terça-feira, 26 de outubro de 2021

Sem dizer uma única palavra, Khabane Lame é o homem mais popular do TikTok, CNN Brasil

 Quando a Itália entrou em lockdown pela pandemia de coronavírus no ano passado, Khabane Lame tinha acabado de perder seu emprego em uma fábrica perto da cidade de Torino, no norte do país.

Ele passou seus dias enfurnado na casa dos pais, em Chivasso, com seus três irmãos, procurando emprego. Um dia, baixou o TikTok e começou a mexer no aplicativo em seu quarto, postando vídeos de si mesmo sob o nome de Khaby Lame.

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Gradualmente, uma carreira surpreendente nasceu. No início, como muitos TikTokers, ele criou clipes de si mesmo dançando, assistindo videogames ou fazendo acrobacias de comédia.

Então, no início deste ano, ele começou a tirar sarro dos vídeos de hack da vida que inundam as plataformas de mídia social – reagindo a eles com um encolher de ombros sem palavras ou um olhar de exasperação – e acertou em cheio.

Agora, Lame (lê-se Lah-MAY) é o homem mais popular no TikTok, com 114 milhões de seguidores. A única pessoa à frente dele é a dançarina Charli D’Amelio, uma adolescente da Califórnia que posta vídeos divertidos, muitas vezes com sua irmã mais velha, Dixie, e tem 125 milhões de seguidores.

E Lame, de 21 anos, faz tudo sem dizer uma palavra. No TikTok, seu silêncio fala por si.

“Tive a ideia porque estava vendo esses vídeos circulando e gostei da ideia de trazer um pouco de simplicidade a eles”, disse Lame à CNN em uma recente entrevista por vídeo.

“O tipo de gesto veio por acaso, mas o silêncio não. Pensei numa forma de chegar ao maior número de pessoas possível. E a melhor forma era não falar.”

Vídeos têm um estilo singular

Lame é um homem senegalês esguio de membros longos e rosto expressivo. Na maioria de seus clipes, ele satiriza vídeos de pessoas fazendo hacks excessivamente complicados, respondendo com uma maneira simplificada e mais lógica de fazer a mesma tarefa.

Em um vídeo, Lame descasca uma banana com as mãos em resposta a um vídeo de alguém cortando delicadamente uma banana com um cutelo. Em outra, ele reage a um vídeo de uma mulher descascando ruidosamente um pepino com os dentes, usando um descascador de vegetais para realizar a mesma tarefa.

Suas reações personificam o termo “balançando a cabeça”, ou SMH, em abreviação em inglês para”Shaking My Head”, muito usado na Internet. Após sua abordagem de bom senso para uma tarefa, Lame estende os braços com as palmas das mãos voltadas para cima, como se dissesse “duh”. Às vezes, ele revira os olhos ou balança a cabeça.

Essas reações silenciosas, mas expressivas, o tornaram um dos criadores digitais mais reconhecidos nas redes sociais.

“Talvez porque minhas expressões faciais sejam engraçadas e façam as pessoas rirem, essa simplicidade faz as pessoas rirem e eu adoro isso”, disse Lame.

Um profissional de marketing diz que a popularidade dos vídeos de Lame mostra como a comunicação não verbal pode transcender as barreiras do idioma e fazer conexões entre culturas.

“Você não precisa falar para ser visto ou compreendido”, disse Christina Ferraz, fundadora da agência de marketing Thirty6five, com sede em Houston. “Sua exasperação é identificável e os sentimentos são universais.”

Mensagem mostra que vida não precisa ser complicada

O humor inexpressivo de Lame atraiu fãs de todo o mundo, que regularmente lhe enviam vídeos de pessoas realizando tarefas simples de maneiras complicadas.

“Eles sabem que sou eu quem soluciona os problemas, então me marcam ou me mencionam e dizem, ‘Khaby é a sua vez, resolva esse problema porque precisamos de você'”, disse ele.

Suas expressões faciais estoicas também o transformaram em uma estrela do meme – com seu rosto repostado em vídeos de reação nas redes sociais.

Ao contrário de algumas outras estrelas da mídia social, os vídeos de Lame não são produzidos em excesso. Eles parecem orgânicos e usam ações e imagens simples para transmitir humor, o que aumenta sua autenticidade e reforça seu ponto de tornar a vida menos complicada, disse Ferraz.

Ela também acredita que o conteúdo ressoa com as pessoas porque ele alcançou a fama em uma época em que o mundo estava em isolamento da quarentena.

“As pessoas vasculhavam as redes sociais em busca de escapismo e conexão”, disse Ferraz. “A falta de comunicação verbal permite que o público se concentre apenas em suas ações, e nenhum outro significado pode ser aplicado além do que ele está literalmente fazendo ou expressando.”

Para ela, os vídeos de Lame revelam quantas vezes tornamos a vida mais difícil ou complicada do que o necessário. “Acho que a maioria das pessoas prefere manter as coisas simples.”

