quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Reajustes para Judiciário e Ministério Público podem custar R$ 15,7 bi até 2025, fsp

 


BRASÍLIA

reajuste de 18% nos salários de integrantes do Judiciário e do Ministério Público Federal deve custar R$ 15,7 bilhões até 2025, segundo estimativas da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado.

Os cálculos consideram que a proposta de aumento, que foi apresentada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e ainda depende de aprovação do Congresso Nacional, será estendida a todos os membros e servidores dos tribunais federais, bem como ao MPF.

A conta, no entanto, desconsidera o efeito cascata provocado sobre outras carreiras, que também demandam reajustes. Essa pressão já foi detectada e está no radar de integrantes do governo Jair Bolsonaro (PL).

Ministros durante sessão plenária do STF; remuneração de magistrados pode ir a R$ 46,3 mil - Nelson Jr. - 03.nov.2021/SCO/STF

O pedido de reajuste foi aprovado pelo STF há uma semana e acaba servindo de referência para outras carreiras, uma vez que a remuneração de ministro do Supremo representa também o teto salarial do funcionalismo público.

Com o aumento, o vencimento mensal dos integrantes do STF passaria a R$ 46,3 mil. Hoje, esse valor é de R$ 39,3 mil.

Segundo a IFI, o aumento de 18% teria impacto de R$ 1,8 bilhão nas contas da União em 2023, R$ 5,5 bilhões em 2024 e R$ 6,3 bilhões a partir de 2025.

O valor é crescente porque a proposta do Supremo prevê um reajuste em quatro parcelas de 4,5%. À medida que os aumentos vão sendo incorporados aos salários, o impacto na despesa federal cresce.

A conta também prevê que todo o Judiciário federal seguirá o mesmo modelo, tanto para magistrados quanto para servidores. Os valores foram calculados com base nos gastos anuais dos tribunais com pessoal em 2021, considerando que a despesa em 2022 deve ficar em patamar semelhante.

O MPF acompanhou a Corte e também apresentou um pedido de reajuste de 18%, parcelado. Nesse caso, a medida teria impacto de R$ 284 milhões em 2023, R$ 851 milhões em 2024 e R$ 972 milhões em 2025.

O Judiciário e o MPF têm uma margem de manobra para conceder reajustes depois que a PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios, que adiou o pagamento de dívidas judiciais, também promoveu uma ampliação do teto de gastos para 2022 em todos os Poderes.

Enquanto o espaço extra do Executivo foi rapidamente consumido por gastos com o programa Auxílio Brasil e emendas parlamentares, o orçamento dos demais Poderes permaneceu inalterado. Como a mudança foi permanente, a sobra poderá ser usada em 2023.

No Executivo, a situação é mais delicada. O Ministério da Economia informou em abril, no envio da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2023, que reservaria R$ 11,7 bilhões para a concessão de reajustes às carreiras.

A proposta orçamentária detalhando os valores precisa ser encaminhada até 31 de agosto, mas há uma disputa nos bastidores em torno do espaço disponível para esses aumentos. Na semana passada, técnicos citavam a cifra de R$ 11,5 bilhões, mas o valor pode acabar ficando menor.

O diretor-executivo da IFI, Daniel Couri, afirma que o tamanho do reajuste do STF "não é algo descolado da realidade", tendo em vista que a remuneração dos ministros costuma ser alterada uma vez a cada quatro anos —os últimos aumentos foram aprovados em 2014 e 2018.

Ele reconhece, porém, que há uma probabilidade muito alta de a medida refletir em mais gastos em todo o Judiciário, no MPF e ainda sobre órgãos como TCU (Tribunal de Contas da União), Câmara, Senado e dentro do Executivo.

Na avaliação de Couri, o reajuste de 18% tende a servir como uma espécie de "âncora" para as propostas discutidas pelas demais carreiras, muitas das quais vinham reivindicando recomposições até maiores, próximas de 30%, para repor perdas inflacionárias de anos anteriores.

