quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Morre José Luis Cutrale, dono de império da laranja no interior de SP, FSP

 Cristiane Gercina

SÃO PAULO

O empresário José Luis Cutrale, proprietário da empresa de suco de laranja Sucocítrico Cutrale, morreu nesta quarta-feira (17), aos 75 anos, em Londres, na Inglaterra, de causas naturais. A morte foi confirmada pela empresa.

Em nota, os filhos de Cutrale, Júnior, Henrique e Graziela Cutrale disseram lamentar a morte do "querido pai, professor e mentor".

José Luis começou sua carreira trabalhando com o pai, José Cutrale Júnior, o "Rei da Laranja", no Mercado Municipal da Cantareira, na capital paulista. Passaram a investir no cultivo e plantio de laranja e, 20 anos depois, em 1967, fundaram a Cutrale, em Araraquara (273 km de SP), uma das maiores fábricas de suco de laranja do mundo.

O empresário José Luís Cutrale, durante jantar na casa de João Doria Junior em apoio ao senador e então candidato à Presidência, Aécio Neves - Leticia Moreira - 31.mar.14/Folhapress

Filho único de José Cutrale Júnior, morto em 2004 aos 77 anos de idade, José Luis herdou o império do pai. Em nota, a família afirma tratar-se de uma pessoa de poucas palavras, grandes compromissos e fácil trato. Descrito como brilhante nos negócios, foi casado por quase 50 anos com Rosana Falcioni Cutrale, com quem teve os três filhos.

O empresário do ramo industrial diversificou os negócios da família e empreendeu nos ramos de laranjas frescas, suco de laranja, grãos, logística, bananas, saladas, condimentos, refrigerantes, snacks, financeiro, imobiliário e de saúde.

No início dos anos 2010, estima-se que a Cutrale era responsável por 1 de cada 3 copos de suco de laranja produzidos no mundo. Atualmente, o império é composto por sete unidades e exporta suco para mais de 90 países. Na safra, chega a empregar em torno de 18 mil funcionários.

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Segundo Lygia Pimentel, diretora da consultoria Agrifatto, a Cutrale é uma das maiores empresas do mundo no mercado citrus, incluindo produção agrícola e processamento de produtos. Tem operações no Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Holanda e Japão.

"José Luis Cutrale foi um dos expoentes do mercado de citrus", diz. "Construiu uma operação muito grande junto do pai, que atende cerca de 35% de todo o suco de laranja consumido no mundo".

Em nota, os proprietários do Banco Safra lamentaram a morte e desejaram que a família encontre conforto no legado deixado por Cutrale. "Vicky, Jacob e David Safra lamentam profundamente a morte de José Luiz Cutrale, que, além de sócio, foi um grande amigo", diz o texto.

Operáros na linha de produção da indústria de suco de laranja Cutrale, em Araraquara (SP - Edson Silva - 29.jul.12/Folhapress

CUTRALE PARTICIPOU DE CONSELHO NO GOVERNO LULA

Único herdeiro do "Rei da Laranja", o empresário José Luis Cutrale fez parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do primeiro mandato de Lula, em 2002. Em agosto daquele ano, a Cutrale foi a primeira grande empresa a fazer doação oficial ao programa Fome Zero, no valor de R$ 4 milhões.

O gesto foi oficializado com a apresentação de um cheque gigante em festa agropecuária em Araraquara, diante do então presidente Lula, que visitou a cidade, e o prefeito Edinho Silva (PT), hoje em seu quarto mandato no município.

Por intermédio de Edinho, Cutrale fez parte do grupo de empresário do agronegócio que apoio a campanha de Lula na região. Dentre suas preocupações estavam a hostilidade de ala do partido com grandes proprietários rurais, preocupação que foi dirimida por Lula.

Uma das parcerias firmadas com Edinho em 2001 resultou no programa Suco de Laranja na Merenda escolar, em vigor até hoje em Araraquara, e que distribui gratuitamente aos alunos da rede pública municipal suco de laranja na merenda três vezes por semana. O projeto atende, atualmente, 23 mil estudantes.

EMPRESA COMEÇOU COM 60 FUNCIONÁRIOS

Fundada em 1967, a Sucocítrico Cutrale Ltda., deu início às atividades com 60 funcionários. A empresa é especializada em suco de laranja, embora tenha hoje outros produtos em seu portfólio, e atua na área de citricultura desde a formação de mudas para plantio, passando pelo processamento do e seus subprodutos, chegando à entrega final em grandes mercados mundiais.

Possui fábricas em Araraquara, Colina, Conchal, Uchôa e Itápolis, e escritórios em Avaré, todos em São Paulo, além de uma unidade em Rondonópolis, no Mato Grosso. Opera ainda dois terminais portuários em Santos e Guarujá, no litoral paulista.

