sexta-feira, 24 de julho de 2020

Período após alta de paciente que enfrentou a covid-19 também pode ser cheio de complicações, OESP NYT

Pam Belluck, The New York Times

24 de julho de 2020 | 05h00

Centenas de milhares de pacientes de formas extremamente graves de coronavírus que sobrevivem e saem do hospital enfrentam um novo e difícil desafio: a recuperação. Muitos têm dificuldades para superar uma série de sintomas residuais preocupantes, além do que algumas sequelas poderão persistir durante meses, anos ou mesmo pelo resto de suas vidas.

Os pacientes que retornam para casa depois de terem sido hospitalizados com graves problemas respiratórios em consequência do vírus enfrentarão dificuldades físicas, neurológicas, cognitivas e emocionais.

Coronavirus
Altos e baixos são comuns após pacientes receberem alta. Foto: Wael Al-Qubati/Reuters

E terão de percorrer o seu processo de recuperação enquanto a pandemia não dá trégua, com todo o estresse e a redução dos recursos que ela acarreta.

PUBLICIDADE

“Não se trata apenas de: ‘Passei momentos terríveis no hospital, mas graças a Deus estou em casa e tudo vai voltar ao normal’ ”, disse o dr. David Putrino, diretor de inovação do processo de reabilitação do Mount Sinai Health System de Nova York. E sim de: ‘Passei momentos terríveis no hospital e, sabe o que? O mundo continua em chamas. Eu preciso encarar isto e ao mesmo tempo tentar encarar o que era a minha vida anterior’”.

É ainda muito cedo para dizer como será a recuperação para estes pacientes. Mas aqui está um vislumbre do que eles estão experimentando neste momento, do que podemos aprender com estes pacientes com experiências médicas semelhantes e com as dificuldades que a maioria encontrará mais adiante.

Quais são os problema que os pacientes experimentam depois de sair do hospital?

São muitos. Os pacientes podem sair do hospital com cicatrizes, danos ou inflamações que ainda não sararam nos pulmões, coração, rins, fígado ou outros órgãos. E isto pode causar uma série de problemas, por exemplo, urinários ou do metabolismo.

Segundo o dr. Zijian Chen, diretor da equipe médica do novo Centro para Cuidados Pós-Covid do Sistema de Saúde Mount Sinai, o maior problema físico que o centro está percebendo é a dificuldade de respirar, o que pode ocasionar doenças pulmonares ou cardíacas ou coagulação.

“Alguns têm uma tosse intermitente que não desaparece, dificultando a sua respiração’, afirmou.

Outros precisam até de oxigênio em casa, embora isto não os ajude muito.

Outros ainda que tiveram de usar o respirador falam da dificuldade de engolir ou de falar pouco mais que sussurros, consequência temporária de machucados ou inflamação causados pelo tubo de respiração que passa através das cordas vocais.

Muitos sofrem de fraqueza muscular por terem ficado em um leito hospitalar por muito tempo, disse o dr. Dale Needham, especialista de casos críticos, da Escola de Medicina Johns Hopkins, e um dos principais expoentes do campo da recuperação de cuidados intensivos. Consequentemente, eles podem ter dificuldade para andar, subir escadas ou erguer objetos.

Danos ou fraqueza dos nervos também podem destruir a força muscular, acrescentou Needham. Problemas neurológicos também podem causar outros sintomas. Chen disse que o Centro Pós-Covid do Mount Sinai enviou cerca de 40% dos pacientes para neurologistas para tratar de fadiga, confusão e desorientação mental.

“Em parte, trata-se de uma situação muito debilitante”, ele disse. “Temos pacientes que dizem ao médico: ‘Não consigo concentrar-me no trabalho. Eu me recuperei, não tenho nenhum problema respiratório, não tenho dor no peito, mas não posso voltar a trabalhar porque não consigo me concentrar’ ”.

O centro também encaminha alguns destes pacientes para consultas com psicólogos, disse Chen.

“É bastante comum os pacientes sofrerem de pesadelos, depressão e ansiedade, depois de passarem por tudo isto por causa dos flashbacks e das lembranças do que aconteceu”, afirmou a dra. Lauren Ferrante, pneumologista e especialista de casos críticos da Escola de Medicina de Yale, que estuda as consequências da recuperação após um período na UTI.

O que faz com que alguns enfrentem maior dificuldade durante a recuperação?

Estudos de pessoas hospitalizadas por insuficiência respiratória decorrente de outras causas sugerem que a recuperação provavelmente será mais difícil para pessoas que apresentavam deficiência anteriormente e para as que precisaram de períodos de hospitalização mais prolongados, disse a dra. Ferrante.

