DEMI GETSCHKO
Por dentro da rede
A internet tem muitos dados e pouca preservação
Vint Cerf já nos alertava, há anos, sobre uma possível “era das trevas” digital
26/10/2021 | 05h00
Por Demi Getschko - O Estado de S. Paulo
Estima-se que apenas nesses dois últimos anos o mundo criou 10 vezes mais informação do que a existente em toda a história
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Graças à conectividade que temos hoje e à capacidade crescente de computação e armazenamento de dados, estima-se que apenas nesses dois últimos anos o mundo criou 10 vezes mais informação do que a existente em toda a história. São números assombrosos, mas devem ser adequadamente “temperados”. Talvez a relevância, a precisão e a necessidade dessa pletora de dados não seja comparável com o que havia há umas décadas.
Se a última edição da Enciclopédia Britânica em 2010, com 32 alentados volumes e instalada digitalmente hoje num computador, ocuparia cerca de 4,7 GB, a quantidade de informação nova gerada em apenas 1 segundo é equivalente, em tamanho, a mais de 6 mil Enciclopédias Britânicas. Certamente a densidade e a relevância das novidades pode estar muito longe daquilo que consta da Enciclopédia, mas isso não pode nos levar a ignorar a necessidade de armazenar com confiabilidade a informação que seja significativa. Vint Cerf já nos alertava, há anos, sobre uma possível “era das trevas” digital. Todos já passamos por situações em que perdemos fotografias ou textos importantes porque um “pendrive” desapareceu.
Quem ainda conseguiria ler com segurança o que estivesse preservado em disquetes? Ou assistir a um filme gravado em super 8? Em contraste, um pergaminho ou um papiro de 2000 anos continua preservado e perfeitamente acessível aos que saibam decifrá-lo…
Vint diz que nada é mais falso do que assumir que “bits são imortais”. Sua durabilidade física, apoiada em meios magnéticos ou ópticos, pode ser muito menor que a de nosso caderno do primário.
Mesmo se ficarmos apenas em termos de internet, quantos sítios tão úteis não desaparecem de um dia para outro? Por sorte há iniciativas com a Internet Archive que guarda algumas páginas da rede para a posteridade. É importante que iniciativas assim sejam apoiadas e expandidas.
Num lance jocoso, a mesma Intenet Archive lançou a “wayforward machine”, que pretende prever como um sítio atual evoluirá em 25 anos. Na verdade trata-se de uma campanha pela liberdade e abertura da rede. Consultando-se, por exemplo, www.estadao.com para 2046, a página exibida adverte: “erro 451 – página indisponível para o seu próprio bem. Este sítio contem informação considerada “crime de pensamento” em sua região. Se precisar de mais informações consulte o Ministério da Verdade de sua localidade”.
Claro que, esperamos, isso será evitado, porque a sociedade se manterá vigilante! E parabéns ao novo formato do Estadão.
Vida longa e próspera!
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