quarta-feira, 4 de março de 2020

Doria e Macris, do PSDB, atacam servidores com violência nunca vista, RBA


reprodução
"É um absurdo que Cauê Macris tenha autorizado o uso dessa força dentro da Assembleia", disse o vice-presidente da CUT-SP, Marcolino
São Paulo – O governo de São Paulo agiu com excessiva violência contra os servidores do estado no dia de hoje (3). Sob comando dos tucanos João Doria, no Executivo, e Cauê Macris, na presidência do Legislativo, as forças policiais, a serviço do PSDB – que governa o estado desde 1995 –, transformaram a “casa do povo” em uma praça de guerra.
As ordens para que o Batalhão de Choque agredisse os servidores vieram na esteira da reforma da previdência do funcionalismo, a PEC 18. Bombas de gás, tiros de balas de borracha à queima roupa, gás de pimenta e pancadaria foram distribuídas contra professoras, enfermeiras, entre outras carreiras públicas. No plenário, o resultado foi a derrota dos trabalhadores com a aprovação da reforma por 59 votos a 32.
Entre as bombas e balas utilizadas pela PM contra os trabalhadores, estavam artefatos com a data de validade raspada. A denúncia foi feita pela codeputada Monica Seixas, da Bancada Ativista (Psol). “Nossa equipe recolheu mais de 40 bombas de gás vencidas e mais de 100 balas de borracha contra a população. É uma guerra contra professores, trabalhadores da saúde e da segurança pública.”
Monica Seixas, da Bancada Ativista, mostra cartuchos de bombas com validade raspada
Cerca de 20 mil servidores, de acordo com estimativas de entidades representativas de trabalhadores, acompanharam o endurecimento das regras para aposentadoria. A repressão policial aconteceu tanto do lado de fora como dentro da Casa. Foi a primeira vez na história que a Tropa de Choque atacou cidadãos dentro do parlamento.
“Mais uma vez, partidos como o PSDB, PSL, DEM e Cidadania, retiraram os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras da educação, da saúde, de policiais, de todos os servidores públicos do estado. Fizeram isso se utilizando da Tropa de Choque, da violência, para penalizar muitos trabalhadores com o fim da aposentadoria. Pessoas ficaram feridas. É um absurdo que Cauê Macris tenha autorizado o uso dessa força dentro da Assembleia”, disse o vice-presidente da CUT São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino, que já foi deputado estadual.
Para a deputada Professora Bebel (PT), “o que está em questão também é a liberdade democrática”. “É o que está na boca do presidente (Jair Bolsonaro), que ele reinstaurará. Vamos esperar um novo AI-5? Não! Vamos lotar atos, essa reforma ataca fortemente os trabalhadores e trabalhadoras (…) O que foi aprovado é o estado mínimo selvagem que trata o servidor como bandido”, completou.
Em nota, a liderança do PT na Assembleia externou indignação com a violência. “O lançamento de bombas não cessou durante horas.
Muitas pessoas chegaram ao serviço médico com ferimentos causados por pancadas e bala de borracha, crise respiratória e vômitos. Pessoas idosas não foram poupadas. Uma nuvem de gás engoliu a dignidade dos trabalhadores nos sóbrios corredores do palácio que deveria ser do povo (confira íntegra abaixo).”

