quarta-feira, 22 de julho de 2020

Ruy Castro Ele não deixou o Flamengo, FSP

Jorge Jesus disse adeus e deixou órfãos muitos torcedores do Flamengo —uns 40 milhões, entre os quais me incluo. Ficará na história como dois outros treinadores estrangeiros que marcaram o Flamengo e o futebol brasileiro, o húngaro Dori Kruschner e o paraguaio Fleitas Solich, e como vários que o próprio Flamengo promoveu à glória: Flavio Costa, Coutinho, Carpeggiani, Carlinhos.

Com toda a euforia que as conquistas de Jorge Jesus despertavam —goleadas inesquecíveis, estilo de jogo revolucionário, cinco títulos importantes e mesmo a derrota por 1 a 0 para o Liverpool no Mundial de Clubes—, sempre duvidei de que ele tivesse vindo para ficar.

O fato de não trazer a família já indicava isso. Outro indício era o de que não se integrava à vida do Rio —nunca foi visto longe de seu apartamento e do CT do clube, ambos em bairros distantes da cidade real. Não vinha à Zona Sul, não conhecia as praias, os restaurantes, os cartões-postais. Parecia não levar vida social —seu círculo resumia-se aos auxiliares que trouxera de Lisboa e a uns poucos dirigentes. Arrastava multidões de admiradores, mas teria amigos? Se algum dia desse um pulinho ao centro e andasse a pé por aquelas ruas, elas o fariam sentir-se em Lisboa. Mas a única vez em que esteve lá foi para receber o título que o Rio amorosamente lhe concedeu —o de cidadão honorário.

Pois chega. Jorge Jesus se foi e tentaremos recomeçar de onde ele deixou. O que não será impossível, com jogadores como Éverton Ribeiro, Bruno Henrique, Gerson, Gabigol, Arrascaeta, Rafinha, Rodrigo Caio, Filipe Luís, Willian Arão, Diego Alves, Diego Ribas, Pedro, Vitinho, Michael e outros que o ajudaram a ser tão vitorioso.

Quero crer que Jorge Jesus não deixou o Flamengo. Deixou um país perigoso, irresponsável e em decomposição, governado por celerados. No que, como sabemos nós, que vivemos nele, fez muito bem.

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O técnico Jorge Jesus, que deixou o Flamengo após a conquista do Estadual, com o mão no queixo, em posição pensativa
O técnico Jorge Jesus, que deixou o Flamengo após a conquista do Estadual - Ricardo Borges - 11.set.19/Folhapress
Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.


Hélio Schwartsman Um bicho igualitário, FSP

Todos nos revoltamos com a cena do desembargador prepotente tentando humilhar o guarda civil santista que cumpria seu dever. Por quê?

A cultura do você-sabe-com-quem-está-falando ofende nossos pendores igualitários, particularmente a noção de que a lei vale para todos. Sim, apesar da grande dispersão nos índices de distribuição de riqueza, o ser humano é um bicho igualitário, muito mais do que os rígidos chimpanzés e até do que os mais relaxados bonobos.

Autores como Christopher Boehm e Richard Wrangham mostram de forma convincente que um dos processos fundadores da humanidade foi a autodomesticação. As sociedades de caçadores-coletores em que nossa espécie foi forjada nunca toleraram bem a tirania. Seus membros não hesitavam em formar alianças para destronar qualquer macho alfa que pretendesse virar dono do pedaço.

Desembargador Eduardo Siqueira rasga multa por estar sem máscara em praia de Santos (SP)
Desembargador Eduardo Siqueira rasga multa que recebeu por estar sem máscara em praia de Santos (SP) - Reprodução TV Tribuna

O objetivo inicial provavelmente era algo modesto, como garantir que a carne obtida nas caçadas fosse dividida de forma justa, mas a dinâmica produziu uma série de efeitos colaterais. De um lado, valentões incorrigíveis e psicopatas foram eliminados fisicamente —e seus genes excluídos do pool da humanidade. De outro, indivíduos com pendores dominantes aprenderam a exercer o autocontrole. Desse processo teriam surgido não apenas nossa consciência moral como a nossa incrível capacidade de colaborar uns com os outros.

Se somos assim tão igualitários, como explicar a existência de tantas monarquias e castas sociais? Com o advento da agricultura, as sociedades se tornaram bem maiores e mais complexas, o que requeria um comando mais centralizado. Foi aí que inventamos os reis e ressignificamos a hierarquia. Mas o impulso igualitário nunca foi esquecido, tanto que, mais tarde, acabamos criando a República, democratizamos monarquias e, mais importante, nos preocupamos com a desigualdade —algo que nunca ocorreria a um chimpanzé.

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Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

terça-feira, 21 de julho de 2020

Em nova frente, Qualicorp é investigada por custos e preços, FSP

Além da prisão de seu fundador, José Seripieri Junior, nesta terça (21), a administradora de planos de saúde Qualicorp também terá de lidar com um inquérito do Ministério Público Federal aberto na última quinta (16).

A investigação irá avaliar a transparência da companhia na divulgação de seus custos operacionais e nos reajustes de preços aos consumidores. Segundo a procuradoria, o inquérito decorre de procedimento preparatório aberto em janeiro após denúncia.

Questionada, a Qualicorp diz que preza pela transparência na relação com a sociedade e que seus números são públicos.

O empresário Jose Seripieri, fundador da Qualicorp - Zanone Fraissat 25.out.2013/Folhapress

Com Filipe Oliveira Mariana Grazini