Da laranja, a empresa não extrai apenas o suco, mas também farelo de polpa, que é vendido em forma de pellets para ração animal, e óleos essenciais, que podem ser utilizados nas indústrias alimentícia, farmacêutica, cosmética e de produtos de limpeza.

Atualmente, 98% da produção de suco de laranja são destinadas à exportação em mais de 90 países de América do Norte, Europa e Ásia.

Colaborou Daniele Madureira

Apenas 12 senadores em fim de mandato concorrem à reeleição; veja lista, FSP

 João Pedro Pitombo

SALVADOR

Com 27 das 81 cadeiras em disputa, o Senado Federal deve ter um alto índice de renovação nas eleições deste ano. Isso porque, já na largada da corrida eleitoral, apenas 12 dos atuais senadores em fim de mandato vão concorrer à reeleição.

Oito senadores em fim dos mandatos iniciados em 2015 não vão disputar nenhum cargo na eleição deste ano. Outros sete vão concorrer a cargos na Câmara dos Deputados, governos estaduais, suplência ao Senado e até a Presidência.

Cúpulas do Congresso Nacional recebem iluminação vermelho e branco - Jonas Pereira/Agência Senado

Dentre eles estão os dois senadores do PT e PSDB em fim de mandato, além de três dos quatro senadores do MDB e do PP que foram eleitos em 2014.

Nomes tradicionais da política brasileira se despedem do Senado neste ano, caso de José Serra (PSDB-SP), Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Simone Tebet (MDB-MS) e Fernando Collor (PTB-AL).

Tebet e Collor são os únicos que vão concorrer a um cargo executivo. A senadora, que teria pela frente uma dura disputa por um novo mandato em Mato Grosso do Sul, foi escolhida pelo MDB para disputar a Presidência da República.

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Collor, que também teria uma disputa difícil contra o ex-governador Renan Filho (MDB), deu uma das cartadas mais arriscadas de sua trajetória política e vai concorrer ao Governo de Alagoas.

Outros três senadores dão um passo atrás e vão concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados: José Serra (PSDB-SP), Elmano Férrer (PP-PI) e Lasier Martins (Podemos-RS).

Aos 80 anos, Serra deve ser um puxador de votos para o PSDB de São Paulo, que prometeu para o senador uma estrutura de campanha equivalente a uma disputa majoritária.

Ele foi diagnosticado com Parkinson em estágio inicial em agosto do ano passado e chegou a se licenciar do Senado por cinco meses.

Lasier Martins até queria concorrer a um novo mandato no Senado, mas ficou sem espaço na chapa após o Podemos decidir apoiar no Rio Grande do Sul um novo mandato de Eduardo Leite (PSDB) ao governo estadual.

Na reta final antes das convenções, Leite acabou fechando alianças com partidos mais robustos no estado como MDB, PSD, União Brasil. Coube ao PSD indicar a ex-senadora Ana Amélia como candidata ao Senado na chapa.

"As vagas na chapa ficaram com os poderosos e endinheirados, acabei ficando avulso. Cheguei a pensar em voltar para casa e largar a política, mas amigos e eleitores pediram que eu concorresse a deputado federal", afirma Lasier Martins.

Ele destaca que, concorrendo a uma vaga na Câmara, pode ajudar o partido a robustecer sua bancada federal.

Também diz, que, fora da disputa, deixará menos fragmentado o campo da direita em seu estado, que já se divide entre as candidaturas ao Senado de Ana Amélia (PSD), Hamilton Mourão (Republicanos) e Comandante Nádia (PP), todas consideradas competitivas.

No Piauí, Elmano Férrer (PP) também vai concorrer a deputado federal, evitando um embate difícil contra Wellington Dias (PT), que foi governador do estado por quatro mandatos e que vai disputar o Senado.

É o mesmo cenário enfrentado por Tasso Jereissati (PSDB), que vai se aposentar da política após 36 anos de mandatos. Ele chegou a ser convidado para disputar a reeleição na chapa liderada por Roberto Cláudio (PDT), mas decidiu evitar um embate difícil contra o ex-governador Camilo Santana (PT).

Mas nem todos os casos de ficar fora das urnas envolveu uma decisão pessoal. O senador Reguffe (União Brasil) trabalhava para ser candidato a governador do Distrito Federal, mas teve a legenda negada para disputar o cargo na véspera do prazo limite das convenções.

Em uma rede social, o senador lamentou a decisão do partido. Disse que lhe foi feito um convite para concorrer a deputado federal, mas recusou: "Não considero esse um cargo menor, mas recusei o convite. [...] Fiquei muito triste, muito indignado, mas quero olhar para frente".

No Pará, o senador Paulo Rocha (PT) foi derrotado em uma disputa interna dentro de seu partido, que lançou o deputado federal Beto Faro para ser candidato a senador na chapa do governador Helder Barbalho (MDB).

Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que foi líder do governo Jair Bolsonaro (PL) no Senado, decidiu não concorrer a um novo mandato para apoiar a candidatura do filho, Miguel Coelho (União Brasil), ao Governo de Pernambuco.

Parte dos senadores que disputam a reeleição enfrentarão disputas consideradas duras, caso de Roberto Rocha (PTB-MA), que vai duelar com o ex-governador Flávio Dino (PSB), de quem já foi aliado e hoje é ferrenho opositor.

Também vão disputar eleições difíceis os senadores Rose de Freitas (MDB-ES), Telmário Mota (Pros-RR) e Kátia Abreu (PP-TO) –os dois últimos sequer conseguiram fechar uma aliança e vão disputar o cargo de forma avulsa, sem o apoio de uma chapa para governador.

"A tendência é termos uma renovação grande. Uma parte grande dos senadores que disputam a reeleição vai enfrentar eleições difíceis", afirma o analista político Antônio Augusto Queiroz, mestre em políticas públicas e governo pela FGV.

ciclo de mudanças do Senado Federal foi iniciado em 2018, quando a Casa teve a maior renovação da desde a redemocratização: das 54 vagas em disputa, apenas 8 foram conquistadas por senadores em reeleição, em uma renovação de mais de 85%.

Senadores que concorrem à reeleição:

  • Omar Aziz (PSD-AM)
  • Davi Alcolumbre (União Brasil-AP)
  • Otto Alencar (PSD-BA)
  • Rose de Freitas (MDB-ES)
  • Roberto Rocha (PTB-MA)
  • Alexandre Silveira (PSD-MG)
  • Wellington Fagundes (PL-MT)
  • Álvaro Dias (Podemos-PR)
  • Romário (PL-RJ)
  • Telmário Mota (PROS-RR)
  • Kátia Abreu (PP-TO)
  • Dário Berger (PSB-SC)

Senadores que não disputam um novo mandato:

  • Simone Tebet (MDB-MS) – Concorre à Presidência
  • Fernando Collor (PTB-AL) – Concorre a governador de Alagoas
  • Mailza Gomes (PP-AC) – Concorre a vice-governadora do Acre
  • José Serra (PSDB-SP) – Concorre a deputado federal
  • Lasier Martins (Podemos-RS) – Concorre a deputado federal
  • Elmano Férrer (PP-PI) – Concorre a deputado federal
  • Jean Paul Prates (PT-RN) – Concorre a suplente de senador
  • Paulo Rocha (PT-PA) – Não concorre
  • Tasso Jereissati (PSDB-CE) – Não concorre
  • Reguffe (União Brasil-DF) – Não concorre
  • Nilda Gondim (MDB-PB) – Não concorre
  • Acir Gurgacz (PDT-RO) – Não concorre
  • Maria do Carmo Alves (PP-SE) – Não concorre
  • Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) – Não concorre
  • Luiz Carlos do Carmo (PSC-GO) – Não concorre

Ruy Castro - Bolsonaro embalsamado, FSP

 

Enquanto Bolsonaro tinha de engolir sem água o discurso de posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do TSE, sua tropa nas redes sociais disparava milhares de mensagens convocando para ataques ao mesmo TSE nas arruaças de 7 de Setembro. Esses disparos eram como o braço mecânico do "Dr. Fantástico", personagem de Peter Sellers no filme de Stanley Kubrick, automático, incontrolável, programado para fazer sem parar a saudação nazista, e seriam as senhas para um possível golpe contra as eleições. Mas, como Bolsonaro percebeu, a fala de Moraes foi um direto de muay thai contra seu projeto.

O significativo é que a mensagem do discurso —a garantia de que qualquer ameaça às instituições será rechaçada por elas— foi feita na presença dos representantes dessas instituições. Ali estavam os três Poderes da República, a sociedade civil e as missões estrangeiras, o que cobre praticamente o leque. Todos aplaudindo de pé, para constrangimento de Bolsonaro, rígido como uma múmia recém-embalsamada. E houve o que me calou mais fundo: Moraes e demais oradores fizeram uma incisiva pregação antigolpe sem usar a palavra golpe.

Não foi preciso. A ideia de golpe já está no ar há muito tempo, o que anula certas condições indispensáveis para torná-lo possível: a conspiração, o segredo, a surpresa. Todo mundo, inclusive lá fora, sabe hoje que Bolsonaro é golpista.

Quando falei em golpe pela primeira vez neste espaço, na coluna "Remédio para azia", de 13 de dezembro de 2019, leitores me acusaram de estar vendo fantasmas. Ainda se achava que Bolsonaro era só um destrambelhado. Mas ali já se via que, por trás do destrambelho, havia um projeto. Um projeto de golpe.
Desde então, perdi a conta de quantas vezes usei aqui essa palavra. Sempre achei que, quanto mais se falasse de golpe, mais difícil seria tentá-lo. E talvez ainda não se tenha falado o suficiente.