quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Hélio Schwartsman - Bolsonaro viola separação Estado-igreja, FSP

 Reza o artigo 19, inciso I da Constituição: "É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público". Em mais uma de suas múltiplas violações à Carta, o presidente Jair Bolsonaro telefonou para seu homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, e lhe pediu que desse luz verde à indicação de Marcelo Crivella para o cargo de embaixador em Pretória.

Crivella, ex-prefeito do Rio, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e sobrinho de seu proprietário, Edir Macedo, não é conhecido por seus dotes diplomáticos. Segundo colunas de bastidores, foi indicado para o posto como gesto de agrado de Bolsonaro à Iurd. Acredita-se que sua presença como representante do Brasil no continente africano ajudaria a Iurd, que vem enfrentando problemas em vários países da região, notadamente em Angola.

Bolsonaro feriu o artigo 19 quando indicou Crivella em junho e de novo agora, quando pressiona Ramaphosa. Se ainda dá para admitir que o Itamaraty ajude empresas brasileiras no exterior, já que seu êxito se converte em mais impostos arrecadados, que serão usados em favor do país, o mesmo não se pode afirmar de igrejas, que gozam de imunidade tributária. Institucionalmente, o Brasil é indiferente ao sucesso ou fracasso da Iurd ou de qualquer outra fé.

Em matéria de religião, o papel do Estado é apenas assegurar que cada cidadão possa rezar para os deuses que preferir, sejam espíritos da floresta, Apolo ou o Deus cristão. A liberdade religiosa interessa muito mais às pessoas que têm fé do que a ateus. Aliás, os evangélicos só tiveram oportunidade de se multiplicar no Brasil porque o Estado deixou de usar seus poderes para favorecer o catolicismo.


Centrão universitário, Editorial FSP

 O Ministério da Educação parecia já ter vivido o pior com as gestões excêntricas de Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub, primeiros ocupantes da pasta sob Jair Bolsonaro. Aí veio Milton Ribeiro, que cumulou o desvario ideológico com um disparate administrativo, a serviço da argentária base parlamentar do presidente.

Na semana passada, em audiência na Câmara dos Deputados, Ribeiro apresentou projeto para criar cinco universidades e seis institutos federais. Pode parecer pouco, diante de 18 universidades e 173 campi inaugurados por governos petistas de 2003 a 2014. Na realidade, trata-se de exorbitância sem paralelo.

As instituições criadas por Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff permitiram aumentar de 500 mil para 932 mil o número de estudantes matriculados em universidades federais entre 2002 e 2014. As 11 unidades pretendidas por Ribeiro, em contraste, não acrescentam nenhuma vaga ao sistema.

Na realidade, não se trata de universidades e institutos novos, mas de desmembramento de instituições que já existem. Não haverá ingresso de estudantes, mas sim 2.912 cargos para preencher, a um custo anual que pode ficar entre R$ 147 milhões, segundo o MEC, e R$ 500 milhões, nas contas do Ministério da Economia.

Pistas sobre as razões verdadeiras do plano tresloucado surgem quando se consideram os locais contemplados. Despontam estados como o Piauí, base eleitoral do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), e Goiás, que não constava do projeto original e acabou incluído para afagar o deputado Vitor Hugo (PSL).

Maringá (PR), a cidade da qual já foi prefeito o líder do centrão e do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP), nem mesmo dispõe de campus para ser desmembrado. O município ganharia, entretanto, um instituto federal. Decerto não faltarão interessados em auferir rendimentos com a oferta de terrenos para o estabelecimento.

​Não há previsão de recursos para executar tal plano na proposta de Orçamento para 2022. Ainda no malfadado 2021, faltam R$ 124 milhões para a Capes honrar o pagamento de bolsas de formação de professores já concedidas. Cerca de 60 mil beneficiários arriscam ficar a ver navios.

Este é o governo que palavreia sobre contenção de gastos de pessoal com a mesma desfaçatez com que Bolsonaro propaga mentiras sobre as vacinas que oferecem proteção contra a Covid-19.

Este é o governo que mantém à frente da pasta da Educação Milton Ribeiro, agachado diante dos próceres do centrão: sem vagas para estudantes e professores, mas com dinheiro para comprar a omissão do Congresso diante das atrocidades bolsonaristas.

editoriais@grupolha.com.br ​


terça-feira, 26 de outubro de 2021

A internet tem muitos dados e pouca preservação, Link, OESP

 


Imagem Demi Getschko

DEMI GETSCHKO

Por dentro da rede

A internet tem muitos dados e pouca preservação

Vint Cerf já nos alertava, há anos, sobre uma possível “era das trevas” digital

26/10/2021 | 05h00

 Por Demi Getschko - O Estado de S. Paulo