segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Presidente da Eletrobras troca empresa pela BR Distribuidora, FSP

 Julio Wiziack

BRASÍLIA

O presidente da Eletrobras (Centrais Elétricas Brasileiras S/A), Wilson Ferreira Junior, renunciou ao cargo nesta segunda-feira (25) e assumirá o comando da BR Distribuidora em março. A troca se deve em boa parte à falta de empenho no Congresso pela privatização da estatal.

De acordo com o comunicado da empresa, ele ficará na presidência até o dia 5 de março. Ainda não foi definido o seu sucessor. Em evento no Rio de Janeiro, ele disse que há profissionais na Eletrobras capazes de assumir o cargo, como um dos cinco diretores.

A estatal é responsável pela operação de cerca de um terço da capacidade de geração e metade da rede de transmissão de energia do Brasil.

Em comunicado, a BR Distribuidora informou que seu atual presidente, Rafael Grisolia, deixará o cargo no final de janeiro e que convidou Wilson Ferreira Junior para substituí-lo. A companhia também passará por uma transição até a chegada do novo presidente.

Ele vinha fazendo reclamações frequentes a seus interlocutores de desgaste à frente da Eletrobras.

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Um dos mais experientes profissionais do setor elétrico, o executivo ficou cerca de 18 anos na presidência da CPFL, antes de ser empossado na Eletrobras, em 2016, na gestão do ex-presidente Michel Temer.

Conduziu um processo de retirada da União do controle da estatal que não foi aprovado pelo Congresso. Naquele momento, conseguiu avançar, em articulação com o governo, na venda das seis distribuidoras deficitárias ligadas à Eletrobras.

Presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior - Ueslei Marcelino - 27.mar.18/ Reuters

Na gestão Bolsonaro, ele foi mantido no cargo, mas o modelo de saída do governo da companhia, foi refeito. Hoje, ele está parado no Congresso.

"Com a reestruturação [da estatal] conclusa, o próximo projeto era exatamente a capitalização, que não pôde acontecer nos dois primeiros anos, e que não encontra, na minha avaliação pessoal, essa prioridade dos potenciais candidatos ao Congresso Nacional", disse para jornalistas no Rio de Janeiro. Ele também afirmou que não se dispôs a esperar mais, após cinco anos na companhia.

Com o anúncio de sua saída, as ADRs (recibo de ação negociado na Bolsa de Nova York, EUA) registraram queda de 11,43%. Com o feriado desta segunda-feira em São Paulo, não houve pregão na B3.

Parte dessa queda também refletiu as declarações dadas na quinta-feira (21) pelo candidato à presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), de que a privatização da Eletrobras não será prioridade na sua gestão. Pacheco tem apoio do governo.

Interlocutores afirmam que, nos bastidores, Wilson vinha reclamando bastante da falta de empenho do governo em levar adiante a capitalização da Eletrobras junto aos congressistas.

À Folha o executivo negou que o problema fosse o governo e reforçou que se tratava da falta de articulação no Congresso. Disse que ainda nesta segunda-feira conversou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o processo de capitalização.

Na capitalização, há uma injeção de dinheiro novo por meio da venda de ações da companhia em poder da União para investidores interessados. Quando isso ocorre, o governo tem a preferência para acompanhar o investimento.

Neste caso, no entanto, a União não iria colocar mais dinheiro para manter sua participação, que seria então diluída a uma porção minoritária. Assim, o governo sairia do comando. Na privatização, um bloco de ações é vendido para um único comprador.

Apesar da dificuldade em concluir esse processo, Wilson conseguiu vender as distribuidoras deficitárias ligadas à Eletrobras, reduzindo assim um endividamento bilionário. Renegociou a dívida (alongando prazos), além de reduzir o quadro de funcionários por meio de um Programa de Demissão Voluntária (PDV).

Ele é apontado também como responsável por aprimorar o programa de compliance, padronizar estatutos sociais e resolver contenciosos nos Estados Unidos decorrentes de reflexos da operação Lava Jato.

Mesmo assim, o executivo considerava que a companhia não teria condições de competir em igualdade com as empresas privadas nos próximos leilões, nem de realizar investimentos necessários.

Embora tenha negado que a resistência do governo à privatização tenha pesado, Wilson teria dito para amigos que considerava a chance de sair marcado pelo provável insucesso da venda da Eletrobras, já em sua segunda tentativa.

Preferia mudar de rumo no momento em que sua gestão trouxe bons resultados para a companhia.

