turno. Não raro, o fizeram a contragosto, por discordarem dos governos do PT ou também por terem sido avacalhados por petistas, pessoal e politicamente.

Na sua conversa imaginária, Fraga propôs um diálogo, mas sem sugestão de acordo prático. No entanto, está ali falando com Lula, neste momento muito grave. Em caso de vitória petista, pode apenas se tratar de um convite para um debate público mais amistoso e de boa vontade. Porém, esta conversa está na cabeça de muitos desses quadros ora tebetistas ou similares, no entanto menos otimistas do que Fraga (quando não quase descrentes).

Ainda assim, algo se move: de Lula fazer de Geraldo Alckmin seu vice aos acenos de quadros sérios e capazes do "centro", além daqueles de seus amigos na elite civilizada, como a que assinou as cartas de agosto pela democracia. Neste ano, vários desses "técnicos" militantes escreveram artigos em que mandavam sinais aos petistas, muitos bem críticos dos governos petistas, mas com óbvia proposta de conversa.

Não se candidatavam a cargos. Por convicção ou outros motivos, rejeição petista inclusive, alguns não fariam parte de qualquer governo do PT. Outros não querem fazer parte de governo algum. Mas sugerem um diálogo mais estrito.

Fernando Haddad, candidato a governador de São Paulo, e Alexandre Padilha, ministro de Lula e de Dilma Rousseff (citado por Fraga em sua entrevista imaginária), têm tentado fazer pontes. É pouco. Lula, de modo explícito ou não, proibiu qualquer conversa substantiva.

Nada disso é lá novidade. Em caso de vitória de Lula, seria um assunto urgente.


A proposta de Arminio Fraga para Lula e uma ideia de acordo, VTF FSP

No intuito de colaborar com os debates neste 2º turno, segue abaixo a "transcrição" de uma conversa que imaginei ter tido com Lula. Do meu lado, confesso a influência de uma pitada de esperança, mas acredito que ele foi sincero em tudo que disse.

Lula, você vem sendo pressionado a dar mais detalhes sobre o que pretende fazer com a economia caso seja eleito. Por onde começamos?

Minha principal preocupação vai ser a mesma de sempre: as condições de vida do povo brasileiro, sobretudo dos mais pobres. É um absurdo uma potência agrícola não poder alimentar adequadamente a população. Você é um economista, não seria essa situação uma falha do mercado?

A ilustração digital apresenta, desenhada com linhas pretas, uma personagem feminina sorrindo com os braços abertos. Sua capa aberta revela em seu interior uma paisagem colorida, com o céu rosa, montanhas verdes, um rio azul e um sol vermelho.  Dessa paisagem saem pássaros vermelhos que se espalham pela ilustração. Sobre a cabeça da personagem, desenhado apenas com linhas coloridas, um arco-íris.  O fundo é bege.
Lívia Serri Francoio

Estou pensando, tem muita coisa envolvida.

Pelo visto a falha é dos economistas... Olha só, enquanto você pensa, deixa eu te explicar uma coisa: foi pra isso que inventaram o governo. Vamos incluir no orçamento um espaço pra lidar com esse tema.

Quando nós inventamos o Bolsa Família, acatamos a recomendação liberal de transferir dinheiro para os pobres e deixar eles decidirem onde gastar. Funcionou bem, mas quero ver como andam as coisas. Temos muito a fazer nessa área.

Nos últimos tempos a inflação acumulada em 12 meses andou batendo nos dois dígitos. O que você pretende fazer a respeito?

Olha, pra começar, não aceito que duvidem do meu compromisso com o combate à inflação – ninguém entende melhor do que eu que com inflação quem mais perde são os pobres.

No meu primeiro mandato dei ao Banco Central toda a liberdade para cuidar do assunto. Teve muito fogo amigo sobre o BC, mas eu banquei.

Pretendo manter o atual presidente, claro, como manda a lei. Me dizem que ele vem trabalhando bem, melhor ainda.

E a política fiscal?

Esse é um desafio que teremos que encarar. Concluí que a herança que recebi em 2003 não era tão maldita. Tinha um superávit primário de mais de 3% e uma dívida que não era tão alta e encolheu depois que o dólar caiu, graças ao bom trabalho que desenvolvemos.

Agora tem um monte de despesa adiada e represada e um déficit projetado para o ano que vem. A dívida voltará a subir. Durante o meu mandato vou ajustar o fiscal para a dívida parar de crescer.

Como?

Só um instante que tenho que atender um telefonema. Padilha, cansei desse mistério, vou abrir o jogo com a turma. Pode publicar.

Veja bem, tem muita gordura por aí, muito subsídio, muito gato gordo. Você sabe que mesmo no setor público tem muito abuso e desigualdade. A minha ideia é atacar o problema em todas as frentes e usar o resultado para gastar no social e ajustar as contas. Vou arrumar alguém do nível do Palocci para coordenar esse trabalho.

Mas vai sobrar dinheiro para o social?

Vou te explicar uma coisa: quem mais vai se beneficiar do ajuste, outra vez, vai ser o pobre. Por quê? Na confusão da inflação e da bagunça fiscal, quem é que se ferra? O de sempre, os mais pobres.

Esse ponto é importante: eu vou encarar esse desafio para os pobres. Se a Faria Lima gostar, tanto melhor, mas a minha motivação é muito mais profunda.

E o teto de gastos? Vai ficar muita coisa fora?

Eu sei que nem o gasto e nem a dívida pública podem seguir crescendo mais do que o PIB. Me sugeriram tirar investimento da conta, mas o que é investimento? Pra mim tem que incluir educação, saúde, segurança, ciência. Melhor não inventar, nossa credibilidade anda por baixo. E quase todo o investimento de infraestrutura dá para fazer com capital privado. Com a nossa supervisão, claro.

E a economia vai andar?

Pois é, eu estava esperando essa pergunta. Eu acredito que um país pacificado, mais tranquilo, que não repita erros do passado, do PT inclusive, tem tudo para crescer uns 4% ao ano por um bom tempo, começando logo depois das eleições. Se eu ganhar, claro.

Eu acredito nisso, mas sou dos poucos. Como seria? Só tranquilidade basta?

Não basta. Ajuda muito mas não basta. Acho que praticamente tudo no Brasil tem espaço para melhorar. Tem umas reformas na cara do gol, esperando um empurrão do presidente. Eu vou liderar pessoalmente esse trabalho.

Listo aqui alguns exemplos. Em primeiro lugar a tributária; tanto a criação de um IVA quanto uma faxina do imposto de renda, cheio de moleza indevida para os mais ricos. Uma reforma do Estado também faz todo sentido. As minhas bases topam uma reforma justa e bem desenhada, para não ter abuso. Elas sabem que comigo dá para topar.

Que mais?

Vou fazer uma aposta enorme no Brasil verde. Parece um caminho perfeito para nós, que sempre zelamos pelo meio ambiente. Acabar como o desmatamento, salvar a nossa biodiversidade, acertar as coisas com a Europa, entrar para a OCDE. E ar, rios e praias limpas pra todo muito. Já imaginou?

Para terminar: e essas ideias de indústria naval, bancos públicos, etc. Tem um jeito meio velho...

Pode ficar tranquilo. Nós vamos tratar o dinheiro do povo bem. Prometo que tudo que fizermos será estudado, justificado e avaliado de forma transparente.

 

'Em nome de Bob Jeff, levarei meu fuzil', diz aluno do Mackenzie, que suspende aulas, FSP

 Estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, trocaram mensagens em um grupo de WhatsApp dizendo que vão agir com violência contra alunos da mesma instituição que farão ato, nesta sexta (28), em prol da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Em nome de Bob Jeff [Roberto Jefferson], levarei meu fuzil", diz um deles. Outro escreve: "Quem derrubar mais petista, eu pago uma dose". Um terceiro estudante pergunta: "Pode ir armado?".

0
Entrada da Universidade Presbiteriana Mackenzie, na zona central de São Paulo - Zanone Fraissat - 18.nov.2014/Folhapress

Prints das mensagens passaram a circular nesta quinta (27) entre alunos e funcionários do Mackenzie. À noite, a instituição emitiu um comunicado dizendo que as aulas no campus Higienópolis estão suspensas nesta sexta (28) em razão da cessão do espaço para a eleição. No primeiro turno, a medida não foi adotada.

Procurada, a Universidade não se manifestou até a conclusão deste texto.

Intitulado como Mack Verde e Amarelo, o grupo em que foram trocadas as mensagens surgiu como reação aos alunos que defendem a eleição do petista e que estão convocando para a noite de sexta (28) um ato pela democracia.

No WhatsApp, os organizadores do movimento ressaltaram que a manifestação é pacífica e que quem se desvirtuar desse princípio, não é bem-vindo.

Também circula no grupo uma mensagem que seria de um aluno do ato a favor de Lula dizendo: "Vamos matar os bolsominions". "Tem que metralhar essa petralhada", responde um estudante no grupo.

O perfil do Instagram Mack Verde e Amarelo publicou uma nota, na noite desta quinta (27), dizendo que os organizadores dos dois movimentos conversaram e se comprometeram a manter "a paz e a distância".

Também foi acordado que as manifestações serão realizadas em horários diferentes. A parte da manhã será reservada ao Mack Verde e Amarelo, que irá se reunir na rua Maria Antônia. "Durante a tarde/noite, a direita se manterá dispersada, com suas camisetas verdes e amarelas, porém sem se encontrarem e se unirem em locais."

Já o Mack com Lula fará o ato pela democracia às 19h, com concentração também na rua Maria Antonia.

Os dois lados afirmam que vão manter as manifestações apesar da suspensão das aulas.