O presidente da Eletrobras (Centrais Elétricas Brasileiras S/A), Wilson Ferreira Junior, renunciou ao cargo nesta segunda-feira (25) e assumirá o comando da BR Distribuidora em março. A troca se deve em boa parte à falta de empenho no Congresso pela privatização da estatal.
De acordo com o comunicado da empresa, ele ficará na presidência até o dia 5 de março. Ainda não foi definido o seu sucessor. Em evento no Rio de Janeiro, ele disse que há profissionais na Eletrobras capazes de assumir o cargo, como um dos cinco diretores.
A estatal é responsável pela operação de cerca de um terço da capacidade de geração e metade da rede de transmissão de energia do Brasil.
Em comunicado, a BR Distribuidora informou que seu atual presidente, Rafael Grisolia, deixará o cargo no final de janeiro e que convidou Wilson Ferreira Junior para substituí-lo. A companhia também passará por uma transição até a chegada do novo presidente.
Ele vinha fazendo reclamações frequentes a seus interlocutores de desgaste à frente da Eletrobras.
Um dos mais experientes profissionais do setor elétrico, o executivo ficou cerca de 18 anos na presidência da CPFL, antes de ser empossado na Eletrobras, em 2016, na gestão do ex-presidente Michel Temer.
Conduziu um processo de retirada da União do controle da estatal que não foi aprovado pelo Congresso. Naquele momento, conseguiu avançar, em articulação com o governo, na venda das seis distribuidoras deficitárias ligadas à Eletrobras.
Na gestão Bolsonaro, ele foi mantido no cargo, mas o modelo de saída do governo da companhia, foi refeito. Hoje, ele está parado no Congresso.
"Com a reestruturação [da estatal] conclusa, o próximo projeto era exatamente a capitalização, que não pôde acontecer nos dois primeiros anos, e que não encontra, na minha avaliação pessoal, essa prioridade dos potenciais candidatos ao Congresso Nacional", disse para jornalistas no Rio de Janeiro. Ele também afirmou que não se dispôs a esperar mais, após cinco anos na companhia.
Com o anúncio de sua saída, as ADRs (recibo de ação negociado na Bolsa de Nova York, EUA) registraram queda de 11,43%. Com o feriado desta segunda-feira em São Paulo, não houve pregão na B3.
Parte dessa queda também refletiu as declarações dadas na quinta-feira (21) pelo candidato à presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), de que a privatização da Eletrobras não será prioridade na sua gestão. Pacheco tem apoio do governo.
Interlocutores afirmam que, nos bastidores, Wilson vinha reclamando bastante da falta de empenho do governo em levar adiante a capitalização da Eletrobras junto aos congressistas.
À Folha o executivo negou que o problema fosse o governo e reforçou que se tratava da falta de articulação no Congresso. Disse que ainda nesta segunda-feira conversou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o processo de capitalização.
Na capitalização, há uma injeção de dinheiro novo por meio da venda de ações da companhia em poder da União para investidores interessados. Quando isso ocorre, o governo tem a preferência para acompanhar o investimento.
Neste caso, no entanto, a União não iria colocar mais dinheiro para manter sua participação, que seria então diluída a uma porção minoritária. Assim, o governo sairia do comando. Na privatização, um bloco de ações é vendido para um único comprador.
Apesar da dificuldade em concluir esse processo, Wilson conseguiu vender as distribuidoras deficitárias ligadas à Eletrobras, reduzindo assim um endividamento bilionário. Renegociou a dívida (alongando prazos), além de reduzir o quadro de funcionários por meio de um Programa de Demissão Voluntária (PDV).
Ele é apontado também como responsável por aprimorar o programa de compliance, padronizar estatutos sociais e resolver contenciosos nos Estados Unidos decorrentes de reflexos da operação Lava Jato.
Mesmo assim, o executivo considerava que a companhia não teria condições de competir em igualdade com as empresas privadas nos próximos leilões, nem de realizar investimentos necessários.
Embora tenha negado que a resistência do governo à privatização tenha pesado, Wilson teria dito para amigos que considerava a chance de sair marcado pelo provável insucesso da venda da Eletrobras, já em sua segunda tentativa.
Preferia mudar de rumo no momento em que sua gestão trouxe bons resultados para a companhia.
O convite da BR Distribuidora teria sido uma “feliz coincidência”, segundo pessoa próxima que pediu anonimato.
Em nota, o Ministério da Economia informou que o governo seguirá com o programa de desestatizações. “Em nada, isso interfere”, afirmou.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, Wilson permanecerá como membro do conselho de administração da Eletrobras. Segundo a pasta, o governo entende que a capitalização da estatal é essencial para a recuperação de sua capacidade de investimento.
“Com a capitalização, a Eletrobras se tornará uma corporação brasileira de classe mundial, com capital pulverizado, focada em geração, comercialização e transmissão de energia elétrica, tornando-se uma das maiores empresas de geração renovável do mundo”, disse a pasta.
Nos bastidores, no entanto, membros do Ministério da Economia demonstraram dúvidas em relação ao plano de privatização da estatal. O otimismo sobre a possibilidade de venda deu lugar a um discurso de cautela.
Uma pessoa próxima a Guedes afirma que, embora a ideia da pasta não tenha mudado, qualquer iniciativa da equipe econômica nessa área obedecerá “a ordem de prioridades da área política”.
No Congresso e entre membros da ala política do governo, há resistências contra o programa de privatizações do Ministério da Economia.
Auxiliares de Guedes afirmam ser importante que o novo nome a comandar a estatal seja alguém alinhado à equipe econômica e que defenda a desestatização.
No entanto, reconhecem que a decisão passará por debate no Ministério de Minas e Energia e o martelo será batido apenas após aval do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Membros da pasta afirmam que a saída de Wilson seguiu o mesmo script do ex-secretário de Desestatização do Ministério da Economia Salim Mattar, que pediu demissão em agosto do ano passado. Assim como Mattar, segundo os relatos, Wilson trabalhava pelo avanço da pauta de privatizações, viu que o processo não avançou no governo, não enxergou perspectiva imediata de mudança nesse cenário e decidiu sair.
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