O convite da BR Distribuidora teria sido uma “feliz coincidência”, segundo pessoa próxima que pediu anonimato.

Em nota, o Ministério da Economia informou que o governo seguirá com o programa de desestatizações. “Em nada, isso interfere”, afirmou.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, Wilson permanecerá como membro do conselho de administração da Eletrobras. Segundo a pasta, o governo entende que a capitalização da estatal é essencial para a recuperação de sua capacidade de investimento.

“Com a capitalização, a Eletrobras se tornará uma corporação brasileira de classe mundial, com capital pulverizado, focada em geração, comercialização e transmissão de energia elétrica, tornando-se uma das maiores empresas de geração renovável do mundo”, disse a pasta.

Nos bastidores, no entanto, membros do Ministério da Economia demonstraram dúvidas em relação ao plano de privatização da estatal. O otimismo sobre a possibilidade de venda deu lugar a um discurso de cautela.

Uma pessoa próxima a Guedes afirma que, embora a ideia da pasta não tenha mudado, qualquer iniciativa da equipe econômica nessa área obedecerá “a ordem de prioridades da área política”.

No Congresso e entre membros da ala política do governo, há resistências contra o programa de privatizações do Ministério da Economia.

Auxiliares de Guedes afirmam ser importante que o novo nome a comandar a estatal seja alguém alinhado à equipe econômica e que defenda a desestatização.

No entanto, reconhecem que a decisão passará por debate no Ministério de Minas e Energia e o martelo será batido apenas após aval do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Membros da pasta afirmam que a saída de Wilson seguiu o mesmo script do ex-secretário de Desestatização do Ministério da Economia Salim Mattar, que pediu demissão em agosto do ano passado. Assim como Mattar, segundo os relatos, Wilson trabalhava pelo avanço da pauta de privatizações, viu que o processo não avançou no governo, não enxergou perspectiva imediata de mudança nesse cenário e decidiu sair.

Saída de Faustão é a primeira mudança drástica promovida pela nova diretoria da Globo, f5

 

Fausto Silva apresenta o 'Domingão do Faustão'
Fausto Silva apresentando 'Domingão do Faustão' - Reprodução/TV Globo
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Depois de alguns anos cortando contratos de longo prazo reestruturando as empresas do grupo dentro do projeto “Uma Só Globo”, a cúpula da maior emissora do país passou por um tsunami no final de 2020. De uma só vez, foram anunciadas as saídas de nomes como Monica Albuquerque, diretora de desenvolvimento e acompanhamento artístico, Silvio de Abreu, diretor de teledramaturgia, e até mesmo Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Globo desde 2013.

Schroder, que permanece no cargo até março, e Ricardo Waddington, o novo diretor de entretenimento do canal, propuseram uma mudança drástica para Fausto Silva, que comanda o Domingão do Faustão desde 1988. O programa seria extinto e o apresentador ganharia uma nova atração, nas noites de quinta-feira. Faustão recusou o convite e preferiu não renovar seu contrato, que vence no final de 2021.

A notícia explodiu como uma bomba nos sites de entretenimento na manhã desta segunda (25). Instado a revelar seus planos para o futuro, Fausto Silva foi vago: ele pode tanto ir morar no exterior e curtir uma aposentadoria dourada, como se transferir para a concorrência –inclusive, para alguma plataforma de streaming.

Houve até quem brincasse que ele assinaria com a Globe, a “emissora” criada pela atriz Alana Azevedo que viralizou nas redes sociais. Mas é improvável que encontre um lugar que lhe garanta seu salário atual, calculado em R$ 5 milhões por mês.

Tampouco se sabe o que a Globo planeja para as tardes de domingo. Em termos de faixa horária, o buraco deixado pelo Domingão nem é dos maiores. O programa, que chegou a ocupar quase toda a tarde e o começo da noite, nos últimos anos tinha apenas três horas, reduzidas a duas com o advento da pandemia do novo coronavírus.

Já se fala em Márcio Garcia para o lugar de Faustão. Eu não descartaria Rodrigo Faro, que se tornou um apresentador tarimbado na Record depois de anos como ator do segundo time em novelas da Globo. Mas esses nomes vão contra uma tendência que já vem se desenhando há algum tempo: o ocaso dos programas de auditório.

Transplantados do rádio para a TV, esse gênero floresceu por toda a América Latina –e em quase nenhum outro lugar do planeta. O programa interminável, com um apresentador carismático e dezenas de quadros em sucessão, é uma exclusividade nossa e da nossa vizinhança. E, tanto lá como cá, está em extinção.

