segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Grande desafio é recriar partido democrático de direita, diz Renato Janine Ribeiro, FSP (definitivo)

 Naief Haddad

SÃO PAULO

Vença Lula (PT) ou Jair Bolsonaro (PL), um grande desafio se impõe à política brasileira nos próximos anos. É preciso "recriar um partido democrático de direita", diz Renato Janine Ribeiro, professor titular de ética e filosofia política da USP e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Esse espaço já foi ocupado pelo PSDB, mas a sigla se enfraqueceu com as derrotas para o PT à Presidência e ampliou sua crise ao se unir a Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, no processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). Ao agir assim, fortaleceu a onda que levou Bolsonaro ao poder.

Renato Janine Ribeiro, professor titular de ética e filosofia política da USP e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) - Danilo Verpa/Folhapress

Janine lança "Maquiavel, a Democracia e o Brasil", livro em que analisa como os presidentes do pós-ditadura chegaram ao poder e o que fizeram para mantê-lo à luz de conceitos do clássico "O Príncipe".

Um desses conceitos é a fortuna, associada à sorte, ao acaso e à conjuntura. O outro é a "virtù", que pode ser vista, grosso modo, como o dom para a política. "Não traduzimos para ‘virtude’ para não confundir com o sentido moral, não tem nada a ver com moral. ‘Virtù’ vem da palavra latina 'vir' e quer dizer varão, é quem tem, não apenas força física, mas capacidade de articular suas ações com vista a um determinado fim."

Segundo Janine, "os três vice-presidentes que assumiram o poder nesse período, Sarney, Itamar Franco e Michel Temer, defrontaram-se com muita impopularidade e tiveram uma pequena ‘virtù’, digamos, não de mudar o Brasil, mas de segurar o mandato deles". Em outras palavras, uma "virtù" de reparação de danos.

O pensador florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527), autor de "O Príncipe", em pintura de Sandi di Tito - Reprodução

Dilma, de quem Janine foi ministro da Educação por seis meses, não demonstrou "virtù" suficiente para "manter ao menos um terço de apoio em qualquer das Casas do Congresso, o que teria bastado para impedir seu afastamento". Por outro lado, diz o autor, não faltaram fortuna e "virtù" a FHC e a Lula.

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À Folha o professor comenta a eleição de Bolsonaro em 2018, afirma que o país dá "importância desmesurada à corrupção" e critica a "autoinfantilização" do eleitorado brasileiro.

O sr. encerra o primeiro capítulo do seu novo livro com "Maquiavel é uma boa inspiração para quem quer mudar o mundo". Por quê? Porque quando você quer mudar o mundo, tem que tomar o poder, exercê-lo de alguma forma. Alguém que reflete sobre as condições para chegar ao poder é uma inspiração importante, tanto que, séculos depois, o Gramsci [filósofo italiano] comparou "O Príncipe" ao partido revolucionário. Se quer mudar o mundo, é preciso ter projetos de melhorá-lo —supondo que queira mudar para melhorar, tem quem queira mudá-lo para pior. Maquiavel trata bem dos instrumentos para chegar ao poder e mantê-lo.

Mais adiante, ao abordar a realidade brasileira, o sr. escreve que Bolsonaro nunca teria sido eleito sob condições normais. A quais condições está se referindo? Vamos começar em 2013, ano em que as pessoas despertaram para a política. Lembro um dia com três manifestações simultâneas na Paulista: uma contra a alta dos preços, outra pelo assassinato de um menino boliviano e outra de surdos-mudos. O que tinham em comum? A ideia de que, para qualquer situação errada, era bom ir à luta, fazer política.

Como o Brasil tem pouca cultura política e essas manifestações foram sequestradas pela direita e pela extrema direita, o resultado foi que o Brasil não conseguiu amadurecer politicamente. As pessoas que foram às ruas esperavam soluções quase mágicas: vai resolver tudo, de saúde à educação. Houve uma decepção, usada pela direita, que aproveitou a impopularidade de Dilma para promover o impeachment.