Lame é um dos criadores de conteúdo com crescimento mais rápido no TikTok. Ele está ganhando uma média de quase 200.000 seguidores por dia e está a caminho de eclipsar a estrela mais popular da plataforma, de acordo com a Social Blade, que monitora análises de mídia social.

Mas Lame disse que não é por isso que ele começou a postar vídeos.

“Não me importa se sou o primeiro, o segundo ou o quarto mais popular no TikTok. Comecei a fazer vídeos porque queria fazer as pessoas rirem naquele período de lockdown”, disse ele.

“E continuo fazendo vídeos com os mesmos ideais. Estou feliz com minhas realizações, mas essas não são minhas coisas principais.”

Sua popularidade abriu portas internacionais

Assim como sua popularidade, a formação de Lame transcende diferentes continentes.

Ele nasceu no Senegal e se mudou para a Itália com seus pais quando tinha um ano. Passou a maior parte de sua vida em moradias públicas, que ele acredita que o protegeram do racismo e o expuseram para o mundo além da Itália.

“Lá éramos pessoas de todas as etnias, então protegíamos muito uns aos outros. Nunca houve uma questão de racismo”, disse ele.

Embora ele ainda não seja um cidadão italiano, ele fala italiano fluentemente e disse que considera o país uma casa. Ele se candidatou à cidadania e, enquanto aguarda o andamento do processo, disse que tem sido difícil viajar para eventos nos Estados Unidos e em outros países com seu passaporte senegalês.

Mas a impossibilidade de viajar não afetou sua fama. Sua popularidade – ele também tem 47 milhões de seguidores no Instagram – abriu portas para parcerias com empresas internacionais, incluindo a Netflix, a empresa italiana de alimentos Barilla e a plataforma indiana de esporte fantasy Dream11.

Lame tem vários outros negócios em andamento que ainda não pode divulgar, disse ele. Ele se recusou a dizer quanto dinheiro ganha com as parcerias, embora as maiores estrelas da mídia social possam ganhar milhões de dólares por ano com seu conteúdo.

Ele disse que sua maior compra desde que se tornou famoso é um iPhone 12 para que ele possa gravar vídeos melhores. “Não estou comprando nada maluco”, disse ele.

Mas sua vida já mudou muito se comparada com 18 meses atrás, quando era um jovem desempregado que morava com seus pais. Ele diz que sua mãe e seu pai estão orgulhosos de seu sucesso.

“Foi inesperado (para eles) assim como para o resto do mundo. Então eles entraram na perspectiva (de eu ser famoso) bem tarde. E eu também. Você não percebe o que está acontecendo com você”, disse.

“Eles não tinham nenhuma ideia do que queriam que eu me tornasse quando era criança – o importante era que eu fosse feliz e tivesse um bom emprego.”

Lame agora mora com seu agente, em Milão. Suas postagens recebem aprovação de celebridades, incluindo seu ídolo, o ator Will Smith.

E à medida que mais estrelas do TikTok assinam contratos com empresas de cinema, Lame espera realizar um sonho de infância e trabalhar com Smith em um projeto.

Enquanto isso, ele continuará esmagando hacks ridículos – com seu silêncio impassível.

(Texto traduzido; leia o original em inglês)


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

IVAN DE CARVALHO - Viva a Riviera, FSP

 

Ivan de Carvalho

Advogado e proprietário de imóvel na Riviera de São Lourenço, em Bertioga (SP)

Riviera de São Lourenço, localizada na zona urbana de Bertioga, no litoral norte paulista, se desenvolve de acordo com seu Memorial de Loteamento, o Plano Diretor e a legislação municipal. O reconhecimento internacional e o sucesso da Riviera, há mais de 30 anos, é por oferecer propriedades em um empreendimento que tem como pilar o tripé da sustentabilidade: qualidade de vida, investimento seguro e respeito ao meio ambiente.

A reportagem "Desmate na Riviera de São Lourenço avança com aval da Justiça" (17/10), publicada na Folha, distorce fatos. A Justiça não dá aval; julga e sentencia, preliminarmente, em primeira, segunda e, se couber, até terceira instância. A Justiça paralisou o empreendimento liminarmente e depois revogou essa decisão. A área demarcada na matéria, denominada como "terreno urbanizado, mas não habitado", inseriu indevidamente os módulos 12, 17, 24 e parte dos módulos 25 e 27 —somente os módulos 11 e 16 são urbanizados, e não ocupados, e a supressão da vegetação aconteceu nos módulos 1 e 9, como a reportagem afirma. A foto de toda essa área dá noção errada do que aconteceu.

Vista da praia em Riviera de São Lourenço, Bertioga
Orla urbanizada da praia em Riviera de São Lourenço, em Bertioga - Divulgação

Outra inverdade é afirmar que as obras dos módulos 1 e 9 são de expansão do empreendimento.