Mas muitos outros pacientes de coronavírus - não apenas os idosos ou os que sofrem de outras doenças - passam semanas com o ventilador e mais semanas no hospital depois da retirada dos tubos de respiração, o que torna a sua recuperação ainda mais árdua.

“A pessoa passa muito mais tempo com um ventilador e na UTI do que estávamos acostumados a ver”, acrescentou. “Tememos que isto venha a ter repercussões para as funções físicas e que muitas outras pessoas não consigam se recuperar”.

Outro fator que pode prolongar e prejudicar a recuperação é um fenômeno chamado delírio hospitalar, que pode envolver alucinações paranoicas e confusão ansiosa. Ele ocorre com maior probabilidade em pacientes submetidos a sedação prolongada, que têm uma interação social limitada e têm muita dificuldade para se movimentar - o que é comum nos pacientes de covid-19.

Estudos, como o realizado por uma equipe do Centro Médico da Universidade Vanderbilt, concluíram que pacientes de UTI que sofrem de delírio devido à hospitalização estão mais propensos a ter um déficit cognitivo durante meses seguintes à alta.

Qual é a trajetória da recuperação?

Altos e baixos são comuns.

“Este não é absolutamente um processo linear, e depende muito de cada indivíduo,” explicou Needham.

A perseverança é muito importante.

“O que não queremos é que os pacientes voltem para casa e fiquem na cama o dia inteiro”, disse a dra. Ferrante. “Isto não ajudará em nada a recuperação e provavelmente vai piorar as coisas”.

Os pacientes e os seus familiares precisam entender que as flutuações a esta altura são normais

“Há dias em que tudo parece ir bem com os pulmões, mas as juntas são tão doloridas que a pessoa não consegue levantar e tem alguns inconvenientes,” disse Putrino. “Ou o seu tratamento pulmonar está indo bem, mas sua confusão mental a levará a ficar ansiosa e a se sentir em uma espiral, então precisará abandonar tudo e trabalhar intensamente com o neuropsicólogo”.

“É como se a pessoa estivesse dando um passo para frente e dois para trás”, acrescentou, “e isto é normal”.

Quanto tempo duram esses problemas?

Em muitas pessoas, os pulmões provavelmente se recuperarão, muitas vezes após meses. Mas outros problemas podem perdurar mais tempo e é possível que algumas nunca mais consigam se recuperar plenamente, afirmam os especialistas.

Uma referência é um estudo publicado em 2011 pela revista New England Journal of Medicine realizado com 109 pacientes no Canadá que receberam tratamento contra a síndrome de desconforto respiratório agudo (SDRA), insuficiência pulmonar que afeta muitos pacientes de covid-19. Cinco anos mais tarde, a maioria havia recuperado suas funções pulmonares normais ou quase normais, mas ainda lutava com persistentes dificuldades físicas e emocionais.

Em um teste crucial - sobre o quanto os pacientes podem percorrer em seis minutos - a distância média foi de cerca de 436 metros, apenas 75% da distância que os pesquisadores haviam previsto. As idades dos pacientes variavam de 35 a 57 anos, e embora os mais jovens apresentassem uma taxa de recuperação física melhor do que os idosos, “nenhum grupo voltou aos níveis normais previstos para as suas funções físicas em cinco anos”, escreveram os autores.

Os pacientes do estudo sofriam de SDRA por uma variedade de causas: pneumonia, sepse, pancreatite ou queimaduras. Eles passaram em média 49 dias no hospital, incluindo 26 dias na UTI e 24 dias no ventilador.

Quais são as consequências?

Entre outras coisas, os pacientes poderão ter problemas para voltar à sua ocupação. Uma equipe chefiada por Needham concluiu que cerca de 33% dos 64 pacientes de SDRA acompanhados pelo estudo nunca voltaram a trabalhar.

Alguns tentaram, mas concluíram que não tinham condições e pararam completamente de trabalhar, disse Needham, e outros “tiveram de mudar de ocupação, especificamente para um trabalho menos complexo e provavelmente uma remuneração menor”.

Chen disse que está preocupado com a possibilidade de que as consequências a longo prazo do covid-19 possam assemelhar-se aos efeitos crônicos da epidemia da AIDS ou dos ataques de 11 de setembro de 2001, ocorridos na cidade de Nova York.

“Uma nova doença grave ou um acontecimento catastrófico causam sintomas que perduram por muito tempo”, afirmou. “Esta talvez se torne algo muito pior do que essas duas calamidades”.

