Jorge Jesus disse adeus e deixou órfãos muitos torcedores do Flamengo —uns 40 milhões, entre os quais me incluo. Ficará na história como dois outros treinadores estrangeiros que marcaram o Flamengo e o futebol brasileiro, o húngaro Dori Kruschner e o paraguaio Fleitas Solich, e como vários que o próprio Flamengo promoveu à glória: Flavio Costa, Coutinho, Carpeggiani, Carlinhos.
Com toda a euforia que as conquistas de Jorge Jesus despertavam —goleadas inesquecíveis, estilo de jogo revolucionário, cinco títulos importantes e mesmo a derrota por 1 a 0 para o Liverpool no Mundial de Clubes—, sempre duvidei de que ele tivesse vindo para ficar.
O fato de não trazer a família já indicava isso. Outro indício era o de que não se integrava à vida do Rio —nunca foi visto longe de seu apartamento e do CT do clube, ambos em bairros distantes da cidade real. Não vinha à Zona Sul, não conhecia as praias, os restaurantes, os cartões-postais. Parecia não levar vida social —seu círculo resumia-se aos auxiliares que trouxera de Lisboa e a uns poucos dirigentes. Arrastava multidões de admiradores, mas teria amigos? Se algum dia desse um pulinho ao centro e andasse a pé por aquelas ruas, elas o fariam sentir-se em Lisboa. Mas a única vez em que esteve lá foi para receber o título que o Rio amorosamente lhe concedeu —o de cidadão honorário.
Pois chega. Jorge Jesus se foi e tentaremos recomeçar de onde ele deixou. O que não será impossível, com jogadores como Éverton Ribeiro, Bruno Henrique, Gerson, Gabigol, Arrascaeta, Rafinha, Rodrigo Caio, Filipe Luís, Willian Arão, Diego Alves, Diego Ribas, Pedro, Vitinho, Michael e outros que o ajudaram a ser tão vitorioso.
Quero crer que Jorge Jesus não deixou o Flamengo. Deixou um país perigoso, irresponsável e em decomposição, governado por celerados. No que, como sabemos nós, que vivemos nele, fez muito bem.
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