Chegou-se a uma situação em que o nosso problema eram os políticos, e isso influenciou as eleições de 2016 e de 2018. João Doria ganhou a disputa para prefeito [2016] e depois para governador [2018] prometendo não ser um político, mas um gestor. Bolsonaro ganhou para presidente porque, além de derrubar o PT, o PSDB havia cometido um suicídio. O espaço propriamente político ficou esvaziado.

Bolsonaro era o personagem adequado para aquele momento porque não estava vinculado a nenhum grupo político de maneira evidente, a imagem dele era praticamente um vazio, na qual podia se projetar o que se quisesse. E as promessas de atitude violenta têm um certo apelo no Brasil. Uma frase usada sobre o Bolsonaro é que ele tem coragem de dizer alto o que todos nós pensamos baixo. Ou seja, assume todos os preconceitos tradicionais e há quem ache que isso é um ato de coragem.

Em trecho sobre o eleitorado no Brasil, o sr. diz que "os cidadãos se autoinfantilizam. Não têm pejo [vergonha] de admitir que são crianças fáceis de enganar (...) Clamam por quem os tutele. Elegem um tutor e, quando dá errado, pedem socorro a outro, geralmente pior". Qual é a saída? É preciso educação política, algo que não se aprende apenas na escola. Aprende-se em mobilizações, em ações. Moro no bairro da Aclimação, em São Paulo. Em época de eleição, um vereador coloca faixas dizendo: "Vereador Fulano de Tal conseguiu tais coisas na prefeitura para a Aclimação". Algumas pessoas no bairro acham que ele conseguiu asfalto para determinada rua, entre outras coisas.

Ao pensar que é ele quem vai resolver, os cidadãos se infantilizam e terceirizam o papel político. Se, em vez disso, atuarem juntos, defendendo uma causa, eles se tornam mais fortes —essa é a melhor forma de educação política que existe. A imprensa pode contribuir para a educação política ou prejudicá-la. Em 2018, por exemplo, a pauta para os candidatos nas entrevistas era quase sempre os escândalos. Dá-se no Brasil uma importância desmesurada à corrupção. Para muita gente, é como se fosse o único problema.

Vamos pegar o sujeito que devolveu R$ 100 milhões para a Petrobras. Esse valor dá talvez um dia de merenda escolar no Brasil, talvez nem isso. Não é esse dinheiro que vai resolver os problemas do país, mas é muito forte essa convicção, que dispensa as pessoas de pensar [de forma mais complexa].

Se quer mudar o mundo, é preciso ter metas, projetos de melhorá-lo –supondo que queira mudar para melhor, tem quem queira mudá-lo para pior. Maquiavel trata muito bem dos instrumentos para chegar ao poder e para mantê-lo

Renato Janine Ribeiro

em entrevista sobre seu novo livro, "Maquiavel, a Democracia e o Brasil"

A imprensa erra ao dar muito destaque aos escândalos de corrupção, é isso? Erra porque coloca todos no mesmo saco, e a tendência é que se passe a dizer que todo político é ruim. Converse com quem acha que todo político é ruim e pergunte em quem ele vota para deputado, senador… Vai ser no pior nome possível, eles têm um faro fantástico. Quem repudia a política tem muito talento para votar pessimamente.

No livro, o sr. aproxima Bolsonaro de Jânio Quadros e Collor, dizendo que os três fazem "farto uso dos páthos". Páthos é de onde vem a palavra paixão, que tem dois significados: um tipo de sentimento amoroso muito intenso ou aquilo que caracteriza passividade. Como sentimento afetivo, intenso, paixão se opõe à razão. E como passividade, ela se opõe à ação. O que acontece? Há nomes muito bons para mexer com páthos dos outros, com a sensação de que as pessoas precisam de um salvador.