No final de 2015, por iniciativa dos empreendedores, foi firmado acordo na Justiça suspendendo a execução dos módulos 23 e 32, do Clube Campestre e de parte dos módulos 25 e 27, além da doação de áreas, edificações, instalações e equipamentos ao município, totalizando valor aproximado de R$ 18 milhões.

As afirmações da SOS Mata Atlântica são, no mínimo, equivocadas. Os edifícios pé na areia estão distantes da praia e não ocupam área da Marinha; não existe uma avenida à beira-mar alinhando os prédios em fila: esses são distribuídos acompanhando a linha sinuosa de divisa entre seus terrenos e as grandes áreas de jardins, garantindo não somente maior distância da faixa de areia, mas ventilação para os apartamentos e sol para os frequentadores da nossa praia, que é pública.

A comparação entre Balneário Camboriú (SC) e Riviera é forçada e absurda. Sobre os alertas de subida do nível do mar na praia de São Lourenço, fica evidente que os ambientalistas ouvidos desconhecem os registros e as histórias contadas por caiçaras das ressacas que acontecem na nossa praia desde muito antes de o complexo existir.

Banhistas na praia da Riviera de São Lourenço durante o feriado de 7 de Setembro - Bruno Santos - 5.set.21/Folhapress

O SOS Riviera, que representa um pequeno grupo de moradores, afirma que a abertura dos módulos 1 e 9 contraria a proposta do empreendimento. Esquece, porém, que isso está registrado em cartório e não no imaginário daqueles que já adquiriram suas propriedades e agora querem desprezar o que foi contratado.

Os ambientalistas e integrantes do SOS Riviera discursam sobre a desvalorização dos imóveis e modelos de urbanização. Não foram consultados, no entanto, profissionais especializados da área imobiliária ou urbanistas, tampouco foram ouvidos os trabalhadores e empresários locais, os proprietários, a população e as autoridades de Bertioga.

A reportagem apresentou algumas informações incorretas e distorceu fatos, além de não dar oportunidade de se manifestarem aqueles que, como eu, acreditam na Riviera de São Lourenço.

Após 47 anos juntando lixo e ratos em praça, locomotiva símbolo da destruição ferroviária está quase restaurada, FSP

 Marcelo Toledo

Depois de ficar exposta por 47 anos numa praça na região central de Ribeirão Preto, onde acumulou lixo e ratos e serviu como banheiro para moradores de rua, uma centenária locomotiva, importante para contar parte da trajetória econômica no início do século passado no interior paulista, está praticamente restaurada.

Fabricada em 1912 pela alemã Borsig, a maria-fumaça estava exposta desde 1973 sobre cerca de 30 m de trilhos na praça Francisco Schmidt, onde sofreu todos os tipos imagináveis de vandalismo nas décadas seguintes, como furtos de peças de cobre, ferro e aço. Seu péssimo estado a transformou num símbolo da destruição do patrimônio ferroviário.

Repleta de lixo, restos de comida, roupas estragadas e preservativos usados, a locomotiva precisou passar por um processo de completa desinfecção para que pudesse deixar Ribeirão e ser levada para Campinas, onde está sendo restaurada desde julho do ano passado. Dezenas de ratos moravam na maria-fumaça e foi preciso abrir a lataria dela com um maçarico para que todos fossem expulsos.

Ribeirão Preto, uma das mais importantes cidades do interior do país, cresceu devido à ferrovia: muito antes da cana-de-açúcar que hoje domina a paisagem em toda a região, o município desenvolveu sua economia a partir da segunda metade do século 19 com suas grandes lavouras de café, que utilizaram os trilhos principalmente da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro para transportar o produto até o porto de Santos.

Com isso, surgiram barões do café como Henrique Dumont (1832-1892), pai do aviador Alberto Santos Dumont (1873-1932), e Francisco Schmidt (1850-1924), que dá nome à praça em que a locomotiva estava abandonada.

A maria-fumaça de número 8 é uma das três remanescentes da marca alemã no país. Pertenceu à Estrada de Ferro Araraquara, foi comprada pela Usina Amália e, posteriormente, foi doada ao município pelas Indústrias Matarazzo.

A restauração —é o primeiro bem ferroviário recuperado na cidade— custou R$ 749 mil aos cofres públicos e está sendo feita pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), que tem oficina para a manutenção e restauração de carros de passageiros e locomotivas na estação Carlos Gomes, em Campinas.

“O estado dela era lamentável, um dos piores que já vi”, disse o diretor administrativo da associação, Helio Gazetta Filho.

Segundo ele, a maria-fumaça foi recuperada inteiramente na cor grafite escuro, fosca, pintura que remete à origem da locomotiva.

A previsão é que ela seja entregue a Ribeirão Preto em novembro. A prefeitura deve expor a locomotiva no parque Maurilio Biagi, próximo ao local em que ela esteve nas últimas décadas, mas que tem segurança e horários para abertura e fechamento.

Ela deverá ser usada de forma estática pela prefeitura, ou seja, não será utilizada para passeios, embora sua restauração permita —será necessário trocar apenas os tubos da caldeira para que isso seja possível.