"Recompor inflação de 2020 e 2021 anula a contribuição que os servidores deram para o enfrentamento da pandemia. O congelamento estava em um contexto de esforço fiscal para direcionar recursos ao enfrentamento da pandemia", pondera o diretor-executivo.

A IFI também revisou sua estimativa para o desempenho das contas neste ano. Nos cálculos da instituição, o governo central (que reúne Tesouro Nacional, Previdência e Banco Central) deve ter um superávit de R$ 27,0 bilhões neste ano, ante a projeção anterior de déficit de R$ 40,9 bilhões.

Segundo a IFI, há um forte crescimento da arrecadação, na esteira da perspectiva de crescimento mais forte neste ano. A projeção para o avanço do PIB (Produto Interno Bruto) em 2022 subiu de 1,4% para 2%.

Se confirmado o superávit, será o primeiro resultado positivo do governo central desde 2013. No ano passado, o setor público já registrou superávit, mas por causa do desempenho de estados e municípios.

A conta para 2022 ainda pode melhorar mais, pois uma série de receitas com dividendos extras a serem pagos por Petrobras e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ainda não foi contabilizada pela IFI.

Há algo errado em um país que depende do 'bico' para sobreviver, Jorge Abrahão FSP

 Não bastasse cumprir as horas diárias de trabalho e gastar outras tantas no transporte, deslocando-se até ele, quase metade da população brasileira tem que fazer um "bico" para atender suas necessidades básicas. Que tipo de sociedade construímos que exige tal sacrifício de boa parte da população?

Pesquisa nacional de percepção sobre a desigualdade, lançada na última semana pelo Instituto Cidades Sustentáveis, revela que 45% dos brasileiros precisaram recorrer a um serviço extra para complementar a renda no último ano. Fazem faxina, manutenção, produzem alimentos. Se viram nos trinta, afinal de contas são brasileiros, não se iludem mais com as promessas de melhoria de vida alardeadas pela política e pelas empresas, e vão para a vida.

A pesquisa mostra também que 7 em cada 10 brasileiros percebem o aumento de pessoas em situação de fome e pobreza. Praticamente a metade dos entrevistados conhece ou tem observado pessoas com dificuldade para comprar alimentos. Um terço relata o aumento da população em situação de rua, e 3 em cada 10, o aumento de pedintes nas ruas e semáforos.

Ambulantes na rodovia dos Imigrantes. (Foto: ) - Ronny Santos - 3.set.2021/Folhapress

Atender à primeira das necessidades básicas, a alimentação, ainda é um luxo no país que é a 12ª economia global. É vergonhoso que um dos maiores produtores de alimentos do mundo não consiga alimentar sua própria população. Que política econômica é essa que não prioriza as pessoas?

A crise econômica, a elevada inflação e a consequente perda de capacidade de compra são possíveis explicações para tal situação. Mas é necessário muita incompetência das lideranças políticas para que permitam que cheguemos a esse ponto.

Outra dimensão da desigualdade pesquisada foi a diferença de tratamento entre pessoas negras e brancas: 75% reconhecem que há diferença de tratamento e apontam os shopping centers, as escolas e o local de trabalho como os principais locais de preconceito.

Quanto ao assédio, 47% das mulheres declararam já ter passado por alguma situação do tipo, principalmente na rua ou nos transportes públicos. Estes temas dão a medida do desafio que ainda temos pela frente, em temas como o racismo e o machismo.

Os dados mostram nossa incapacidade como sociedade de eleger o combate à desigualdade como prioridade nacional. Nossa porque elegemos políticos que vêm agravando essa situação, como é o caso do atual governo federal, que naturaliza a desigualdade entre os brasileiros.

A desigualdade é resultado de políticas que a estimulam e, justamente por isso, pode também ser solucionada pela política. Ela é a raiz de uma série de problemas da sociedade, como violência, mortalidade infantil, saúde e educação precárias, gravidez na adolescência, racismo e machismo, entre outros. Além disso, está totalmente integrada à questão climática, pois os desafios do clima passam pelo atendimento das necessidades básicas da população e a consequente consciência sobre o tema.