"Centenas de milhares de outras pessoas sofrerão destas síndromes crônicas que levarão inclusive muito tempo para sarar, e causarão um grave problema de saúde e também um enorme problema econômico se não forem tratadas”, afirmou Chen. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

PEDRO DORIA A Lei do WhatsApp pode funcionar, OESP

Uma das consequências da Lei das Fake News que foi aprovada no Senado e segue tramitando na Câmara é que a sociedade civil rachou. Boa parte das pessoas que estudam redes sociais, desde o início, viu ali a abertura para um risco de censura pelas plataformas — Facebook, Twitter, Google. Mas houve um grupo bastante específico, aquele dos que estudam não as redes, mas os apps de mensagens, que defendeu o projeto. E eles têm um bom argumento.

De certa forma, quando o assunto é desinformação, damos atenção excessiva às redes sociais. Elas são importantes mas, no Brasil, central mesmo é o WhatsApp. Boa parte do trabalho do gabinete do ódio, da máquina de ataques, explora as fragilidades deste aplicativo. Trata-se, evidentemente, do app utilizado para a comunicação básica do dia a dia por dez entre dez donos de smartphones entre nós. E o artigo 10 da lei aprovada, que fala destes serviços de mensageria, pode ter chances de funcionar. 

É inteligente o suficiente para não exigir das plataformas — que incluem apps como o Messenger e o Telegram — mudanças de código que expulsem suas empresas do mercado brasileiro. O artigo não exige que a criptografia do Zap seja quebrada. E, ainda assim, é capaz de identificar quem disseminou informações que manipulam a percepção de realidade de cada cidadão.

Estes são, todos, pontos muito importantes, pois acertam em cheio os argumentos sobre ser impossível controlar estes apps. Oficialmente, o que executivos do WhatsApp dizem, no Brasil e lá fora, é que eles não são serviços de broadcast. Servem a conversas entre poucos. E têm números — mais de 90% das trocas de mensagens ocorrem entre duas pessoas.

O problema é que há um certo cinismo neste discurso. Ninguém pode criar um serviço de assinatura de informações. Assine aqui e enviaremos notícias, piadas, imagens, seja lá o que for. Mas o WhatsApp inclui, entre as possibilidades, grupos de conversas e listas de transmissão. Uma pessoa envia uma mensagem para uma lista de transmissão com 256 contatos e cada um destes contatos reenvia para uma lista do mesmo tamanho, já dá 65 mil pessoas que receberam em segundos um meme. Na segunda rodada, já passa do milhão.

Quem lê gabinete do ódio por vezes pensa em um ou dois assessores na antessala do presidente Jair Bolsonaro. É muito mais do que isso. Na primeira hora após o assassinato da vereadora Marielle Franco, antes que a maioria das pessoas sequer soubesse do crime, já circulavam no Zap falsificações a seu respeito. Qualquer um que tenha frequentado um grupo bolsonarista sabe que há dezenas de áudios, de memes, de vídeos novos todos os dias. Sobre os assuntos do dia, sobre os inimigos do dia. A máquina não para.

Encriptação não é um problema por uma razão simples. Os arquivos maiores que circulam muito, vídeos, áudios ou mesmo algumas imagens, não são encriptados como as mensagens de texto. São armazenados nos servidores do WhatsApp. Quem encaminha não envia do seu celular para outro aquele arquivo pesado. Para economizar banda e processamento, estes arquivos o WhatsApp já mantém nos servidores. E é nisto que o texto do artigo entra.

Como já são armazenados de qualquer forma, a lei pede que as empresas de mensageria mantenham o registro de quem enviou consigo. Vale para quando uma mesma mensagem foi mandada por mais de cinco usuários num intervalo de 15 dias. Se aquele arquivo chegou a menos de mil pessoas, descarta. Caso tenha chegado a mais gente, se um juiz pedir para saber a origem da mensagem em processo que envolve conteúdo ilícito, aí a empresa identifica. 

Este é, possivelmente, o artigo mais importante da lei inteira. E pode funcionar.

Réplica: A TV aberta por satélite e o leilão do 5G, FSP


Eli Corrêa Filho

A Frente Parlamentar em Defesa da Radiodifusão foi constituída em 30 de outubro de 2019 e conta com a participação de 259 deputados federais. Dentre as atividades que integram a nossa atuação, destaco o fortalecimento do segmento, com a defesa intransigente da liberdade de expressão e de imprensa.