Essa ideia de passividade, tingida de uma fortíssima emoção, pega os sentidos de páthos e abre espaço a soluções não racionais, nas quais as pessoas fiquem passivas, esperando que a salvação venha de fora. Jânio foi eleito como um salvador, sem compromisso com ninguém. Dizia que o grande problema do Brasil era a corrupção. Collor, que ficou conhecido como "caçador de marajás", retomou fortemente o tema da corrupção. E Bolsonaro também, além da degradação dos costumes.

O sr. diz que o país se dividiu em três blocos políticos principais depois de 2018: a extrema direita, com Bolsonaro à frente; a direita, simbolizada pelo PSDB ou pelo que restou dele; e a centro-esquerda. Considerando os resultados do 1º turno, como esses blocos tendem a se organizar? Além de restabelecer a democracia —não defender, e sim restabelecer a democracia, porque 2018 foi uma eleição de fraudes e muita mentira—, um grande desafio para o futuro é recriar um partido democrático de direita, que seja comprometido com os direitos humanos e com a disputa eleitoral. Talvez a Simone Tebet (MDB) seja uma possibilidade nessa direção. A campanha dela foi bem feita, ela se saiu bem.

Tivemos um espaço democrático de direita com o PSDB. O partido havia surgido com uma mensagem mais centrista, até um pouco de centro-esquerda, mas aliou-se à direita, aproximou-se do então PFL. Perdeu quatro eleições presidenciais para o PT, o que o deixou desarticulado, embora continuasse fazendo governadores em estados importantes. Havia até um equilíbrio razoável: o PT não ganhava nos estados, o PSDB comandava os principais estados. No entanto, o PSDB decidiu namorar o golpe, e o Aécio Neves fez o quê? Subordinou a extrema direita e o Eduardo Cunha, e outras lideranças do PSDB não souberam ou não quiseram dar um limite. O partido não quis esperar a eleição de 2018, o que foi trágico.

Veja o brexit [aprovado em 2016], no Reino Unido. Causou espanto, muitos quiseram um novo plebiscito, mas o entendimento final foi: "O eleitor votou, tá votado". Não houve essa característica brasileira do "votei mal, alguém me salve, vamos fazer um impeachment". Também precisamos entender —e essa é uma crítica aos jornais em geral— que Bolsonaro não é direita, é extrema direita. Direita é Angela Merkel [primeira-ministra da Alemanha de 2005 a 2021], e Merkel e Bolsonaro não têm nada em comum.

A direita brasileira murchou extraordinariamente. Então uma parte da direita se aliou à extrema direita, sem muito pudor. Veja que no 2º turno o governador de SP [Rodrigo Garcia, do PSDB] foi direto para a extrema direita, sem impor condição. Isso, para o futuro, é serrar o galho em que se está sentado.

As pessoas que foram para a rua [em 2013] esperavam soluções rápidas, quase mágicas: vai resolver tudo, de saúde à educação, todas as coisas vão ficar boas. Houve uma decepção, usada pela direita, que aproveitou a impopularidade da presidente Dilma para promover o impeachment dela

Renato Janine Ribeiro

em entrevista sobre seu novo livro, "Maquiavel, a Democracia e o Brasil"

Essa é mais uma campanha em que os temas ligados à ciência e à pesquisa parecem deixados de lado. Como presidente da SBPC, o sr. concorda? Convidamos os três candidatos que tinham maior intenção de votos para a reunião anual da SBPC em Brasília, em julho. Na ocasião, eram Lula, Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT). Ciro respondeu prontamente, Lula demorou um pouco, Bolsonaro só declarou que não iria no penúltimo dia de reunião, depois que Lula tinha ido e quando nem havia mais grade horária. Creio que essa foi uma resposta, sabe? Uma diferença entre os três candidatos. Não convidamos a Simone porque tínhamos espaço para três, e ela estava em quarto. Enfim, acredito que ela também teria estado ao lado da ciência. Temos algumas declarações dos candidatos em favor da ciência, mas não de Bolsonaro.