Nota da bancada do PT
Como se já não bastasse a maldade da PEC 18/2019, que acaba com o direito adquirido de se aposentar, hoje presenciamos cenas de puro autoritarismo e brutalidade, palavras que definem a atitude do trio tucano: Cauê Macris, Carlão Pignatari e João Doria.
O presidente do Alesp, o líder do governo e o governador foram os responsáveis pelo massacre físico, psicológico e moral praticado, hoje, pelo Batalhão de Choque da PM contra servidores públicos. Uma verdadeira sessão de tortura que começou, logo no início da manhã, dentro e fora da Assembleia Legislativa e só teve fim quando servidores já estavam feridos, com falta de ar e visivelmente envolvidos numa nuvem de pânico.
Nós, deputadas e deputados da bancada do PT, denunciamos e repudiamos o massacre policial promovido pelo autoritarismo dos deputados Cauê Macris e Carlão Pignatari, do PSDB, com o aval de governador João Doria, autor da Reforma da Previdência.
Três de março de 2020, sem dúvida, será lembrado, na história do segundo maior parlamento do país, como o dia da vergonha, da brutalidade e da tortura patrocinada pelo PSDB contra os trabalhadores estaduais. 
Enquanto era votada a PEC da Reforma da Previdência, cassetetes, spray de pimenta, balas de borracha e gás lacrimogêneo foram lançados pelos corredores e plenários do Palácio 9 de Julho, para fazer com que as trabalhadoras e trabalhadores desistissem de seu legítimo direito de acompanhar, na casa que deveria ser do povo, a posição dos parlamentares sobre a PEC 18/2019, que nunca foi discutida com os interessados, ou seja, os trabalhadores públicos da educação, da saúde e dos serviços fundamentais.
Não vamos esquecer jamais, o dia em que a Assembleia Legislativa paulista foi palco de porrada, bomba e pancada, no trabalhadores.   
Ninguém foi poupado. Dentro da Alesp, o ar tornou-se irrespirável e, do lado de fora do prédio, o cenário foi de batalha campal. No serviço médico local, foram atendidos idosos e funcionários da própria Assembleia, com ferimentos causados por cassetetes e bala de borracha, crise respiratória e vômitos. Mas no plenário Juscelino Kubitschek, o deputado Cauê Macris mostrava-se muito tranquilo e dava continuidade às sessões extraordinárias, como se nada estivesse acontecendo.
Manifestando todo o nosso repúdio a essa violência cometida contra os cidadãos deste Estado, exigimos que sejam apuradas as responsabilidades sobre os acontecimentos nesta Assembleia Legislativa.
Teonilio Barba Lula
Líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

Palavra do governador

Doria comemorou o dia. “Parlamentares que honraram os votos que receberam nas urnas, permitindo que o governo tenha equilíbrio fiscal e recupere sua capacidade de investimento (…) Dia histórico para São Paulo. A reforma da Previdência foi aprovada”, disse, via redes sociais.