Ao defender a radiodifusão brasileira, o parlamento protege o direito de todo o cidadão ao acesso à informação, cultura, esporte e entretenimento, de forma livre, aberta e gratuita. Trata-se do único setor regulado da economia que não cobra tarifas ou preços ao consumidor (leia-se: o telespectador ou o ouvinte).

Nesse contexto, acompanhamos com atenção os diversos temas que dizem respeito ao setor e, consequentemente, a toda a sociedade brasileira. Dentre eles, o debate em andamento na Anatel, envolvendo a licitação do 5G e a proteção dos serviços de TV parabólica (conhecida como TVRO), que hoje também ocupa parte da faixa que será leiloada.

Oca de alvenaria na divisa de Bertioga e São Sebastião
Oca de alvenaria na divisa de Bertioga e São Sebastião - Jefferson Coppola/Folhapress

Causou-me surpresa, nesse sentido, a leitura do artigo de opinião publicado na Ilustríssima desta Folha, no dia 9 de julho, intitulado Lobby por parabólicas é absurdo e atrasa 5G, em que o autor qualifica o serviço de TV parabólica como uma “gambiarra” e imputa a ele os atrasos na realização do leilão de 5G.

Por tudo o que venho acompanhando, isto não é verdadeiro.

A realidade é que a implantação da nova tecnologia requer, entre outros importantes e necessários esforços e iniciativas, altos investimentos financeiros das operadoras de serviços de telecomunicações e as questões de fundo econômico e político, como todos sabem, foram agravadas pela pandemia do novo coronavírus.

[ x ]

É inegável, por outro lado, que os sistemas 5G prometem grandes avanços aos usuários da internet, de suma importância para o desenvolvimento do país, inclusive para os serviços de radiodifusão, mas temos conhecimento que a interferência dos sinais do 5G no serviço de TV parabólica existe e para evitar um apagão da TVRO, é preciso resolver o problema.

Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2018, do IBGE, apontam que 22 milhões de lares brasileiros têm nas parabólicas a possibilidade de receber a programação gratuita que somente a TV aberta oferece. Assegurar e preservar tais sinais é garantir um serviço, reconhecido pelo Estado, como indispensável e insubstituível à população.

É importante, portanto, assegurar uma solução eficiente que garanta, de um lado, a continuidade segura deste serviço fundamental à população e, de outro, que permita a chegada e o desenvolvimento do 5G no país.

Há propostas alternativas de resolução do problema em discussão na Anatel. De forma objetiva, ou bem se garante uma convivência harmoniosa entre os serviços de TVRO e 5G na mesma faixa (técnica da mitigação) ou bem se migra o serviço de TV por satélite para uma nova faixa do espectro (técnica de migração).

Como a tendência mundial é a de que a banda larga móvel (o 5G e suas evoluções) venha a utilizar, a curto e médio prazos, todo o espaço do espectro onde hoje opera a TV parabólica, a primeira proposta, a de mitigação, não se justifica, pois se apresenta como uma solução precária e transitória, a exigir alocação de novos esforços e recursos desnecessários.

Além disso, não existem filtros a preços populares no mercado que assegurem a convivência entre os serviços, o que poderá deixar milhões de brasileiros sem acesso aos sinais de TV aberta, hoje recebidos pelas antenas parabólicas.

Trata-se, portanto, de proposta sabidamente ineficiente, cuja eventual implementação resultará na má utilização de recursos públicos.

Por sua vez, a solução de migração de faixa do serviço de TV por parabólica (da atual “banda C” para a chamada “banda Ku”), além de permitir a escalada do 5G na faixa destinada ao serviço de TV por satélite, o que é uma tendência mundial, resolverá de forma definitiva e perene a questão de interferências. Logo, apresenta-se como a mais adequada, conveniente e eficiente a ser adotada.

Obviamente que essa alternativa, assim como a anterior, tem um custo, mas o questionamento que se lança ao debate é: quanto custará ao país deixar milhões de brasileiros sem acesso gratuito à cultura, esporte, entretenimento e informação?

Lembro que ambos os serviços são importantes à sociedade, mas atendem a finalidades distintas. A tecnologia 5G não será gratuita e milhões de brasileiros não poderão arcar com seus custos para continuar tendo acesso à informação profissional, hoje oferecida pela TV aberta.

Por tudo isto, é que a classificação do serviço de TV parabólica como uma “gambiarra”, além de evidenciar uma fala preconceituosa, o que é digno de repúdio, revela o desconhecimento da realidade do país e das necessidades da população brasileira, sobretudo a de menor poder aquisitivo, de manter assegurado o direito de acesso gratuito à informação.

Eli Corrêa Filho

Deputado Federal e presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Radiodifusão