Um caminho será estimular o debate e o sentido crítico na sociedade, permitindo identificar os oportunistas que agravam cada vez mais o problema. A eleição é uma excelente chance para identificar as propostas que naturalizam a desigualdade e as que a colocam no centro da política. Sem reduzir as desigualdades no Brasil, estaremos apostando na instabilidade política e social e patinando frente às possibilidades de melhorias da sociedade.

Trens e metrôs apresentam pacote a presidenciáveis para ampliar transporte intercidades, FSP

 Marcelo Toledo

Ainda sem conseguir se recuperar da perda de passageiros provocada pela pandemia, concessionárias de trens e metrôs que atuam nos principais centros urbanos elaboraram um pacote de medidas para ser entregue aos presidenciáveis com o objetivo de desenvolver o transporte ferroviário no país.

O pacote elaborado pela ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos) contempla quatro principais eixos, entre eles a criação de um plano nacional de desenvolvimento para ampliar o transporte ferroviário de passageiros.

Considerado de enorme potencial e com baixa oferta, o sistema ferroviário regional é visto pelo setor como uma oportunidade para desenvolver uma indústria forte em 25 regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes cada.

Metrô do Rio foi um dos sistemas de transporte do país que perderam passageiros na pandemia
Metrô do Rio foi um dos sistemas de transporte do país que perderam passageiros na pandemia - Divulgação

A proposta é que o documento ajude a destravar mais de 3.000 quilômetros de projetos existentes no país de transporte de passageiros sobre trilhos e que não saem do papel.

"A gente já conversou nos últimos anos com o Ministério da Infraestrutura para tentar que o Brasil voltasse a ter trens regionais, intercidades. É muito triste ver um país do tamanho do nosso com tantas cidades grandes e poucas linhas", disse o presidente do conselho da associação, Joubert Flores.

Segundo ele, para desenvolver esses sistemas de trens regionalizados é necessário também criar autoridades metropolitanas de transporte, outra das propostas do setor de trens e metrôs.

Formada por União, estados e municípios, a autoridade metropolitana atuaria na coordenação da mobilidade urbana e impulsionaria projetos estruturantes de longo prazo.

As outras duas propostas são a reformulação do marco legal do transporte público urbano e uma política de financiamentos para o segmento.

O país possui somente 1.116 quilômetros de trilhos urbanos, distribuídos em 21 sistemas de transporte de passageiros em 11 estados e no Distrito Federal, operados por 16 empresas (8 privadas).

Entre elas estão a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), a CCR Metrô Bahia e a ViaMobilidade.

Entre os principais candidatos à Presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o único a ter recebido o documento até aqui, entregue no último dia 28 pelo próprio presidente do conselho.

A associação já conversou com as assessorias dos presidenciáveis Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) e tenta entregar também à equipe do presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição. Governos estaduais também deverão receber o documento.

"Não temos preferência [política], queremos que o eleito e a equipe dele tenham conhecimento das propostas do setor."

PREJUÍZO

Com a pandemia, a ANPTrilhos afirma que o deficit financeiro acumulado chegou a R$ 17 bilhões apenas com receitas tarifárias.

O setor, que emprega 39,4 mil funcionários, dos quais 31,7 mil diretos, ainda não recuperou a média diária de passageiros transportados antes da pandemia nem vê possibilidade de isso ocorrer em curto prazo.

Na Supervia, concessionária de trens que administra 270 quilômetros de ferrovias na região metropolitana do Rio, a média diária de 600 mil passageiros de antes da pandemia da Covid-19 atualmente está em 350 mil.

O presidente do conselho disse que a pandemia fez o setor ferroviário se aproximar do segmento de ônibus, o que pode ser importante para o desenvolvimento de medidas em conjunto.

"O [governo do] Rio tem metrô, trem e barcas concedidas. O ônibus é concedido pela capital e outros municípios também fazem suas linhas. Nem os entes públicos conversam entre si. Há um punhado de linhas superpostas, o que gera perdas. Isso, no fim, se reflete na tarifa."