Perto dos cem anos, clube de bocha resiste em São Paulo, FSP

GDR mantém canchas vendendo pizza frita e deixando jovens jogarem futebol

SÃO PAULO
“A comemoração tem que ser no salão de festas, com música para dançar, como antigamente”. “Não, vai ser na quadra do ginásio, com costela no fogo de chão e porco no rolete”.
 As discussões andam acaloradas no Grêmio Dramático e Recreativo do Piqueri, um dos mais antigos clubes da cidade de São Paulo. 
Fundado em 1º de maio de 1920, o GDR hoje é mais conhecido pela pizza frita das noites de sexta, sábado e domingo, ao lado das duas canchas de bocha, a partir das 19h.
Tido como pé de valsa, Hélio Garcia, 87, mecânico aposentado da Rede Ferroviária Federal, sócio mais antigo do GDR (número 77), não abre mão de um baile para comemorar o centenário no salão de festas do clube. 
“Esse aí não pode ouvir uma música que já sai dançando”, brincam seus amigos numa mesa de bar na sala de troféus, enquanto tentam lembrar a história do clube. 
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Os frequentadores Hélio Garcia, 87, Pedro Segatti, 82 e Livio Alibero, 89
Os frequentadores Hélio Garcia, 87, Pedro Segatti, 82 e Livio Alibero, 89 - Eduardo Knapp - 14.fev.2020/Folhapress
Não há registros oficiais em livros, nem mesmo a placa da inauguração. Só resta a memória afetiva e oral.
Como falam todos ao mesmo tempo e contam diferentes versões —não por acaso, são, em sua maioria, descendentes de italianos—  fica difícil fazer uma cronologia. 
Pedro Segatti, 82, escrevente de cartório aposentado, diretor de esportes, vai procurar antigas atas de assembleias para provar o que está falando.
Assim dá para saber que o GDR tinha 180 sócios quando foi fundado pelos irmãos Guido e Roberto Beluomini e chegou a ter 1.855 inscritos no livro de registros, em 1979, quando o pizzaiolo Gildo Fossatti criou a pizza frita. A partir de 1980, o registro de novos sócios foi desativado. 
Naquela época, quem preparava e servia as pizzas eram os próprios sócios. Com o tempo, o movimento aumentou tanto que a velha turma da bocha já não dava conta. Tiveram que contratar funcionários, hoje comandados por Creuza Fátima de Oliveira, 65. 
A massa fininha é preparada na véspera e frita numa chapa para ficar crocante, antes de receber os recheios e seguir para o forno a lenha.
A que faz mais sucesso é a “pizza frescura”, que leva molho de tomate, mozarela, alho-poró, cogumelos, azeitonas e orégano. É também a mais cara: R$ 56 e serve oito pedaços. 
A pizza garante a manutenção do clube, que conta hoje apenas 36 sócios, assim como o eventual aluguel do salão de festas para eventos e da quadra de esportes no ginásio ao lado, onde jogam times de futebol de salão. 
Quem passa pela estreita rua Pedro Colaço, no alto do Piqueri, bairro de colônia italiana na zona norte da cidade, não tem ideia do movimento que acontece lá dentro. 
Misturam-se os sons dos que brigam em voz alta na cancha de bocha, achando que o outro está roubando, com a turma que prefere um jogo de tranca, no bar onde ficam os troféus conquistados pelas três equipes que disputam o Campeonato Paulista de Bocha. 
Cada equipe tem seis jogadores neste jogo que consiste em lançar bolas semelhantes às de boliche o mais perto possível de um bolim, uma bola pequena, ou remover as bolas do adversário na pista, de 4 metros de largura por 24 metros de comprimento, chamada de cancha. 
Ao lado das canchas de bocha, clientes comem a pizza frita do Grêmio Dramático e Recreativo do Piqueri, numa noite de sexta 
Ao lado das canchas de bocha, clientes comem a pizza frita do Grêmio Dramático e Recreativo do Piqueri, numa noite de sexta  - Eduardo Knapp - 14.fev.2020/Folhapress
Na semana, são disputadas só peladas, como no futebol, em que ainda participam velhos sócios, quase todos octogenários. Aos sábados e domingos entram na cancha os semiprofissionais mais jovens, que ganham uma ajuda de custo —entre R$ 1.000 e R$ 2.000 por mês. 
Os jogos são sempre disputados de dia, porque às 18h o GDR se prepara para virar “a pizzaria da bocha”. Com quatro pizzaiolos na cozinha e seis garçons no salão, são esticadas as cortinas de rede para proteger as mesas. Nessa hora, as canchas são liberadas para os filhos dos fregueses jogarem futebol. 
Nenhum dos filhos dos sócios remanescentes se interessou por seguir a tradição da bocha, para tristeza dos pais. 
Livio Alibero, 89, três filhos, era marceneiro na Itália quando veio para o Brasil, com 21 anos, e aqui trabalhou a vida toda na manutenção de prédios.
Atual vice-presidente do GDR, lembra que a região do Piqueri já chegou a ter mais de 30 clubes de bocha no tempo em que todos eram amadores. 
“Tinha muitos abnegados como nós, mas agora não tem mais trouxa que trabalha de graça. Hoje é tudo remunerado”, lamenta. 
Para arrecadar fundos e garantir a festa do centenário, enquanto não definem o local e o formato, os diretores estão promovendo almoços com comida italiana aos domingos, em que não podem faltar massas, almôndegas e frango ou bife à parmigiana. 
Paga-se R$ 35 por pessoa, bebidas à parte. Na semana passada, serviram mais de 160 almoços. Em abril, nos dias 26 e 27, será preparada uma feijoada, junto com o Torneio de Bocha do Centenário, em que já estão inscritos clubes de várias regiões do país. 
Quando se pergunta a razão de o clube ter o “dramático” no nome, a turma da bocha dá risada. “No começo, era para ser um clube com esportes e teatro, mas acho que nunca teve disso aqui. Até 1977, era um clube só de futebol, quando houve a fusão do GDR com o Grêmio Recreativo União Piqueri, que trouxe a bocha pra cá. O nome ficou porque a turma aqui é muito dramática...”, brinca Hugo Costa, que diz sentir saudades dos saraus dançantes dos domingos com Dudu e seu Conjunto. 
Quando os ânimos ficam exaltados, entre tantas lembranças e versões, um sacaneando o outro, entra em cena dona Creuza, que há 20 anos cuida do clube. “Eu cuido de tudo e eles me respeitam”, diz ela.
De fato, embora de origem italiana, o GDR mais parece um clube germânico, tamanha a limpeza e a ordem mantidas no recinto.
Se alguém tem saudades da São Paulo antiga, e de uma boa pizza, vale a pena ir até o Piqueri, onde se entra num túnel do tempo ao atravessar a porta do centenário Grêmio Dramático e Recreativo. 
“Isso aqui para mim é como um clube de fundo de quintal, venho todo dia. Só não venho na segunda, porque fecha para manutenção...”, conta um dos mais jovens, Pedro Luiz Saracino, 66, tomando sua cervejinha no balcão do bar.