RAIO-X | RENATO JANINE RIBEIRO

Professor titular de ética e filosofia política da USP e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Foi ministro da Educação no governo Dilma Rousseff em 2015. Entre seus principais livros estão "A Sociedade contra o Social: o Alto Custo da Vida Pública no Brasil" (2000, ed. Companhia das Letras, prêmio Jabuti), "A Pátria Educadora em Colapso" (2018, ed. Três Estrelas) e "Duas Ideias Filosóficas e a Pandemia" (2021, ed. Estação Liberdade).

MAQUIAVEL, A DEMOCRACIA E O BRASIL

  • Preço R$ 52
  • Autor Renato Janine Ribeiro
  • Editora Estação Liberdade e Edições Sesc (160 págs.)
  • 9

Ministro 'da boiada', Salles teve votos em bairros ricos e arborizados de São Paulo, FSP

 William Cardoso

SÃO PAULO

Eleitores de grande parte dos bairros mais ricos e arborizados da capital paulista votaram de forma expressiva no ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL), o quarto no ranking dos deputados federais por São Paulo, com 640 mil votos.

Salles deixou o governo de Jair Bolsonaro (PL) em junho de 2021, depois de se tornar alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) em operação da Polícia Federal que investiga o favorecimento a empresários do setor de madeiras. Além disso, também ganhou fama ao falar durante uma reunião ministerial sobre afrouxar as regras ambientais durante a pandemia para "passar a boiada".

Ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL)  gesticula com as duas mãos enquanto fala
O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL), que foi o quarto deputado federal por São Paulo mais votado, com 640 mil - Eduardo Knapp - 12.ago.22/Folhapress

"Precisa ter um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando", disse na ocasião. "De Iphan, de Ministério da Agricultura, de Ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços para dar de baciada a simplificação de regulatório que nós precisamos, em todos os aspectos", afirmou a seus colegas e ao presidente.

Procurado, Salles não respondeu aos questionamentos sobre fatos ocorridos durante sua gestão.

Um ano depois, lugares como Campo Belo, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Moema e Morumbi, nas zonas sul e oeste da capital paulista, foram celeiros de votos para Salles. Todos são bairros caracterizados pela alta concentração de renda e pelos melhores indicadores socioeconômicos da cidade.

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O ex-ministro terminou em primeiro lugar em 65 locais de votação da capital, a maioria formada por colégios particulares tradicionais. Em dez desses pontos, ele chegou a ter mais de 10% dos votos nominais para deputado federal. Foi o mais votado, por exemplo, no Clube Atlético Paulistano, frequentado por ele próprio, com 11,4% —uma enxurrada em uma eleição para o Legislativo, onde a votação tende a ser pulverizada.

É do Paulistano que o engenheiro Carlos Pascual, 61, conhece Salles. "É de centro-direita, comungo das ideias dele", diz o eleitor.

Pascual conta que trabalhou com agropecuária e que defende "fiscalização boa" contra desmatamento ilegal, mas afirma que, por outro lado, existe desmatamento legalizado, que, na sua visão, deve ser permitido. "Hoje em dia existe uma seita. Propaganda enorme sobre desmatamentos absurdos, [mas] já ocorreram maiores no passado. A gente tem muita dificuldade com essa parte."

Sobre a reunião do "passar a boiada", conta que o ex-ministro não usou uma "maneira adequada" para se expressar. "Muita gente ali falou bobagem. A maneira, o linguajar chulo", opina o engenheiro, que disse ter votado também em Jair Bolsonaro.

Da reunião "da boiada" a designer de interiores Miriam Botelho, 45, diz que não se recorda. Mas afirma que acompanha Salles por redes sociais e votou nele por julgá-lo inteligente. "É o que me atrai nas pessoas. A maneira como elas se manifestam, se têm consistência. Para mim, ele tem um bom plano, uma boa manifestação e uma boa visão da realidade, sem deturpação."

