No intuito de colaborar com os debates neste 2º turno, segue abaixo a "transcrição" de uma conversa que imaginei ter tido com Lula. Do meu lado, confesso a influência de uma pitada de esperança, mas acredito que ele foi sincero em tudo que disse.
Lula, você vem sendo pressionado a dar mais detalhes sobre o que pretende fazer com a economia caso seja eleito. Por onde começamos?
Minha principal preocupação vai ser a mesma de sempre: as condições de vida do povo brasileiro, sobretudo dos mais pobres. É um absurdo uma potência agrícola não poder alimentar adequadamente a população. Você é um economista, não seria essa situação uma falha do mercado?
Estou pensando, tem muita coisa envolvida.
Pelo visto a falha é dos economistas... Olha só, enquanto você pensa, deixa eu te explicar uma coisa: foi pra isso que inventaram o governo. Vamos incluir no orçamento um espaço pra lidar com esse tema.
Quando nós inventamos o Bolsa Família, acatamos a recomendação liberal de transferir dinheiro para os pobres e deixar eles decidirem onde gastar. Funcionou bem, mas quero ver como andam as coisas. Temos muito a fazer nessa área.
Nos últimos tempos a inflação acumulada em 12 meses andou batendo nos dois dígitos. O que você pretende fazer a respeito?
Olha, pra começar, não aceito que duvidem do meu compromisso com o combate à inflação – ninguém entende melhor do que eu que com inflação quem mais perde são os pobres.
No meu primeiro mandato dei ao Banco Central toda a liberdade para cuidar do assunto. Teve muito fogo amigo sobre o BC, mas eu banquei.
Pretendo manter o atual presidente, claro, como manda a lei. Me dizem que ele vem trabalhando bem, melhor ainda.
E a política fiscal?
Esse é um desafio que teremos que encarar. Concluí que a herança que recebi em 2003 não era tão maldita. Tinha um superávit primário de mais de 3% e uma dívida que não era tão alta e encolheu depois que o dólar caiu, graças ao bom trabalho que desenvolvemos.
Agora tem um monte de despesa adiada e represada e um déficit projetado para o ano que vem. A dívida voltará a subir. Durante o meu mandato vou ajustar o fiscal para a dívida parar de crescer.
Como?
Só um instante que tenho que atender um telefonema. Padilha, cansei desse mistério, vou abrir o jogo com a turma. Pode publicar.
Veja bem, tem muita gordura por aí, muito subsídio, muito gato gordo. Você sabe que mesmo no setor público tem muito abuso e desigualdade. A minha ideia é atacar o problema em todas as frentes e usar o resultado para gastar no social e ajustar as contas. Vou arrumar alguém do nível do Palocci para coordenar esse trabalho.
Mas vai sobrar dinheiro para o social?
Vou te explicar uma coisa: quem mais vai se beneficiar do ajuste, outra vez, vai ser o pobre. Por quê? Na confusão da inflação e da bagunça fiscal, quem é que se ferra? O de sempre, os mais pobres.
Esse ponto é importante: eu vou encarar esse desafio para os pobres. Se a Faria Lima gostar, tanto melhor, mas a minha motivação é muito mais profunda.
E o teto de gastos? Vai ficar muita coisa fora?
Eu sei que nem o gasto e nem a dívida pública podem seguir crescendo mais do que o PIB. Me sugeriram tirar investimento da conta, mas o que é investimento? Pra mim tem que incluir educação, saúde, segurança, ciência. Melhor não inventar, nossa credibilidade anda por baixo. E quase todo o investimento de infraestrutura dá para fazer com capital privado. Com a nossa supervisão, claro.
E a economia vai andar?
Pois é, eu estava esperando essa pergunta. Eu acredito que um país pacificado, mais tranquilo, que não repita erros do passado, do PT inclusive, tem tudo para crescer uns 4% ao ano por um bom tempo, começando logo depois das eleições. Se eu ganhar, claro.
Eu acredito nisso, mas sou dos poucos. Como seria? Só tranquilidade basta?
Não basta. Ajuda muito mas não basta. Acho que praticamente tudo no Brasil tem espaço para melhorar. Tem umas reformas na cara do gol, esperando um empurrão do presidente. Eu vou liderar pessoalmente esse trabalho.
Listo aqui alguns exemplos. Em primeiro lugar a tributária; tanto a criação de um IVA quanto uma faxina do imposto de renda, cheio de moleza indevida para os mais ricos. Uma reforma do Estado também faz todo sentido. As minhas bases topam uma reforma justa e bem desenhada, para não ter abuso. Elas sabem que comigo dá para topar.
Que mais?
Vou fazer uma aposta enorme no Brasil verde. Parece um caminho perfeito para nós, que sempre zelamos pelo meio ambiente. Acabar como o desmatamento, salvar a nossa biodiversidade, acertar as coisas com a Europa, entrar para a OCDE. E ar, rios e praias limpas pra todo muito. Já imaginou?
Para terminar: e essas ideias de indústria naval, bancos públicos, etc. Tem um jeito meio velho...
Pode ficar tranquilo. Nós vamos tratar o dinheiro do povo bem. Prometo que tudo que fizermos será estudado, justificado e avaliado de forma transparente.
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