Faustão, ao lado de Silvio Santos, era um dos últimos gigantes do estilo, e são poucos os que podem sucedê-los. Até mesmo figuras consagradas como Xuxa MeneghelSabrina Sato e Otaviano Costa tiveram experiências malsucedidas no comando de grandes plateias.

O fenômeno atual, como se sabe, são os formatos –game shows e realities com vida própria, em que o apresentador é só mais um dos ingredientes. Com temporadas de no máximo três meses, eles se alternam na grade ao longo do ano, sem enjoar o espectador.

Qual será o formato que a Globo programará para as tardes de domingo? Quem estará na linha de frente? Temos ainda um ano para saber essas respostas. Mas a saída de Fausto Silva, um dos maiores faturamentos da emissora e um patrimônio vivo da televisão brasileira, é um sinal de que a nova diretoria deve estar preparando mudanças ainda mais radicais. Apertem os cintos.

Novas cepas do vírus desafiam controle do contágio e alcance de proteção das vacinas, OESP

 Fernando Reinach*, O Estado de S.Paulo

23 de janeiro de 2021 | 05h00

A ilusão durou uma semana. Quem acreditou que a chegada das vacinas iria acabar com a pandemia já percebeu que isso não vai acontecer: o Butantan confirmou que vai interromper o envase, na Fiocruz ele vai começar em março, a China não tem pressa em repor os estoques.

De concreto temos as 10 milhões de doses já envasadas pelo Butantan, mais 2 milhões chegando da Índia, o suficiente para vacinar 6 milhões de pessoas em um país de 210 milhões de habitantes. Como a Coronavac tem uma eficácia de 50%, só 3 desses 6 milhões devem se livrar da covid-19.

A ilusão que a Coronavac protege pessoas mais velhas e evita casos graves também foi destruída pela Anvisa: os dados não são suficientes para justificar essas conclusões. É provável os contratos do Butantan e da Fiocruz com a China sejam cumpridos, mas infelizmente esses contratos são suficientes para vacinar menos da metade dos brasileiros.

A segunda metade das doses deverá ser produzida em duas fábricas de princípio ativo que estão sendo construídas no Butantan e na Fiocruz. O Butantan promete sua fábrica para outubro, mas as fotos das obras são desanimadoras. Com as vacinas de baixa eficácia e a incompetência federal, é difícil imaginar que vai haver vacinação suficiente para impactar a pandemia no Brasil em 2021. 

Trabalhador em obra de fábrica do Instituto Butantan, que deve ampliar a capacidade de produção de vacinas
Trabalhador em obra de fábrica do Instituto Butantan, que deve ampliar a capacidade de produção de vacinas Foto: Daniel Teixeira/ Estadão

Mas as desgraças que assolam a população brasileira não comovem o coronavírus. Enquanto nossos planos caem por água abaixo, o SARS-CoV-2 está evoluindo e novas cepas estão pipocando ao redor do mundo. Vale a pena entender o que são essas novas cepas.

Cada nova cepa se caracteriza por um conjunto de mutações que geralmente aparecem na “spike protein”, a proteína que forma a espícula do vírus, a região que o vírus usa para se ligar e penetrar nas células humanas (são aqueles chifrezinhos no vírus).

Como toda proteína, a “spike” é composta de uma sequência de centenas de aminoácidos. É como se fosse um colar de pérolas com centenas de pérolas. Mas ao invés de ser composto por um único tipo de pérola, contém 20 diferentes tipos de pérolas no mesmo colar (os 20 aminoácidos).

A sequência dos tipos de pérolas é rigidamente determinada: em cada posição está sempre o mesmo tipo de aminoácido (pérola). Assim, contando de uma ponta do colar, na posição 484, o coronavírus original possui um aminoácido chamado E (acido glutâmico). Em diversas das cepas novas, nessa posição foi encontrado o aminoácido K (lisina). Vem daí os nomes das mutações: E484K (substituição de um glutâmico por uma lisina na posição 484).

Milhares de novas cepas contendo diversas mutações desse tipo têm sido identificadas desde o início da pandemia. A grande maioria, apesar de carregar muitas mutações, tem as mesmas características do vírus original. Se espalham com a mesma velocidade e provocam a mesma doença com a mesma seriedade. O problema é que agora estão surgindo cepas com comportamento diferente da cepa original.