O servidor público federal Rogério de Souza Loureiro, 50, afirma que seu voto em Salles vai além da forma como o novo deputado eleito defende suas ideias. "O Brasil foi muito para o lado do 'proibir tudo', de que ninguém encosta na floresta, e a gente está deixando de explorar riquezas que são essenciais para o nosso país de maneira sustentável", diz.

O ex-ministro de Bolsonaro recebeu apoio financeiro de grandes empresários como José Salim Mattar Júnior, ex-presidente do conselho de administração da Localiza, Marcos Ermírio de Moraes, herdeiro do Grupo Votorantim, Marcelo Campos Ometto, da São Martinho, Antonio Eduardo Toniello, da Copercana, Helio Seibel, da Dexco, e Gastão de Souza Mesquita, da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Eles constam nas prestações de contas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como principais doadores da campanha de Salles, com valores entre R$ 100 mil e R$ 250 mil cada um.

De forma geral, as empresas com as quais eles são ou foram ligados afirmam que as doações acontecem em caráter pessoal, não representando uma posição das pessoas jurídicas. A assessoria de Salim Mattar Júnior foi procurada, mas não retornou até a publicação. O mesmo aconteceu com Mesquita.

Apesar da votação expressiva, Salles está longe de ser uma unanimidade entre eleitores de bairros ricos de São Paulo. Uma das pessoas abordadas pela reportagem na avenida Brigadeiro Faria Lima disse ser "ofensivo" perguntar se votou nele. "Deus me livre" também foi outra expressão comum entre os moradores.

Em Moema, a fonoaudióloga Joice Moura de Campos, 28, é uma das que se contrapõem ao ex-ministro mas diz que não se surpreende com a votação de Salles no bairro. Ela conta que chegou a pensar que o próprio Bolsonaro ganharia no primeiro turno. "É sufocante. Perto da minha casa, estava um inferno no domingo de manhã, todo mundo de verde e amarelo, camisa do Bolsonaro."

Em 2018, Salles também havia se candidato a deputado federal por São Paulo —na ocasião pelo partido Novo—, mas obteve apenas 36 mil votos e não conseguiu se eleger. Ele comandou o Ministério do Meio Ambiente entre janeiro de 2019 e junho do ano passado.

Sobre o perfil de seus eleitores, Salles afirmou à Folha que "são homens e mulheres de bem, que valorizam a pauta econômica liberal, os valores conservadores da família, das liberdades individuais e de um desenvolvimento econômico sustentável e racional". "Quem não concorda vota em outro", completou.

Professor titular do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Pedro Cortes diz que o ex-ministro tem uma grande facilidade de comunicação, até pelo fato de ser advogado. "Consegue articular de forma direta as ideias que defende. No entanto, a pauta que coloca é muito defasada em termos de aproveitamento racional da Amazônia", afirma.

Sobre o fato de grandes empresários terem feito doações para a campanha de Salles, o professor da USP lembra que aquilo que o ex-ministro defende "não é abarcado pelas práticas ESG (governança ambiental, social e corporativa)".

Professora da PUC-SP, a cientista política Vera Lúcia Chaia lembra que Ricardo Salles se envolveu diretamente em campanhas da última década contra o PT e os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva —foi fundador do movimento Endireita Brasil—, por isso é bastante próximo e conhecido dessa parcela do eleitorado.

"Ele continuou na mídia de forma geral. Ele é comentarista da Jovem Pan, o canal mais ligado às posturas bolsonaristas. Ele tem presença constante", afirma.

Segundo a cientista política, a relação de Salles com seus eleitores não passa por questões ambientais. "É muito mais um voto de elite mesmo. Ele já tinha uma plataforma política preparada antes de ser ministro, totalmente ligada aos setores mais ricos da população."

Levantamento realizado pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, com base em dados da administração municipal de 2017, aponta que bairros que deram o primeiro lugar a Salles estão entre os dez mais com maior arborização viária, em uma lista com os 96 distritos da capital. A exceção é o Jardim Paulista (23º colocado, mas, mesmo assim, com verdadeiros bolsões de verde em seu território, como a área do Jardim Europa).