A cepa mais bem caracterizada foi detectada na Inglaterra em outubro, se tornou dominante por lá e já esta presente na Europa (se chama SARS-CoV-2 B.1.1.7). Ela é caracterizada por um conjunto de mutações que aumentam sua capacidade de se espalhar, mas causa uma doença idêntica à causada pelo SARS-CoV-2. Ela provocou um aumento enorme do número de casos na Inglaterra.

Devido a maior facilidade de se espalhar, as medidas de distanciamento social capazes de controlar a propagação do vírus original precisam ser mais rigorosas para obter o mesmo controle com a nova cepa. Foi isso que levou a Inglaterra ao “lockdown” quando seu sistema de saúde estava à beira do colapso. Essa cepa já está no Brasil, mas não sabemos como ela está se propagando por aqui. 

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O premiê britânico Boris Johnson  Foto: Leon Neal / POOL / AFP

Mas as cepas que estão provocando mais preocupação entre cientistas são as que apareceram na África do Sul e em Manaus. Essas cepas são diferentes entre si pois possuem um conjunto diferente de mutações, mas se assemelham pelo fato de apresentarem algumas mutações em comum como a E484K e a K417N.

O que os cientistas estão começando a suspeitar é que essas novas cepas, além de se espalhar mais facilmente, são capazes de evadir a proteção do sistema imune. Ou seja, talvez sejam capazes de infectar pessoas que já foram infectadas no passado ou já foram vacinadas. É por isso que a Inglaterra suspendeu os voos do Brasil para a Inglaterra.

Um estudo recém divulgado usando a cepa identificada na África do Sul demonstrou que a cepa SARS-CoV-2 501Y.V2 consegue, pelo menos em laboratório, escapar do sistema imune de pessoas já infectadas.

O experimento é muito simples. Os cientistas usaram uma técnica que mede a capacidade do SARS-CoV-2 de penetrar em células humanas em tubos de ensaio. Quando você coloca o vírus em contato com células, o vírus penetra rapidamente e se divide iniciando a infecção. Agora, quando você repete o ensaio, mas coloca junto os anticorpos gerados por pessoas já infectadas, o vírus não consegue entrar.

Essa capacidade de bloquear a entrada é que leva os cientistas a chamar esses anticorpos de anticorpos neutralizantes. Na presença deles o vírus é neutralizado. São esses anticorpos que são produzidos por nosso corpo após uma infecção pelo vírus ou após sermos vacinados.

A descoberta importante é que essa nova cepa consegue entrar nas células humanas mesmo na presença dos anticorpos gerados após uma infecção. Quando você coloca o vírus da nova cepa junto com a célula ele consegue penetrar mesmo quando os anticorpos de uma pessoa já infectada estão presentes. Ou seja, essas cepas escapam da proteção do sistema imune.

Esse trabalho sugere que essas cepas seriam capazes de infectar pessoas que já foram infectadas anteriormente ou já foram vacinadas. Mas é importante lembrar que esse é o primeiro estudo, que ele precisa ainda ser confirmado, e ainda não foi revisado por outros cientistas. Além disso é um estudo feito fora do corpo humano e não sabemos ainda como essas novas cepas vão se comportar na vida real. De qualquer modo essa é a primeira evidência que poderemos ter que enfrentar cepas capazes de se espalhar rapidamente e escapar da proteção conferida pela vacina ou por uma infecção pelo vírus original.

O que isso significa na prática é que cada uma das vacinas vai ter que ser testada contra cada uma das novas cepas para verificar se elas conferem proteção a cada nova cepa. A perda de proteção pode ser parcial (cai a eficácia da vacina) ou pode ser total, quando a vacina simplesmente não protege os vacinados da nova cepa.

Os fabricantes de vacina estão agora montando sistemas para verificar se cada vacina é capaz de proteger contra cada nova cepa. Nesse quesito as vacinas de alta eficácia levam vantagem. Se uma vacina de 95% de eficácia contra o vírus original tiver uma eficácia de 85% contra as novas cepas ela pode continuar a ser usada, mas se uma vacina de 50% como a Coronavac tiver sua eficácia reduzida para 40% ela provavelmente deixará de ser útil. Tal como os softwares, tudo indica que no médio prazo teremos que dispor de novas versões de cada tipo de vacina, o que complica ainda mais o combate ao vírus.

Isso mostra que enquanto no Brasil os seres humanos se atrapalham com brigas políticas e tropeçam na incompetência e ignorância generalizada do governo, o vírus continua ganhando terreno. 

Mais informações: SARS-CoV-2 501Y.V2 escapes neutralization by South African COVID-19 donor plasma. https://doi.org/10.1101/2021.01.18.427166

*É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS.